Estou a ponto de me render. Eu já nem sei se tenho coerência, ou se sou velha demais, uma velha como todas as velhas de todos os tempos que reclamam da mudança de seus tempos e da maneira como os jovens levam suas vidas. Seria a mesma reclamação que os velhos fizeram com a chegada do rádio, com a velocidade dos telegramas e das notícias de jornais que os atormentavam com a enxurrada de notícias a cada semana? Os velhos que reclamavam da fissura dos jovens pela televisão ou pelos videogames. Talvez eu seja essa velha. Talvez. Mas...
As cartas levavam meses para chegar, os telegramas chegavam no mesmo dia, dependendo da eficiência dos integrantes da emissão, o rádio e a televisão eram imediatos. As cartas traziam notícias de alguém querido que estava distante, era a personificação de uma saudade, um capítulo de uma vida, um carinho na alma; o telegrama servia apenas para urgências, caríssimo, abreviado e breve. O rádio, servia para muita coisa, nos trazia notícias do mundo todo, curiosidades, prestava serviços, interagia com seus ouvintes. Quando ligávamos um rádio, introduzíamos um companheiro que ficava conosco enquanto íamos cuidar da vida, um companheiro que nos surpreendia com músicas e fatos novos. A televisão servia para reunir a família e até mesmo os que não tinham TV, e ficavam pela janela dos outros espiando. A televisão não nos tira do mundo, ela nos traz o mundo aberto e nos traz entretenimento grupal. Os videos games são coisas viciantes, mas são experiências fechadas, possuem começo, meio e fim, e podem ser compartilhados com o seu amigo real ou virtual. A internet nos dá tudo, nos tira do mundo e nos vicia.
Sinto que estou no mundo errado quando vejo todos dormindo com seus celulares nas mãos, quando deles não podem se afastar por um segundo sequer, e mesmo não se afastando, gostam de que eles fiquem emitindo sons para sentir a adrenalina de notificações; sinto que estou no mundo errado quando todos sentam-se na mesa com seus celulares, comem olhando qualquer coisa e não o largam nem para lavar os talheres! Penso que nada mais faz sentido quando saio de casa para trabalhar, e ao voltar, as pessoas continuam na mesma posição, olhando seus celulares e computadores. Enlouqueço quando tudo é motivo para consultar o Google, não podemos mais ficar apenas nas memórias e convicções, sem tirar a prova a todo segundo e atrapalhando o fluxo de uma conversa que poderia ser muito mais profunda e produtiva.
"Apequenamo-nos". Tornamos o centro do universo limitado por uma tela. Não temos contato com o resto do universo (real), não olhamos mais para a natureza, para o céu estrelado, para os animais, como se tudo isso fosse só uma paisagem do Instagram. Deixamos de enxergar como somos minúsculos no universo, e nesse apequenar, agigantamos nosso ego e criamos a ilusão de que somos o centro do mundo. A nossa percepção de mundo mudou radicalmente.
Mas, todos acham esse comportamento normal e louvável, e ainda admitem serem viciados, como se fosse grande mérito. A internet usa a todos, chupa tudo e deixa só o bagaço, aproveita-se da vaidade e necessidade das pessoas por atenção e transforma tudo em matéria de consumo, todos sabem, mas não se importam. São os craqueiros que imploram por mais uma dose e exaltam a vida miserável que levam, se prostituindo por mais uma viagem.
Não, isso não é a mesma coisa que aquilo foi. Isso é muito grande, muito poderoso, muito sério e muito alienante. Talvez não haja como mudar a maneira como estamos vivendo agora, talvez nosso futuro esteja condenado. Ou talvez haja uma revolução e as coisas mudem. Mas eu não gosto de viver como estou vivendo e não consigo aceitar essa dependência da qual eu também faço parte. Estamos perdidos.
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