Eu me lembro da primeira vez em que fui ao cinema em Ouro Preto, fomos todos da família assistir a Lua de Cristal. O filme era horrível, mas a experiência foi ótima, um programa familiar com pipoca e sorrisos. Lembro-me também da vez, que talvez seja a última, em que estive lá; fui assistir a saga de Crepúsculo. O cinema lotou, tinha adolescentes espalhados pelo chão, uma loucura! Não dava para ouvir nada do filme, era uma gritaria sem fim, pipoca voando, gente fazendo graça. A cena interessante foi quando o tal do Jacob, o lobisomem, aparecia sem camisa; as meninas pareciam as beatlemaníacas, e os meninos se mordiam de ciúmes. Quando veio a tona o vampiro do mal, um rapaz negro e com cabelos rastafári, os meninos vociferaram: Grita agora, cambada! Achei injustiça e racismo, o vampiro do mal também era bonitão, mas, coisas da nossa sociedade, ainda, infelizmente.
Não temos mais cinema na região. A UFOP agora é responsável pelo Cine Villa Rica, e de vez em quando, lá passavam uns filmes fora do circuito, mas ninguém ia. Hoje, esses filmes são passados no Anexo do Museu, não sei por que, gostaria de saber mais... Mas o cinema morreu.
Quando me mudei para Ouro Preto, apreciava um caminho estranho que ficava perto da rodoviária, não tinha ideia do que era aquilo. Após muitos anos, reinauguraram o que seria o Horto Botânico. Que lugar maravilhoso! Imagine que o Horto Botânico de Ouro Preto foi um dos primeiros do Brasil, inaugurado em 1799, antes mesmo do Rio de Janeiro! O povo começou a se apropriar do espaço, faziam shows piquenique, diversas manifestações artísticas, mas... Fechou-se na mudança de governos e hoje está decadente. Não podemos mais passar lá. Acabou. Fim. De novo.
Ah, novamente falarei dos concursos de papagaios que aconteciam no Morro da Forca! Lembro-me de que meu pai fez um papagaio de vampiro (a ideia era a de um pássaro, mas saiu um vampiro mesmo), e o meu tio fez um cavalo alado tridimensional. Se o cavalo alado tivesse voado, teria ganhado o primeiro lugar, mas não decolou. O vampiro ganhou o segundo lugar, a graninha foi bem vinda na época de vacas magérrimas. O céu ficava todo colorido, as famílias iam até lá brincar, havia brinquedos para as crianças. Hoje lá virou um lugar abandonado, decadente e mal assombrado por fantasmas e marginais. Ninguém tem coragem de subir o Morro da Forca sozinho.
Que pobreza! Que miséria! Que mundo em que vivemos!
Os valores da nossa sociedade se transformaram de tal maneira que voltamos a viver com as convicções da idade média. O conhecimento não é mais reconhecido como tal, a ciência está sendo rechaçada e substituída por achismos, superstições, religião, as pessoas só crêm no que querem, não usam o cérebro para mais nada! A cultura e o lazer foram jogados para debaixo do tapete, como se fossem elementos de degradação humana, quando que na verdade, a arte e o lazer salvam vidas! Que lixo de tempo é esse em que estamos vivendo? Que trevas!
Devolvam o nosso cinema, os nossos espaços, a nossa natureza, a nossa história! Devolvam a nossa tranquilidade e a nossa capacidade de refletir! Devolvam-nos a luz, porque está "osso" demais viver nessa lama!
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