O climatério do mundo


Quando as propagandas que aparecem no seu navegador são de algum produto relacionado à incontinência urinária, é sinal de que a coisa anda feia. E a coisa anda feia mesmo.

Para todos os lados que olho, vejo apenas destruição e ignorância. Estamos em um cenário de guerra, o caos está em todos os lugares, as pessoas estão soterradas pelo barro da ganância do capitalismo, e o urubus não deixam os restos mortais e os entes lastimosos descansarem em paz, não! Há de se ganhar com a indenização que os sofredores receberão dos assassinos de seus pais e mães. 

O incrível é que as pessoas tem tanta fé em suas ideologias que chegam a se tornar ingênuas quanto a validade prática delas, sejam ideologias da esquerda ou da direita, dentro da imensidão de gama de cores. Alguns acreditam realmente que o livre mercado trará a igualdade, e outras, que o Estado fará esse papel, como se a humanidade não fosse criada por indivíduos grupais, com características biológicas que tentamos negar a todo momento, uma humanidade que tenta há séculos entender alguma coisa sobre si mesma. O ser humano continua cheio de fé.

Então, olho para um lado, vejo o caos de um mundo sem lei, de ódio, de intolerância, de egoísmo, olho para outro e vejo as estruturas em ruínas, pessoas mortas e pessoas querendo matar. Não podemos confiar na polícia, nos governantes, nos engenheiros, nos médicos, nos padres, nos pastores, nas bancas de examinação, em nada. Não sabemos se na velhice teremos amparo, se teremos emprego, se teremos educação e saúde. Não sabemos se nossos filhos terão escola gratuita para estudar e se teremos dinheiro para comer e pagar o aluguel. Não sabemos se poderemos não crer mais em Deus. Não sabemos o que é o hoje e o que é o século XVI. Não sabemos se amanhã entraremos em uma guerra que não nos diz respeito. Estamos em meio a um caos, e no caos, nada brota.

E no meio desse caos, o desespero, talvez gerado por ele, stress sem fim. Trabalho, família, marido lutando pelo doutorado e eu lutando com o mestrado, e nessa "fúria maratônica", pego me perguntando, "de que vale tudo isso", como diria o "Robertinho"? De que vale toda essa correria frenética? De que valem essas minhas atormentações de palavras? 

Jamais imaginei viver dias tão horríveis. Talvez seja a idade em que as pessoas acordam da utopia sobre a humanidade, talvez realmente estejamos num inferno anunciado, talvez eu esteja com crise de climatério, e talvez seja tudo junto, que potencializa o sofrimento. Mas, hoje li sobre o epicurismo, e penso que realmente precisamos aprender a lidar com nossos sentimentos que são baseados em nossos preceitos morais, porque apenas isso podemos mudar, nada mais. Não temos poder sobre nossa reputação (ao menos controle pleno), não temos controle dos acontecimentos passados, das instituições, do nosso corpo ou do pensamento dos outros. O que tiver de ser, será, e isso preciso aprender. Urgente!

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