Arrancando os muros


O maior mal que a pessoa pode carregar dentro de si mesma é a mágoa! A mágoa corroe lentamente todos os bons sentimentos e aniquila todos os bons momentos, ela traz a angústia e a dor, nos joga dentro de um tornado de tormentos infindáveis. Mas existe ainda o filho da mágoa, esse sim é amarguroso e amargoso, esse é mau-humorado, é triste e carrega um saco de bosta enorme em suas costas, o seu nome é RANCOR. O Rancor é capaz de detruir uma vida inteira quando não pode ser arrancado de dentro de um peito desconfiado.

Lembro-me de uma reportagem que vi há algum tempo na TV, que mostrou um exemplo muito bom do que a mágoa e o rancor são capazes de fazer com a vida de várias pessoas; O casal, já idoso, não trocava uma só palavra, toda a comunicação era feita através do filho, que repassava as falas do pai para a mãe e vice-versa:

_Eu tava querendo um pedacinho de bolo.

Resmungava o pai para o além.

_Mãe, o pai ta querendo um pedacino de bolo!

Repetia o filho, mesmo que a mãe estivesse presente e já tivesse ouvido o sussurro do marido. O pior é que esse drama tinha exatamente a idade do filho, que acabou servindo de intermediário desse casal, separado pela mágoa, pelo rancor e pelo silêncio.

Quando o filho nasceu, o pai começou a desconfiar da esposa, pelo fato de o filho ser muito mais claro que ele, isso gerou brincadeiras e mágoas. Atormentado pela dúvida e pelo rancor, o homem nunca mais falou com a mulher e viveu uma vida inteira triste e amargurado, assim como a esposa ofendida e injustiçada, e o filho, pobre vítima da ignorância.

Quando eu era adolescente, sentia que havia uma barreira impedindo os meus sentimentos de se externarem. Isso era dolorido, não conseguia chorar, não conseguia gritar, só conseguia amarrar aquela dor, aquele ódio, cada vez mais dentro de mim, a ponto de sentir que o meu peito explodiria! Sentia que um monstro queria sair de minhas entranhas, um monstro que me corroía, me incendiava e me queimava, sem que eu encontrasse ânimo para apagar todas as suas chamas.

Depois de algum tempo, percebi que eu poderia viver melhor com todos, que eu não precisava e nem era bom que eu guardasse rancores por coisas sobre as quais nem eu mesma tinha controle, era um desperdício de tempo e de vida. Foi difícil remover as mágoas, os costumes, os complexos e o muro, mas lentamente estou conseguindo. Quando algo me põe em dúvida ou me desagrada, procuro expor os meus sentimentos imediatamente, não quero mais levar isso dentro do meu peito. Agora tento não ficar mais remoendo coisas que me maltratam, criei um botão delete na minha mente e no meu coração. Procuro enxergar as pessoas, todas elas, como seres incapazes de controlar tudo, e que às vezes não têm consciência da imensidão do mal que podem estar me fazendo. Imagino que elas ignoram, e realmente é verdade, tudo o que se passa dentro de mim, todas as minhas expectativas em ralação à elas, e toda a frustração que elas podem estar me causando. Não sei se posso dizer isso, mas as perdôo, pois não sabem o mal que me fazem! E as que sabem, não perdôo, somente as apago, não as desejo mal, simplesmente não às desejo nada.

Assim aprendi a ir me purificando.Falta muito ainda, Ô, se falta! ,quando olho para trás, vejo que a menina rancoroso e fechada está ficando cada vez mais e mais distante, graças à Deus!

Comentários

  1. Lu, boa reflexão. A mágoa não é mesmo coisa boa. Trava toda a nossa vida, porque nos transforma em vítimas e quando prestamos bastante atenção notamos que mais do que vítimas de quem nos tenha feito qualquer coisa, tornamo-nos vítimas de nós mesmos. Algumas pessoas irão nos magoar ao longo da vida e nós também magoaremos tantas outras, até mesmo sem perceber, mas não damos conta de nós com o acúmulo de cada uma dessas mágoas ao fardo, já tão pesado, de nossos dias. Abraços querida! Adélia Carvalho

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