Morrer rolando o mouse - reféns de um psicopata


O negócio é o seguinte, só de existirem instituições sérias fazendo pesquisas sobre a influência da rede social Facebook na vida das pessoas, já é indício de uma situação incontestável.

As regras do modo de se viver e de se relacionar mudam de acordo com a evolução das tecnologias, é verdade. É verdade também que não sabemos ainda como a nossa sociedade será afetada pela dependência que criamos da internet, especialmente das redes sociais; mas, será que podemos parar um pouquinho para pensar sobre o que nossas vidas eram, o que são agora, como chegamos a isso, e como as novas gerações estão vivendo? Podemos parar e refletir sobre como nós todos nos tornamos mais ou menos livres? Mais ou menos presentes? Mais ou menos reflexivos? Pacientes? Tolerantes? 

Façamos um exercício imaginativo agora: 
Vivemos em uma era totalmente dependente da internet, especificamente da rede Facebook.  O que é o Facebook? Uma armadilha criada por um nerd psicopata que odiava todos os colegas da faculdade, a ex namorada, o mundo todo, e, ao mesmo tempo, conhecia muito bem os desejos ocultos dos seres humanos, as necessidades imaculadas e as pérfidas. Ele criou um lugar onde as pessoas poderiam ir e ficar acompanhando todas as vidas que quisessem, as dos amados, as dos odiados, as dos ridículos. Poderíamos entrar em contato com  qualquer um, até mesmo com os antes inalcançáveis artistas. Poderíamos dizer e nossas vozes poderiam ser ouvidas por dezenas, quiçá, milhares? Poderíamos conhecer pessoas de outros lugares, manter contato diariamente com elas, saber de suas peculiaridades. Não era como o Orkut, podíamos stalkear livremente, sem que ninguém soubesse. Ver tudo o que os ex faziam, se estavam bem, bonitos, ricos, pobres, felizes, infelizes, e localizá-los na vida real. Podíamos nos tornar famosos e ganhar elogios de outras pessoas. Podíamos ser notados, fazer parte de um grupo e sermos importantes. Podíamos infernizar a vida das pessoas, humilhando-as, destruindo-as publicamente. Podíamos arruinar relacionamentos; tudo era possível!

Outros benefícios foram oferecidos, como a possibilidade de se fazer negócios através da plataforma, de se publicizar trabalhos, eventos e opiniões, o que foi muito bem utilizado  pelos que podiam "pagar". Parecia o paraíso.

O tempo foi passando e as pessoas se tornaram cada vez mais dependentes do Facebook. Quem não tinha o perfil no Facebook, não existia. Prontamente, todas as informações pessoais foram entregues, como número de telefone,  opiniões, gostos, localização, tudo. O Facebook fez ligações com diversos tipos de empresas, e essas também tinham acesso às informações de usuários. Tudo o que comprávamos, o que pesquisávamos, o que desejávamos mais intimamente, onde estudávamos, trabalhávamos,  pra onde viajávamos, os livros que líamos, as opiniões políticas que tínhamos, nosso filhos, relações de parentescos, nossas conversas mais íntimas, segredos mais escabrosos, tudo estava à disposição, nós oferecemos nossas vidas de bandeja. Tudo está na internet, para sempre, até quando os computadores existirem. Tudo de bom grado.

Mas... A ilusão de que poderíamos alcançar o mundo acabou. Não somos nós quem controla onde  e como nossas publicações vão aparecer, mas o Facebook. Não adianta montar um discurso se a plataforma não o faz aparecer nas páginas de seus "amigos", não mais que de uns dez indivíduos. A não ser que seu conteúdo seja realmente bom (ridículo, engraçado, polêmico, escandaloso, revelador e curto) e os amigos passem a compartilhá-lo, pode até ser que a plataforma tenha menos autonomia sobre o paradeiro, mas, geralmente, e, especialmente se você gerencia uma página, você terá que pagar para que seu conteúdo apareça para um determinado número de uma audiência. Fato. Então, amigos, a verdade é que é o próprio Facebook quem decide se nossas publicações serão vistas ou não, e fim.

O usuário não controla nada, somos todos joguetes do capitalismo. E da política. Deram-nos uma droga e não podemos mais viver sem ela, e sempre encontramos justificativas válidas para permanecermos em nossos vícios.

Então o Facebook incorporou o Instagram, o Whatsapp, as outras duas maiores redes do mundo. Agora mais informações são coletadas, além de amigos e contatos online, há os telefônicos. Não há mais nada desconhecido para o Facebook. As pessoas começaram a realizar tudo através dessas redes, absolutamente tudo. Relações sociais e profissionais, relações de amor e de ódio. Relações políticas. Tudo.

Então o mundo se torna refém de um psicopata. "Nhem nhem nhem, teoria da conspiração", dirão uns. Mas é fato. O mundo está nas mãos de um psicopata. Ele ainda não conquistou a China, apesar da esposa chinesa. Ainda.

Resumindo é isso. As pessoas se tornarão viciadas, medrosas, apáticas, tímidas, robôs buscando felicidade em imagens na tela, presas dentro de um apartamento no subúrbio de uma São Paulo qualquer, olhando para o mundo colorido enquanto lá fora é escuro, fedorento, os pneus queimam e os craqueiros morrem de outra droga. 

Rolando a porra do mouse.

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