Como devemos nos relacionar com nossos parceiros?


A humanidade sempre fabricou manuais sobre como devemos viver nossas vidas, em formas de livros de etiqueta, enciclopédias sexuais, pesquisas comportamentais e biológicas e tantas outras formas de construção de padronização que fogem do meu conhecimento. Lembro-me bem da velha enciclopédia sexual do meu pai, com fotos em preto e branco de tantas outras coisas, inclusive de deformidades genéticas e gonorreias; naquela enciclopédia, a mulher ainda podia ser chamada de frígida e a ignorância sobre sua sexualidade era gritante.

A questão da afetividade, dos vínculos, do apego, sempre foi tema de interesse; não há  muito tempo, as mulheres evitavam amamentar seus filhos, conseguindo para eles amas de leite, e algumas chegavam até mesmo a deixar seus bebês na roda dos excluídos; lembro-me de ter lido algo que falava sobre uma teoria que pregava a total falta de afetividade com as crianças, ou seja, que as crianças deveriam crescer distantes dos mimos dos pais, sem toque ou dengo. Hoje, as pessoas pregam exatamente o contrário.



Sobre o casamento, por exemplo, essa união que sofreu muitas mudanças de acordo com os diversos fins que o sustentou, (e que ainda tem muitas versões pelo mundo, também com diferentes fins), muito se fala, se falou e se falará. Regionalmente, ser casado sempre foi visto como estar preso, ter obrigações e nenhuma diversão. As esposas são chamadas de "Dona Encrenca", "Dona Maria", e, muitas vezes, tratadas com desrespeito pelos maridos, o que parece ser uma conduta considerada natural. Natural para a maioria seria maldizer a esposa, maltratá-la, ignorá-la e enganá-la, como se ela não fosse um outro ser humano que merecesse consideração e verdade. Resumindo, casamento parecia uma prisão onde todos são infelizes, a mulher mais ainda, mas ambos aceitam pelas conveniências do contrato social. Parecia que ser apegado à esposa e agir romanticamente com ela era sinal de fraqueza do homem, ou até mesmo de loucura. 


Quando as pessoas namoram, elas se sentem bem na companhia um do outro e querem passar a maior parte do tempo juntas, e esse é o motivo pelo qual se casam; formalizam a situação por que a companhia um do outro é benéfica e traz bons sentimentos, e assim sendo, resolvem compartilhar toda a chatice da vida, e aí é que vem a danação.

O problema é que as pessoas não estão preparadas para as chatices compartilhadas e para serem fofinhos como sempre foram em momentos de crises e decepções. Esquecem-se de namorar e de fazer todas as coisas gostosas que faziam antes, deixam de passar tempo juntos e de estarem ansiosos por isso. É aí que acaba a magia e cada um vai procurar o que acabou em outras partes, muitas vezes, enganado aquele com quem assinou um contrato.


Então vemos um mundo de concepções, que diz que isso é bom, aquilo é ruim, ou que as coisas devem ser de determinado modo. Se o casal gosta de ficar muito tempo junto, "não pode, porque isso faz mal, tem que ter a individualidade e bla bla bla". Se o casal vive cada um em seu canto, "isso é um absurdo, o casal tem que dividir o mesmo quarto". Se o caboclo demonstra paixão pela esposa, é um babaca; se demonstra ser um galinha desrespeitador, é mais babaca ainda.  O que fazer nessa sociedade hipócrita e ditadora de regras e paradigmas?


Mandar se (f). Perdoem-me os ofendidos, mas é isso mesmo. Cada um que viva da melhor forma que achar, com quem concordar com o mesmo. Se quiser ficar grudadinho com a esposa, que fique, que ame! Se quiser ter mais espaço, que combinem e encontrem-se quando sentirem a necessidade! Agora, só não dá para aceitar enganação. Relação é de dois, no mínimo, todos devem estar concordantes com os meios e os fins, sem trapaças. Se você é ávido por aventuras sexuais, não queira se unir a alguém que queira um casamento monogâmico! Isso é sujeira, trapaça, é tirar da pessoa o direito de viver da maneira que ela deseja, é egoísta e podre. Cada um que se relacione como se sentir melhor, ninguém é modelo para outro. A única coisa que importa é o respeito pelo outro. A sua vida não é modelo para a minha, e nem a minha é modelo para ninguém. Eu só sei o que desejo, o que quero, e é isso que todos deveriam saber e deixar claro. E para mim, isso é relacionamento. Claro e combinado.

Desenhos de Yehuda Devir.

Comentários

  1. Cada casal deve achar seu caminho, não tem receita de bolo. Mas o que eu acredito piamente que o engano está em querer encontrar a felicidade no outro, o que te falta no outro, a tal da metade da laranja... acho que esse é o pontapé inicial pro naufrágio.
    Projetar no outro e exigir do outro aquilo que lhe falta ou sonho de homens perfeitos.
    Creio que (as feministas peludas joguem as pedras) que PRINCIPALMENTE POR SER CARENTE E SUSCETÍVEL, a mulher tem de estar feliz, realizada e completa SOZINHA primeiro, amar-se loucamente com todos os seus defeitos e qualidades.
    Só então ela deveria entrar num relacionamento, onde ela irá partilhar com muito mais honestidade e segurança todo o amor que transborda nela primeiro.
    Não acredito que um homem faça uma mulher feliz, so sorry, as falácias aparecerão rapidamente. Acredito que uma mulher de bem com ela mesma, não se permitirá um relacionamento abusivo, negligente, com um sujeito que tire dela seu melhor. Acredito que as “cláusulas” do contrato serão menos pesadas quando tomamos posse da nossa vida.
    Portanto, minha conclusão é: antes de sair procurando macho, de procurar afeto, carinho, sexo, suporte emocional etc, a mulher tem que se auto apaixonar, se amar com loucura, abundar em amor e ela verá que um relacionamento irá trazer a ela ainda mais! E deixe as migalhas para as mal resolvidas que aceitam qualquer coisa pra ter um macho à tira colo.
    Obs. Minha opinião reflete o meu caminho que eu escolhi, a estrada é árdua mas o descobrimento diário da auto compaixão e amor próprio é libertador.
    (Linda matéria)

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  2. Seus comentários sempre enriquecem as minhas singelas reflexões. concordo muito quando você diz que a mulher deve se bastar antes de tudo, depois será capaz de fazer escolhas. Como disse jesus, ame o próximo como as si mesmo: primeiro si, depois terá modelos.

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