Um antropólogo americano criou a expressão "comunicação proxêmica" para descrever o espaço entre os indivíduos no meio social. Esse espaço que tomamos em relação às pessoas tem relação com o nível de intimidade, assim como as regras que existem em nossa sociedade, ou seja, se diferenciam de lugar para lugar, em relação a gênero e outros fatores. No geral, de acordo com suas pesquisas, essa distancia corporal seria de:
- distância íntima: para abraçar, tocar ou sussurrar (15-45 cm);
- distância pessoal: para interação com amigos próximos (45–120 cm);
- distância social: para interação entre conhecidos (1,2-3,5 m); e
- distância pública: para falar em público (acima de 3,5 m)
O distanciamento físico não é o único fator que fala sobre a intimidade entre os indivíduos, a linguagem utilizada também nos revela em que pé são as relações entre essas pessoas. Ninguém chega a um desconhecido e diz "vem cá meu amor, você está lindo hoje, querido." Ninguém diz ao chefe "vai se foder, veado!" Apenas os amigos íntimos, masculinos se tratam normalmente de veados (embora tenha visto muitas meninas utilizarem o mesmo termo). Certos usos de expressões onde essas não cabem tornam-se invasores e desrespeitosos; o difícil é entrar na sintonia certa.
Feito esse preâmbulo, concentrarei em minha queixa atual:
Eu não suporto essa nova moda nos comércios ouropretanos de nos chamar de florzinha, amor e querida!
Sim, sabemos que os serviços em Ouro Preto recebiam reclamações, as atendentes não estavam preparadas para nos receber adequadamente com simpatia e respeito, por que também sabemos que muitos patrões não ofereciam nenhum treinamento, alguns tratavam muito mal seus empregados, mas não vamos exagerar. Bem tratar o cliente não é forçar um falso apreço ou intimidade, não é banalizar termos e destituí-los de seus sentidos, transformando-os em outros. O cliente não é seu querido, seu amor, sua florzinha, florzinha é o caramba! O cliente é, senhor, senhora, você, não é seu amante.
As pessoas confundem ser legal com intimidade. Ser legal é você não ignorar a presença do outro, ser simpático sem ser invasivo, oferecer ajuda quando necessário, não agir com arrogância ou ignorância, ouvir verdadeiramente o outro, e não tratá-lo como se ele fosse um dos mais íntimos contatos.
Detesto modismos. Não sou sua querida, baby! Amor o escambau! Florzinha é sua mãe.
Talvez eu que esteja fora da realidade com minha rabugentice, mas como analista do discurso que estou me tornando, sei que as palavras tem sentidos diversos, dizeres que estão além de nós mesmos, mas ainda não estou pronta para aceitar a banalização das palavras fundamentais e vê-las transformadas em adjetivos vazios e capitalistas.
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