No fim de semana passado eu fui ao Rio. Fui de bate e volta, como dizem. Confesso que tenho um pé atrás com essa cidade, por vários motivos, um deles é pela disseminação midiática dentro e fora do Brasil sobre a "sobrenaturalidade" dela. Eu não gosto de hipérboles. Eu não gosto de senso comum, nem de unanimidades, apesar de saber da importância dessa cidade para a nossa história e cultura. O centro do poder se instalou lá, e de lá e por lá se fizeram grandes "evoluções" desde a sua descoberta e, sobretudo, a vinda da família real. O conjunto de morros com o mar também é belíssimo, concordo. Ótimo para se visitar. Museus maravilhosos, paisagens, arquiteturas, cenários de filmes, história, Cristo, multiplicidade, biscoito Globo, tudo maravilhoso.
O calor é terrível. O vapor sobe do concreto por baixo de nossos pés e nos assa, sem contar o cheiro terrível de esgoto que vem de todas as partes, assim como o da urina dos sem-teto pelos chãos, que se lavam pela manhã e deixam tudo molhado. Ninguém se importa com os miseráveis coisificados em meio aos "internados" que vão para as empresas. Em Copacabana a areia é suja, tanto lixo que aquelas máquinas não dão conta de limpar e, parece que pela existência delas, não se importam em jogar tudo pelas areias. As pessoas... Essas são lindas, como todas as pessoas do Brasil. Falam sem rodeios e chiam os "esses", lutam, trabalham como podem e com o que podem, nas praias, nas ruas, nos comércios, nas empresas. Uma cena nos chamou a atenção, a de um rapaz com o seu rádio, fazendo uma "live", cantando sucessos sertanejos na areia e mostrando como estava feliz. Milhares de ambulantes cruzavam o horizonte. O sol se punha.
O mar. O mar é o que salva essa gente.O mar enleveia a vida dessas pessoas da cidade de pedra, das desigualdades. O mar traz a brisa e a noção de como somos pequenos e de como a natureza é gigante, nos conectando a ela; ele nos limpa apenas em olhar para ele. O mar salva esse povo.
Assim como as montanhas, por vezes, sufoca a nós mineiros, prendendo-nos em uma ambiente limitado, sem horizontes, deixando-nos encolhidos e acabrunhados, e, no caso de Ouro Preto, mofando-nos, o mar vem e liberta-nos a alma.
Muitos, talvez, não gostarão das negatividades que apontei aqui. Mas, em todos os cantos do mundo há negatividade, como em São Paulo. São Paulo, ao menos a pequena parte que vi, é triste, pesada e fria. As ruas estão apinhadas de moradores que nada possuem, vivem para o agora. São Paulo não tem mar. Eu não sei o que salva aquela gente. Deve haver algo. Não sei.
Ouro Preto Também não tem mar. É mofada, úmida, às vezes triste e melancólica. Ouro Preto não tem horizonte, mas também tem muita gente boa, é colorida e diversa; ainda não conseguiu se tornar pesada, nem fria, nem dura. A juventude da alegria e a velhice da fé é que salvam Ouro Preto.
Na verdade, o que salva o povo é a fé, a alegria, a esperança e a conexão com algo superior. O mar tem essa capacidade, pois quando com ele nos deparamos, nos damos conta do nosso verdadeiro tamanho e de nossa impotência diante do universo; sua beleza e sua grandiosidade nos fazem refletir sobre tudo o que existe, sobre a natureza, sobre nossa própria existência, isso nos traz fé. A experiência disso tudo nos traz alegria. O nosso contato com essa instancia nos faz sentir que estamos conectados com tudo o mais, com a natureza, com o universo, ou com Deus, como queiram.
As cidades não são maravilhosas, mas ainda há beleza nelas. E, nessa aridez em que nos encontramos, espero que ainda haja mares lindos e despoluídos para nos salvar por muito tempo.
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