A "re-volta" das escolas estaduais mineiras


Ninguém foi enganado quanto aos representantes políticos que elegeram, pois todos sempre deixaram escancarados os seus objetivos, dentre os quais estavam a privatização da educação e a retirada de direitos trabalhistas. 

Os professores da rede estadual já vinham sofrendo com atrasos de salários, que já são baixíssimos e não chegam ao teto estabelecido, além de toda a precariedade no trabalho da qual se fala diariamente há décadas no Brasil. O que também passou a fazer parte de todos os discursos é o ódio irracional que foi plantado para a classe docente, de todos os níveis, especialmente aos das universidades, que de indivíduos que detinham conhecimento passaram para vagabundos. A campanha de desmoralização dos educadores e das instituições educacionais servem muito ao propósito de grupos empresariais que acabaram perdendo muito com a possibilidade gerada pelos investimentos na educação pública, que lhes tiraram grande parte de "consumidores". 

Transformaram a imagem das universidades tornando-as espaços de depravação e desperdício de recurso público, transformando os profissionais da educação em pervertidos, elitistas e privilegiados; adjetivos que foram abraçados por grande parte que não faz ideia da importância das universidades publicas e por aqueles que não possuem a capacidade de entrar em uma delas, além daqueles que atribuem à todas as universidades públicas um viés político que desagrade, como se a universidade fosse uma coisa homogenia e andasse por ela mesma.

Então, vivemos em um mundo onde os valores foram invertidos e as pessoas passaram a adotar frases como "menos direitos e mais empregos". Os ignorantes, de todos os níveis, clamam por serem explorados, por terem uma educação que lhes proporcione apenas a capacidade de apertar botões, como se tivessem nascido em uma casta e não pudessem almejar ser outra coisa além de operários que trabalham fabricando coisas e ideias, pelas quais poucos empresários receberão fortunas e estes, os operários, receberão apenas um mínimo salário que não permite que ele consuma o que produz. E viva a reprodução de empregos para comprar o pão de milhões que sustentam o caviar de poucos!

O que esses poucos não vêem é que a educação é uma espécie de objeto ou espaço onde quem tem poder, quem é rico e manda em tudo, pode controlar as ideias, as pessoas, os discursos, o que as pessoas almejam; a educação pode fornecer valores aos indivíduos, e os valores são a base das formações sociais. Os valores que prevalecem hoje são os capitalistas, ou seja, valorizamos possuir coisas, sonhamos em ter as mansões dos jogadores de Free fire, do Felipe Neto, ter colares de ouro, fazer viagens luxuosas, comprar um Iphone, como se tudo isso fosse essencial para a vida. Esses são os nossos valores, e é por isso que todos nós adotamos os discursos que nos colocam onde estamos, na base da pirâmide do capitalismo, sonhando em passar para o topo.

Nossos governos estão sendo conduzidos por esses que estão no topo e que querem que o sistemas continue como está. Através de suas redes de comparsas políticos, almejam transformar as bases educacionais, formatando indivíduos incapazes de questionar, de ter pensamento crítico, mas prontos para trabalharem para o capital. Só estamos nos esquecendo de que as formas de trabalho também estão mudando, talvez não haja espaço para indivíduos incapazes de questionar e de pensar criativamente.

Pois bem, o plano de governo do tal Zema era claro. Vamos analisar alguns pontos:

 ● É necessário trazer soluções do sistema de ensino privado às escolas estatais; 

De que tipo de soluções estamos falando? Como a escola privada se equipara às escolas públicas? 

 ●Conferir maior liberdade às escolas e aos indivíduos, priorizando apenas conteúdos básicos essenciais, como português e matemática; 

O que acontece é o inverso, pois o governo implantou um sistema unilateral, onde não há conversa com a entidade escolar. Quando ele diz que a escola e os indivíduos precisam de liberdade, ele quer relegar a responsabilidade e a maturidade para realizar escolhas na educação à crianças e adolescentes. Quando ele diz "priorizar" português e matemática, propõe uma estrutura de ensino que forma operários capazes de ler, escrever e somar, não de pensar criticamente e tomar escolhas conscientes de seus direitos e de seu papel social;


● Quanto menor a interferência estatal, melhor é o desempenho das escolas; 

Está claro! privatização escolar!

