Às vezes eu me sinto um zumbi nesse mundo; mesmo criticando a tudo e a todos que gastam 50% do seu tempo conectados a internet (ou mais), vejo-me escrava como todos eles, vivendo uma vida em outro mundo, um mundo mental, simbólico, caótico, virtual. Esse mundo me absorve, me exaure, me invade, me escraviza, me submete, me detém. E a cada dia que passa, somos mais dependentes dele, para todas as nossas realizações. Tudo vai caminhando fora enquanto ficamos sentados olhando em uma tela cheia de desinformações. Não vou mais falar sobre a metáfora Matrix, o que estamos vivendo parece pior. Sinto-me realmente como um zumbi, talvez seria a mesma sensação de estar drogada (não sei bem, sempre fui careta para essas coisas). A sensação é de estar suspensa e sempre em busca, ansiosa por alguma informação, novidade. Acontece que não absorvo nada, não reflito, não contemplo, não olho os lírios do campo. Mas, como não viver nesse emaranhado que se tornou nossas vidas?
Todos atualizam suas vidas frequentemente nas redes sociais, postam coisas que todos já viram ou não querem ver, desabafam, esbravejam, fazem graça, se expõem em busca de solidariedade, somos humanos. Queremos nos comunicar e ter atenção. Todos querem dizer, ser ouvidos, todos querem se indignar, querem elogios, flertar, todos querem fazer a diferença. Todos. Desde os semianalfabetos até os pós-doutorados, expondo suas opiniões e suas vidas magníficas, representando seus papéis sociais.
Zumbis. Eu fico imaginando as pessoas no meio de um protesto, por exemplo, parando para escrever textão sobre o protesto e publicar na hora em que estão protestando. Ou as donas de casa com os celulares na mão, comentando as fotos dos familiares e compartilhando vídeos engraçados, enquanto não deixam o arroz queimar. Imagino os estudantes nas salas de aula enviando figurinhas dos professores enquanto estes estão tentando lhes explicar sobre a Revolução Francesa. E aqueles funcionários bem remunerados, que a cada semana estão em uma cidade diferente, ou aquela mulher chata que fica postando foto no espelho todo o dia, dos papéis do doutorado, da comida, das roupas de academia? Para quem? Para mim não é, bloqueei as atualizações. Imagino Aquele casal que sai para ficar um tempo juntos, mas ficam sem assunto, entediados, e começam a mexer no celular até a hora de irem embora. Nunca terão chance para uma boa conversa que surge pelo tédio. A mão que coça, procurando o aparelho a todo momento, como se o mundo estivesse nos escapulindo. A mente que vaga e não descansa, sempre desatenta, morta e ativa ao mesmo tempo.
Sinto que não tenho mais vida. Ninguém mais olha para o céu, por exemplo; por isso as pessoas estão tão cheias de si mesmas, com os estômagos embrulhados de sua grandeza imaginária, porque não conseguem ver que são menores que uma ameba e que existe um universo lá fora.
A vida acabou. O sentido dela é só esse agora. Nada mais. fim.
Alguns links para nos inspirarmos (ou não):
Vício da internet é comparado ao do álcool e das drogas
"Cheguei no meu limite", desabafa Armandinho sobre uso de smartphone
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