Aquela pessoa, tão pequena, olha para os adultos e pensa que está protegida. Ela ainda não sabe de nada, não entende quem são os deuses adorados por seus pais, ou por que tem que sorrir, se calar, ficar quieta em determinadas horas, ela só sabe que quer apreciar e descobrir o mundo. Ela quer correr atrás das borboletas coloridas, caçar seus ovinhos e alimentar as lagartas até que elas se transformem em borboletas novamente, é um milagre. Esse pequeno ser, de olhos grandes e expressivos, não sabe esconder, ainda, seus sentimentos, tem medo, tem desejos e precisa de alguém que o carregue no colo, beije seus machucados e diga que tudo vai ficar bem, porque ele realmente acredita naquelas pessoas que cuidam dele. Esse ser, a que chamamos de criança, tão fofo e inocente, deseja crescer e salvar o mundo, ou se tornar um médico, um jogador de futebol, um Youtuber, ou qualquer outra coisa que pareça relevante em seu mundo ainda em formação. Essa criança ainda não tem crenças, certezas, ela só deseja acordar e sair para encontrar o dia, descobrir, se divertir e crescer. Ela quer comer aquele doce favorito com gosto de afeto profundo que sua avó prepara, quer correr com o pai, quer o beijo da mãe. Ela ainda não sabe ler, mas inventa significados e sons para o que parece ser palavras. Quando ela vê seus amiguinhos, ou seus pais chegarem, ela dá risadas sonoras e corre com alegria genuína, porque ela está viva e apenas ama. Essa criança é apenas uma criança, como outra qualquer.
Em Gaza, não há crianças, há a escória da humanidade, é o que pensam os sionistas que bombardeiam diariamente meninos e meninas que estão em busca de farinha cheia de sangue de seus familiares, espalhada pelo chão, para não morrerem de fome. Todos os dias, pais beijam as cabeças de seus filhos separadas de seus corpos, ou carregam pedaços deles, ou ainda, crianças choram ao lados dos destroços de seus pais sem saber o que lhes resta em meio à destruição total. Neste lugar, as crianças estão morrendo de parada cardíaca por estarem sem dormir há meses e por medo constante. Todo o seu povo está sendo tratado como lixo que deve ser expurgado de suas próprias casas, só porque alguém acha que seu deus é o único e que este deus concedeu-lhe direitos inalienáveis. Esses meninos e meninas só sabem que não podem ficar na terra que sempre foi de seus antepassados, terra em que eles viveram, trabalharam e construíram o que hoje encontra-se em ruínas. Dizem todos ser terra santa, na verdade, é uma terra amaldiçoada que está sendo disputada para servir de prostituta dos milionários e dos poderosos. O direito deles, o dos assassinos, também se diz legítimo porque foram vítimas de genocídio e, para se recuperarem do passado, atuam como seus algozes no presente praticando outro genocídio.
As crianças de Gaza, se crescerem, vão se lembrar de que não havia ninguém para beijar suas pernas arrancadas, suas queimaduras de terceiro grau, que não havia quem preparasse as guloseimas e que não havia como prepara-las, não havia nada além da fome e da dor. Elas não viram borboletas coloridas, só viram destroços e as únicas cores de suas vidas foram o cinza e o vermelho. Os pequenos não foram protegidos, não tiveram quem os cobrisse na noite fria, não sabiam o que significava futuro além dos minutos que se seguiam em busca da sobrevivência. Essas crianças são vistas como animais perigosos pelo mundo e ninguém ficou ao seu lado. O mundo, ainda assim, quer que, se sobrar algum palestino, este seja grato pelo genocídio, pela expulsão de toda a sua comunidade e que não se revolte por terem arrancado tudo dele e mutilado seu corpo e sua alma.
A vida fora de Gaza segue, com seus conflitos do nosso tempo, mas com as pessoas se recusando a olhar para a realidade daquelas crianças, porque, sim, ela é horrível e machuca os olhos demais. Nossas crianças estão a salvo em nossas casas, compramos chocolates para elas quando vamos ao mercado, apenas para ver aquele sorriso de felicidade, mas as crianças dos outros estão sozinhas, queimadas, mutiladas, esfomeadas e desesperadas por um olhar de afeto e de salvação.
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