Ouro Preto às moscas

Morro da forca, quase "enforcado" pelo descaso
É difícil ser morador de uma cidade como Ouro Preto, por que trata-se de uma cidade atípica. Exemplificando, sempre que me encontro com pessoas de outras cidades e digo que sou de Ouro Preto, os comentários são: "Nossa, Ouro Preto, loucura lá hein! Sexo, drogas e rock'n roll, uhuuu!" Isso é muito irritante e demonstra uma das peculiaridades que fazem parte da cidade.

Primeiramente, Ouro Preto são muitas. Ouropretano é aquele que mora nas periferias, que vai trabalhar no comércio, na universidade, na prefeitura e nas mineradoras, sofrendo com os altos preços para turistas, desde alimentação até o mais sério, a moradia.

Além de "nativos", como se denominam, há os estudantes: eterna pendenga, nativos e estudantes. As republicas são inúmeras, grande parte pertencente à UFOP e gerida pelos próprios estudantes, que também cuidam do processo de seleção, cujos critérios, só cada uma das repúblicas sabe. Estão alojadas nos melhores casarões da cidade. Os motivos para as animosidades entre moradores e estudantes são inúmeros e de senso comum; moradores estão sempre reclamando da "folgança" dos estudantes "forasteiros", que  "moram nas melhores casas, sabem apenas vir para a cidade encher a cara, não se importam com as tradições, não respeitam os costumes", e por aí vai. As reclamações tomam corpo no carnaval, quando em alguns locais falta água por causa do excesso de gente, a maioria alojada em repúblicas, que fazem pacotes carnavalescos para seus blocos. A questão das republicas estudantis é um caso antigo, onde a UFOP não está a fim de colocar a mão, pois, afinal de contas, e apesar de questionamentos sobre a forma de seleção dos moradores, que não inclui nenhuma participação da UFOP e nenhum quesito sócio-econômico, os casarões estão sempre bem preservados pelos próprios estudantes, sem falar no peso da tradição estudantil.

Sobre o turista: quem vem de vez em quando, seja para festas pagãs ou religiosas, podemos dizer que, além dessas próprias festas e do casario, que por si só, já valeria a pena, não encontra nada mais. A cidade é turística, mas é totalmente morta durante as noites e fins de semanas. Passear pelo centro nesses períodos é como caminhar no antigo velho oeste. Não há vida no centro.

Depredação no Morro da Forca


Em relação aos moradores, apesar da situação estar mudando, ficam totalmente largados à sua própria sorte. Até existem poucas políticas municipais ou mesmo elaboradas pela universidade de inclusão e assistência a esses moradores, mas são pequenas brisas no deserto. Há poucas alternativas de lazer em Ouro Preto;  agora cheguei ao ponto.

Os parques da cidade, locais onde supostamente as famílias poderiam ir nos fins de semanas, além dos turistas, que teriam opções diversificadas e motivos para permanecerem por mais tempo  na cidade, estão sucateados e mortos! Pontuando:

Morro da Forca

Havia uma gangorra ali...


Lembro-me que na minha infância era um local agradável e vivia sempre cheio de crianças, pois era bem cuidado, seguro, e possuía brinquedos. Como eram lindos os festivais de papagaios que aconteciam lá! Várias pessoas, inclusive meu pai, faziam pipas maravilhosas e coloriam o céu da cidade, todos podiam ver o grande numero de pipas de vários formatos. Hoje, o local virou sinônimo de decadência, poucas pessoas se atrevem a ir até lá por medo de delinquentes que possam estar escondidos.

Parque do Itacolomi

em agosto fomos até lá no fim de semana para fazer piquenique, mas não estava funcionando! Depois voltamos, e o que vimos no Museu do Chá, deu tristeza! O museu estava morto, decadente, as luzes apagadas, jogado às traças. A história do chá é importantíssima para a cidade, o parque deveria ser um dos pontos turísticos mais divulgados e visitados da nossa região.

O Horto Botânico

Na minha infância e na minha ignorância, nem imaginava que aquele lugar existia. Foi reaberto, mas não durou muito. Deve estar fechado Há uns três anos ou mais, e não sei o motivo. Um lugar lindo e repleto de história está enterrado, é menos uma atração para o povo, que já começava a se apropriar do espaço, realizando diversas intervenções; perdem moradores e perdem turistas. Por que está fechado?

Outros parquinhos

No centro de convenções, e em outros lugares da cidade, está tudo sucateado. O que existia, foi retirado ou está em ruínas. O que os meninos fazem, é escorregar no papelão no que resta de grama. O que o morador e o não morador tem para fazer nessa cidade?

Lixo no Morro da Forca

Ouro Preto são muitas, mas Ouro Preto não é só festa, drogas e rock, como pensam muitos que só passaram pelas festas. Ouro Preto tem gente e tem tradições seculares, tem nativo, tem estudante, tem turista, tem empresário que veio viver aqui, mas não podemos nos esquecer de que é uma cidade de gente. Ouro preto não é só um monumentos, um patrimônio material, não é só um conjunto arquitetônico. Temos famílias, crianças, gente que está se qualificando, gente que vem conhecer, precisamos harmonizar e agregar os interesses. A cidade é feita de pessoas, suas diferenças e necessidades, e nesse ponto, com toda a sua historia, desde os Jacubas e os Mocotós, Ouro Preto é única, com todas as suas peculiaridades.

O que era pouco, se acabou...

Espero que quem tem o poder de realização, realize obras que edifique o povo, a estrutura econômica e social, e não somente  visem preservar o conjunto arquitetônico que não é nada por ele só.

Acorda, Ouro Preto!


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