Decisão de amar


Acordarmos e gostarmos de quem está ao lado, mesmo em dias de tempestades internas e caos na humanidade, e com ternura, desejar cuidar e acariciar as sobrancelhas desarrumadas; sentir o desejo de espremer a pessoa até sentir todos os seus contornos e amar todas as formas, considerando-as perfeitas, assim como a brancura dos cabelos, e qualquer coisa que se possa socialmente ser considerada imperfeição.

Irritar-me profundamente com opiniões e gestos que pareçam incoerentes e irracionais, mas esforçar-me em lembrar de todos os motivos que nos levaram a querer nos levar pela vida, assim como lembrar que eu também pareço irracional e incoerente muitas vezes e que, mesmo assim, queremos estar de mãos dadas. 

Darmos muitas risadas, especialmente à noite antes de dormirmos, nos abraçando, virando de lados muitas vezes, até finalmente nos declararmos e dormirmos grudados. E querer estar assim.

Esforçarmo-nos por falar calma e carinhosamente, mesmo quando um está fora de controle, e sabermos no fim que tudo fora bobagem e que não vale a pena ficarmos longe. Amar o calorzinho, o cheirinho, o gostinho, a luz do olhar, o sorriso e tudo.

Ficarmos horas discutindo sobre questões filosóficas, políticas, artísticas, essas coisas que todos consideram chatíssimas, aprender todos os dias e depois falar muitas bobagens bregas e caipiras. Cozinhar, limpar e cuidar, morrer de cansaço e pensar que vale a pena por que aqui estamos.

Cuidarmos todos os dias para não deixar que as humanices nos torne exigentes demais, intolerantes demais e egoístas demais, e saber que muitas vezes não é possível e que isso é normal. Perdoar e tentar ser melhor, e fazer melhor.

Planejarmos cultivar uvas, fazer vinho, fazer pastel, ser alfaiate, fazer rádio, programas, escrever mil artigos, viajar pelo mundo todo, sabendo que nem tudo será, mas que tudo pode ser. Lembrarmos das bizarrices da infância, saber das tristezas, dos sonhos, das alegrias.

Darmos as mãos todos os dias e levantar com ânimo para os dias, o dia todo, sem desistir do que queríamos no começo e para o sempre. Essa é a decisão de amar.

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