As pessoas adoram postar memes, piadas, que brincam com a maternidade e a situação da mulher dentro da família; todos acham graça porque se identificam com os personagens, com a mãe que reclama, que ameaça abandonar tudo, que tem ataque de fúria, que, enfim, se queixa de sua exploração, ou se identificam com os filhos e os maridos que compartilham o mesmo ambiente. Todos riem-se como se tudo aquilo fosse o natural de cada ser daquela narrativa, ou seja, o reclamar e o não se importar. O que está implícito é a tremenda desigualdade nas relações existentes que aos poucos vai destruindo a sanidade da mãe/esposa/quase-ainda-mulher, e que a transforma em chacota, chata, ranzinza.
Essa Bruxa reclamona tem uma história; ela sonhou em ser uma atriz, ou advogada, ou caminhoneira, mas os sonhos de todos os outros vieram antes dos dela. Ela precisava de uma família e o marido também precisava dela, os filhos precisavam dela, a casa precisava dela. A comida precisava estar na mesa na hora em que todos chegassem, a casa precisava estar limpa, os animais tratados, as compras feitas, os pequenos aprontados e educados. Não havia tempo para ser mulher.
Talvez a culpa tenha sido dela, por não ter conseguido o esclarecimento sobre a definição de papeis sociais, ou seja, de que eles foram arranjados de maneira em que ela não os percebesse em sua plenitude e consequencias e até almejasse com todas as forças estar alí, servindo a todos, como uma verdadeira mulher deveria ser, carinhosa, amorosa, abnegada e vivendo em função dos outros. Uma mulher deveria ser assim: Doce, meiga, amorosa, apegada à família e vivendo apenas em função do crescimento dos outros, como já diziam os antigos manuais de senhoras e senhoritas direitas.
E esse pedaço de gente esfarrapado, que anda para lá e para cá como se fosse um robô de limpeza que roda pela casa, com roupas respingadas, pano de prato nas costas e cheiro de alho nas mãos, vive apenas para ir limpando os rastros que os outros indivíduos deixam por trás deles mesmos, e cada vez, por mais tempo de vida. Ela é o aconchego, o lugar da comida, da roupa lavada, da cama quentinha e limpa, mas nunca é o lugar de interesse de ninguém. Quem olha para o tapete da sala?
Quando há avanços e algumas percebem que estão sendo dilaceradas nesse papel familiar, outras se levantam com falsos discursos sobre a feminilidade, sobre papeis de homem e de mulher, que são exatamente esses descritos. Além de tudo, a mulher tem que ser linda, feminina, desejável, o que quase nunca acontece devido a impossibilidade material dos fatos, mas que algumas modelos falsas deste estilo anos 50 de vida propagandeiam e espalham junto com seus valores familiares e sociais sem esclarecer que possuem empregados e babás para fazerem todo o serviço que elas pregam que a mulher deveria fazer. Bastionas da hipocrisia machista.
E nesse vai e vem de valores, 99% dos trapos humanos pobres da sociedade ainda são alvo de piadas por estarem exauridas, humilhadas e desvalorizadas, por já terem deixado de serem pessoas, mulheres, e se tornado um meme da chatice humana.
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