Os velhos sempre temem o presente pelo futuro e idolatram o passado,
Dormem no travesseiro da juventude e descansam na cadeira da infância.
Os velhos temem as novidades e os novos modos de vida,
que sempre são novos depois que crescemos.
Os velhos e os jovens, insatisfeitos, sonham com uma realidade que os agrida menos,
que os conforte, uma realidade mais sabida.
Sinto-me velha. Sinto-me exausta.
Não é por causa da quarentena que nos confinou, não é por causa da ignorância que nos assola;
não é por causa do número de coisas e gentes,
não é de hoje que estou velha.
Aterrorizam-me o presente e o futuro. Sinto muito ódio. Ódio do que vivemos.
Tenho vontade de pegar uma carroça e ir para um tempo em que a internet era uma ferramenta,
não matéria mais importante que água.
Não suporto mais ver todos acoplados a seus celulares, incapazes de defecarem ou lavarem um prato sem segurá-los ao mesmo tempo; parece que ninguém tem paz na vida, todos estão em constante busca,
todos estão drogados, e procurando mais e mais pela droga.
Por que ninguém consegue mais sentar-se consigo mesmo, ou com o outro, sem pensar em recorrer ao aparelho?
Por que a memória ou as suposições tem que ser o tempo todo interrompidas e reafirmadas por mídias cibernéticas? Tudo é desculpa para um naco de droga.
Sou velha porque também já fui drogada. Já perdi no mínimo uns cinco anos da minha vida dependendo da internet para levar o meu dia. Fui encantada com as possibilidades de comunicação, entretenimento e de conhecimento, mas fui inundada pelo lixo. Há anos em minha vida dos quais não tenho lembranças; estava viciada na frente de uma tela.
Preciso de cuidado. É muito fácil, mesmo sendo velha, sucumbir a uma droga tão poderosa, que traz e dá tudo, ao menos é o que pensamos. Quando vemos, já estamos deixando os "fatos pelos acontecimentos".
Profundidade e intimidade carecem de tempo, atenção e ócio. Estamos cada vez mais distantes do mundo real, o "de pegar", e gostamos disso.
Sou uma velha e tenho ódio. Ódio porque não posso controlar e temo ser obrigada a sucumbir ao vicio por causa da luta solitária. Ou viro uma velha ermitã que quando morrer, não deixará nada escrito, a não ser essas tolas e "inlidas" palavras nesse tolo e ultrapassado blog.
E, mesmo longe de nossos trabalhos e das ruas, a mudança é pouca, porque não estávamos lá. E não sei se algum dia voltaremos.
Bingo... alguém mais sábio que eu tem uma frase que diz algo como “já nasci velho e decrépito” procurei no Google o autor e milagrosamente ele não sabia quem era.
ResponderExcluirEu não me envergonho de não ser do meu tempo, de não saber fazer “live” de não responder imediatamente mensagem de WhatsApp.
A regra é: se é urgente, ME LIGA, mas já perceberam como o celular é cada vez menos usado para ligações ? Logo tirarão essa função inútil, aí sim eu estarei fora de moda e isolada.
Isolamento social só se deu na forma física, como muito bem escrito no texto, já não estávamos lá mesmo.
Mídias sociais são ladras do tempo, eu não estou imune a elas, mas me vigio também, é fácil cair na espiral e dela não sair mais.
Eu não sei se emito “ondas de ódio” mas sou uma boa receptora: sinto o ódio no ar, o tempo todo alguém está odiando outrem.
Não sei se os jovens são assim, não sei se eles sofrem esse dilema ou têm consciência da vida virtual que eles vivem. Nós procuramos conforto no modo da antigo, mas pra minha vergonha me lembro que o eu antigamente tentava se inserir no mundo moderno que hoje nos incomoda. Minha velhice pode ser categorizada no nível “pronta pro funeral”. #@velha
Adorei ... queria te conhecer ...
ResponderExcluirVisão fantástica e realista... obrigado por compartilhar isso ... grato . Havelange Teixeira.
Obrigada!
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