● Realocar de forma inteligente os recursos, a fim de aumentar o resultado médio do estado no desempenho educacional; 

Podemos entender aqui, depois de tudo o que foi dito, que a intenção é a de realocar investimentos para o domínio privado, ou seja, privatização!

 ● Os alunos devem ter maior liberdade no aprendizado; 

Aqui sugere que o aluno não precisa estar no espaço escolar e deve ser o seu agente da aprendizagem, ou seja, ensino a distância para crianças e adolescentes;

● A carreira dos professores deve ser pautada por indicadores de desempenho e satisfação dos pais; 

Agora serão os pais "profundos conhecedores das teorias educacionais" que avaliarão os professores, se não gostarem do que acham que deveria ser o ensino, podem dar nota zero para a escola e para o professor;

● Os diretores devem ser escolhidos tecnicamente; 

Eleições indiretas e indicadas pelo governo;

● Ensino rural personalizado e de qualidade com a utilização da expertise e da capilaridade de entidades públicas e privadas;

Dinheiro público para a esfera privada.

Portanto, se você é professor de escola pública e votou nesse indivíduo, é no mínimo desinformado.

Pois bem, as coisas iam vindo de mal a pior, professores sem receber, sem direitos, muitos em greve e outros também caminhavam para a greve, quando no dia da paralisação, dia 18 de março, entramos todos em quarentena por causa do Covid-19. Depois de dois meses, sem que houvesse uma conversa com as escolas, os professores, os pais, ninguém que interessasse, o governo de Minas determinou a volta às aulas. Nem mesmo os diretores estavam cientes de tal decisão, vindo saber através da imprensa. Então, na segunda feira, botaram aulas na internet, na televisão, fizeram apostilas terríveis e mandaram que os alunos imprimissem, e recomeçaram as aulas. Mandaram que alunos e professores acessassem um aplicativo que não tem nada e pronto. Teoricamente, os alunos da rede estadual estão tendo aulas. Os professores não possuem um canal de comunicação, não receberam informações, só foi escrito que o aplicativo teria uma nova funcionalidade para essa comunicação com os alunos, o que não aconteceu. Resumindo, o professor e a escola são desnecessários nesse sistema de educação online, embora tenham que fazer relatórios de suas atividades inexistentes por falta de orientação e estrutura.

O problema é que os profissionais da educação são obrigados a criarem alternativas para entrarem em contato com os alunos e tentarem oferecer o mínimo de auxilio possível, mas muitos também não dominam as ferramentas da internet e nem tampouco possuem os contatos de seus diversos alunos de diversas classes. Alguns disponibilizaram seus números pessoais para entrarem em contato com os alunos. O que isso quer dizer?

Primeiramente, o professor está sendo obrigado a criar recursos, gastar sua internet, e principalmente, perder sua privacidade e doar todo o seu tempo para o trabalho, ou seja, o professor passou a pertencer ao trabalho, não mais apenas aquelas horas que foram designadas. O problema é que, a partir do momento que o professor cria essa prática, ela torna-se regra.  Mas, além de tudo isso, é clara a impossibilidade de que a maioria dos alunos tenham acesso a internet, às informações, e administrarem seus próprios estudos, como querem. O IBGE diz que 30% dos domicílios não tem internet no Brasil. A realidade é ignorada.

Os poucos que possam ter essa possibilidade e essa capacidade serão beneficiados, enquanto que os outros continuarão onde estão.

E, conspirando, imagine se daqui a algum tempo eles "comprovem" que esse sistema foi efetivo, o que será que acontecerá com a educação? Qual será o motivo para continuar gastando dinheiro com prédios e funcionários se a educação pode ser feita em casa, pelos pais, enquanto que os fundos vão para organizações privadas que ficarão a cargo de gerir a educação?

O governo comemora mais de um milhão de visualizações nas videoaulas. Parabéns.

Enquanto os professores, que outrora foram chamados de sábios e mestres, perdem a dignidade, a privacidade e o tempo de vida, ganhando uns míseros reais, a educação de nossos filhos caminha por uma estrada escura, igual aos tempos em que vivemos. Está na hora de se ligar!


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