O título é uma generalização, mas o que percebo, sendo mulher, é que existe uma eterna rivalidade entre as mulheres, uma disputa infinita e infindável. Simone de Beauvoir disse que não se nasce mulher, que se torna mulher, mas eu não consigo precisar até onde as influências e o universo em que nascemos nos tornam o que somos, ou se existe algo biológico que nos impele a ser como somos. Eu precisaria de vidas de estudos antropológicos, sociológicos e biológicos para precisar algo, e, como não disponho de tantas vidas e muito menos de tantos estudos, posso apenas relatar algumas experiências dessa vidinha medíocre que venho levando.
Quando era criança tinha poucas amigas. Gostava mais dos meninos, porque eles eram sempre mais claros, sinceros e falavam de coisas mais interessantes, como sobre o sentido da vida ou os cantos das cigarras. Eu tinha uma amiguinha, um dia ela recebeu outras amiguinhas de visita, juntou-se a elas e juntas se riram ironicamente por eu não saber dançar. Eu tinha outra amiga, até nos dávamos bem. Depois de longos anos sem nos falarmos, a encontrei na internet, mas ela sequer respondeu as minhas mensagens. Éramos melhores amigas.
Eu tive boas amigas, fiéis, inteligentes e engraçadas.Essas são como gotas no oceano. Na adolescência, minhas amigas disseram para não andar com elas porque iria estragar o esquema delas, elas pensavam que eu fosse mais bonita que elas e os pretendentes iriam ignorá-las. Outra amiga ficava se insinuando e competindo comigo.
No trabalho, tive algumas chefes. Aliás, penso que todas eram mulheres. Pegavam no meu pé, chamavam a atenção na frente dos outros, enquanto que os funcionários machos dormiam na banheira do banheiro. Uma colega de trabalho vivia me julgando com aquele olhar de cobra pecaminosa, e quando eu dizia que não gostava de cozinhar, a fala dela era: nunca vi mulher, mãe, e não gostar de cozinhar. Só tenho uma coisa a dizer para ela: PNC.
Vejamos as meninas nas escolas. Quando uma aluna nova chega, ela é hostilizada por quase todas, especialmente se for bonita ou tiver algo que chame a atenção. A maioria das brigas entre mulheres se dá pelos mesmos motivos: inveja ou ciúmes. Por quê?
Talvez o mundo nos tenha ensinado que precisamos estar sempre acima das demais para atrair um macho, sem o qual supostamente não poderíamos viver. A mulher tem que ser linda, prendada, carinhosa, amável, esforçada, trabalhadora, se quiser conquistar o melhor homem. Talvez seja isso. Ou talvez conheçamos as nossas capacidades de observação, reconhecimento e manipulação a ponto de ficarmos sempre alertas.
As mulheres precisam ser mais inteiras, inclusive eu. Inteiras e unidas. A primeira coisa que deveríamos aprender é respeitar umas as outras. Talvez haja uma eterna baixa auto-estima entre nós, talvez damos valor demais aos olhares dos outros. Talvez devêssemos começar a pensar sobre como nos relacionamos com as outras, e com os homens. Quais são nossos valores?
Algumas reflexões:
Mulheres, não subjuguem umas as outras. Estejam de peito aberto para ouvir e se interessar verdadeiramente pelo que as outras possam oferecer, suas experiências, seus conhecimentos, vamos compartilhar;
Mulheres, solidarizem-se! Nós sabemos como ainda é difícil e pesada a carga para as mulheres, por que não podemos nos ajudar para que todas possam ter um apoio e um caminhar mais suave?
Mulheres, não sejam hipócritas! Não sejam escravas dos padrões e das opiniões. Não faz sentido algum ser feminista, lutar por direitos iguais, por respeito, e ao mesmo tempo implorar por atenção através dos atributos sexuais nas redes sociais.
Mulheres, não se submetam! Se não gostam de algo ou situação, não se submeta a ela, e apoie a quem faz o mesmo!
Mulheres, sejam sinceras! Não façam elogios falsos, não fofoquem, não conspirem contra as outras mulheres apenas por elas representarem uma ameaça imaginária.
Mulheres, respeitem os limites! Respeitem os relacionamentos das outras, não estamos em uma competição por machos, além do mais, o que mais tem é homem nesse mundo. Acolhamos um código de ética e acabemos com essa eterna disputa. Não façam com as outras o que não gostariam que fizessem com vocês, ok?
Biologia ou cultura, não sei dizer, mas o nosso comportamento explica muito sobre os motivos de nossa longa submissão.
Concordo
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