O amor não é para todos, o respeito, deveria ser.



Eu sou uma pessoa que tem cuidado com as palavras e pego "ranço", como dizem alguns. As pessoas utilizam as palavras sem pensar sobre elas, na maioria das vezes, mas, algumas vezes, acolhem intencionalmente os modismos por algum valor que desejam adotar para si, assim as palavras ganham novos sentidos, como, por exemplo, na adoção de palavras de carinho que usualmente utilizamos com pessoas intimas; essas palavras ganharam o valor de atenção, de bom atendimento e de eficiência, por este motivo, pessoas desconhecidas que trabalham em comércio tomaram a liberdade e o hábito de nos chamar de "meu amor".

Eu não controlo, quando entro em uma loja e a atendente fala: "Tudo bem, meu amor?", eu sinto um ranço tão grande, meu corpo tem vontade de se retorcer, quase não disfarço minha careta. 

"Querida", "amor", "bem", "flor" e similares viraram o modismo do suposto bom atendimento.

Outros modismos relacionados ao mundo da "iluminação espiritual" são palavras como "gratidão", "gratiluz", "afeto", além de termos como "escuta sensível" e por aí vai longe. Há toda uma teoria, esotérica e até mesmo acadêmica sobre o sentido destas palavras em relação ao sucesso da educação e da humanidade.

A propaganda do Itaú, apesar de ser o pior exemplo que podemos ter para falar sobre o bem da humanidade, disse uma coisa que defendo há muito tempo, a palavra "respeito" vem antes de tudo. Soa um tanto clichê, como "paz e amor" (que odeio profundamente), mas é essencial que a humanidade adote esse valor para que possamos sobreviver.

Não, "querido", não preciso ser amada por todos, nem, tampouco, amar a todos. "Não amar" não significa odiar. Não preciso do afeto, seja simbólico ou físico de todos, nem quero dar afeto a todos. Ninguém vive de amor.

Respeito. O que é respeitar? É ter a certeza de que qualquer outra pessoa tem os mesmos direitos que eu e saber que todas elas, as pessoas, são diferentes e que suas diferenças só devem ser consideradas quando precisarem de apoio para atingirem as mesmas metas que todos. É tratar a todos como gostaríamos de sermos tratados, com atenção e educação. Pronto, o mundo estaria salvo.

Respeito é não humilhar, trapacear, mentir, enganar, ludibriar, maltratar, machucar alguém por prazer, desejo de obter vantagem ou por considerar-se superior; respeito é ouvir com atenção genuína o que o outro tem a dizer e considerar suas dores. Respeito é ajudar a propiciar um ambiente aberto para aqueles que queiram entrar. Respeito é também não forçar sua entrada, presença, afeto ou amor a quem não deseja a sua interferência em seu espaço privado físico ou emocional. Respeito é não invadir.

Há expressões que, utilizadas a "Deus dará", ou em situações inapropriadas, nos invadem inapropriadamente, são palavras intrusas, gosmentas, fedorentas que nos fazem mal porque, apesar de tentarem significar outra coisa, significam uma terceira.

Quanto a essa moda "hippiesta chique" que ronda por aí de "luaus", "amores", "aulas de afeto", "queridos", deixo o meu profundo desapontamento pelo rumo da humanidade, que vai continuar no mesmo buraco da desigualdade capitalista que se apropria de todos os modismos para continuar perpetuando a miséria da maioria.  

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