Eu não sei se sei o que é amar.
A cada década um tipo de relacionamento emerge como modelo ideal e os antigos passam a ser vistos como armadilhas sociais. Hoje li uma reportagem que falava que o ser humano não é naturalmente monogâmico, que somos monogâmicos porque somos pobres, ou seja, ter vários parceiros seria dispendioso e problemático. O caboclo disse que pesquisou diversas civilizações (penso que foram algum tipo de tribo, pelo que descreveu), e concluiu que em comunidades em que há menos tabus relacionados a sexo, há mais paz. Deram um exemplo de uma sociedade matriarcal, em que as mulheres decidiam com quem e quando iriam ter relações sexuais, escolhendo um dos objetos que eram inseridos debaixo de sua cabana (pauzinho, caquinho, sei lá o que mais).
Alguns disseram que a monogamia foi o que permitiu que o homem evoluísse e chegasse onde está. Muitos concordaram com a teoria da poligamia.
Inventaram o amor romântico, mas depois descobriram que lá na Grécia antiga uma homossexual já escrevia sobre o amor com características românticas, poesias cheias de idealizações e sofrimento. Ciúmes existem onde existe o ser humano. Paixão também, e foi a paixão a responsável pela maioria dos atos e construções faraônicas que ainda estão de pé na humanidade. Mas, alguns argumentam que paixão não quer dizer exclusividade sexual. Outros dizem que amam, mas não desejam sexo, outros que apenas desejam sexo se existir uma conexão intelectual, e ainda, alguns, desejam sexo com crianças, idosos, objetos e até cadáveres. Nada é simples para a raça animal humana, porque criamos símbolos, significâncias.
Não vale utilizar comportamento de outros animais, cada animal possui seu comportamento, tanto que uns são monogâmicos e outros não. De acordo com o tal cientista, os que são, é devido às dificuldades de sobrevivência, que os obrigam a terem apenas um parceiro por toda a vida. Já os bonobos fazem sexo o dia todo, todos com todos, de todos os gêneros e idades. O que isso nos diz? Jesus sabe.
Será que se todos vivêssemos no mundo comunista de Marx, seríamos todos poligâmicos, já que existiria a igualdade e não precisaríamos lutar contra a exploração? Será que se eu ganhar na megasena me tornarei uma devoradora de homens?
O moço estudou as comunidades e tirou uma conclusão. Não conheço seus métodos científicos e suas bases, mas como afirmar que apenas a variante sexual seja responsável pela paz dos indivíduos dentro de um universo social? Gostaria de compreender.
Dizem que amor romântico escraviza as mulheres. As letras das músicas atuais exaltam a traição, a farra, os prazeres imediatos, esses são os valores atuais. Os de ontem eram o do sacrifício, da sublimação, da submissão (para as mulheres, geralmente).
O que é amar?
Embora haja todos esses papos sobre o amor desde que o ser humano criou a palavra, amar para mim tem a prerrogativa da verdade. Só é possível amar verdadeiramente alguém a quem você conhece, a quem você olha e enxerga, nu e cru. Viver fingindo de ser outro é cansativo e destruidor.
Amar não é só sossego, porque quando amamos estamos vivos e nos importamos com o que o outro é, faz, significa. Quando nada naquele ser nos move, não existe amor.
Amar é decisão. é decidir ficar juntos, de mãos dadas, cobrindo um ao outro, mesmo que não queira olhar para o outro em algum momento irritante. É contrato, porque vale a pena;
Amor é crescimento. É saber que todos são irritantes, loucos, entediantes, chatos, tudo isso em assuntos diferentes. Crescemos quando paramos de procurar a perfeição e aprendemos a lidar com as diferenças que não nos são ofensivas, opressivas e prejudiciais;
Amar é sentido. É gostar de sentir o calor, o cheiro, a voz, a pele, o olhar do outro. É não deixar que a vontade de devorar se acabe;
Amar é estímulo. É quando o outro sempre traz algo de novo e nos permite refletir até mesmo sobre as nossas certezas mais enraizadas. É provocar discordâncias tolerantes que nos levam a outro lugar.
Amar é diversão. É se permitir largar-se no mundo, vendo as coisas simples e bobas, admirando a arte, rindo, dançando, voando juntos na imaginação;
Amar é cuidar. cuidar para que o outro esteja bem, e que a relação seja sempre proveitosa, com a ciência de que tudo acaba, e que amanhã o outro pode não estar mais aqui;
Amar é tudo isso e muito, muito mais. Sexo está no meio disso e é estimulado por tudo isso. Não conseguiria ter isso tudo com vários amores, eu acho, e não gostaria. Por hoje, sou monogâmica poque sim, porque não preciso não ser. Fui doutrinada, dominada pela sociedade? Não sei. Mas esse amor verdadeiramente me basta em tudo.
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