O sentido da vida e da escrita

 


A pandemia me tirou a vontade e o jeito de escrever. A pandemia, o mundo, a humanidade. 

Escrevia sempre por esperança. Tinha esperança de que alguém lesse e se identificasse com os meus pensamentos, esperança de que as minhas reflexões pudessem adicionar algum sentido para a vida, minha ou de outro, esperança de que algo se transformaria. Escrevia também para expurgar os demônios, as dores, as rejeições, as indignações. 

Eu tinha a esperança de escrever um livro, e meu blog vai virar um livro, em breve; porém, parece não haver mercado para nenhum tipo de autor que não sejam aqueles que pegam velhas fórmulas para escrever alguma coisa de autoajuda, negacionismo ou outro tipo de picaretagem. Os jovens pensam que não precisam mais aprender história, ou qualquer coisa, pois o "Google tem tudo". As pessoas tem preguiça profunda de ler algo com mais de três linhas, isso quer dizer que, se alguma alma começou a ler este texto, não chegou até aqui, ainda mais em uma plataforma tão antiga como o Blogger. Escrever quase perdeu o sentido para mim, quase, porque aqui estou.

Muitas coisas perderam o sentido. Caminhando pelas ruas ou andando de ônibus, vejo pessoas de todas as idades, indo para algum lugar para realizarem algum trabalho; os de pele enrugada trazem em suas expressões a carga de inúmeras decisões, caminhos errados, amores perdidos, talvez fome, dor, perdas, queimado de sol. Os jovens caminham cheios de futuro e entusiasmo pela vida, algum brilho no olhar ao se remeterem a um amor possível, platônico, ideal. Alguns tem ódio. Muitos. Olho para toda essa gente que nada e tudo significa para mim. Nada, porque seus destinos, de todos,  não estão atrelados ao meu, se morrerem, a mim, não causará espanto, assim como acontecerá se eu morrer aos outros viventes. Mas, todos me importam no sentido de que são seres humanos como eu, e que possuem sentimentos, desejos, dores, e pouco tempo de vida, como eu. Gostaria que a humanidade se respeitasse.

Caminhar pelas ruas não tem sentido. Ir para algum lugar onde se fará algo que nada signifique para ganhar dinheiro que não paga o que se precisa; tomar todo o tempo rodando como uma barata pisoteada pelos dias, a espera de algum alívio, paz, novidade, é o que se naturalizou para a humanidade. Barata pisoteada sem esperança de endireitar as asas, o mundo, a vida. O mundo parece o mesmo de milhares de anos atrás, quando as pessoas já se dominavam, se odiavam, se escravizavam, se matavam em nome de qualquer porcaria inventada. Não, Hobbes, não, Rousseau, Não, Marx, Foucault, não! Somos capazes de descrever, mas será que somos capazes de compreender o motivo pelo qual o ser humano sempre age como se estivesse em alguma dessas distopias? Alguns pensam que sim.

Eu gostaria de encontrar, de novo,  algum sentido. Sentido para me levantar e me sentar aqui e dizer algo; sentido para continuar a fazer todos os dias o que devo e não o que gostaria, sentido para não ter tempo e olhar os lírios do campo. Gostaria que a humanidade não naturalizasse uma vida miserável assim como naturaliza o capitalismo, aliás, essa vida miserável é o capitalismo. Por que naturalizamos algo tão terrível? Para viver, sobreviver. Mas isso lá é vida, ter que provar a todo o momento que somos bons, bons o bastante? Conquistar títulos para fazer uma listagem no Lattes? Comprar diamantes e expor a vida na internet? Ter vários parceiros emplastificados? Posar com armas? Xingar o outro que é diferente? Nunca ter tempo livre, porque se realiza milhares de trabalhos? Cuidar da vida de todos?

Nada tem sentido neste sistema. Espero encontrá-lo, o sentido, novamente.



Comentários

  1. Um texto muito claro , mostrando o lado triste e chocante de uma realidade devastadora , que foi a pandemia , ignorada perversamente pelo governo que está saindo . Também faz referência ao lado cruel do capitalismo , e suas mazelas .

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  2. o tempo, transforma, renova... procurar sentindo em estar em paz sendo util, a quem se apresentar em seu caminho, pois cada nós traz uma lição e oportunidade de sermos melhores, aí está o caminho... o caminho é a resposta!

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  3. todos os dias acordo sendo grato por tudo, mesmo não tendo nada de aprazivel a status, porém quem nasceu como gado sem pasto, procura qualquer coisa como alimento... sem amor nada sou, e nada posso retribuir, seja luz

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