Mundo de gente falsa


Existem pessoas que são a falsidade em carne, ossos e apliques.   As sobrancelhas são pintadas com hena e transformam-se em duas coisas pretas, muitas vezes totalmente destoante do resto do rosto, algumas vezes dão à expressão um ar carregado e carrancudo; para empoderar-se, os cabelos são tingidos de louro, também para disfarçar os brancos. Aos naturais tingidos são ainda adicionadas algumas camadas de cabelo comprado, o que se percebe ao se conviver mais intimamente com a pessoa, quando são acariciadas placas ao invés de couro cabeludo. Seios normais são desvalorizados, o belo são duas bolas enormes e descoladas dentro da pele. Algumas ainda passam por cirurgias para retirada das costelas, outras, cortam e esticam a barriga, aspiram as gorduras, colocam mais bolas nas náfegas e nas coxas, e muitas tomam substancias para que o corpo se transforme naquilo que se diz ser harmonioso, o que o corpo não é naturalmente. Os lábios são preenchidos  tornam-se proeminentes, e às vezes, até mesmo as bochechas fofinhas são retiradas! Artifícios de beleza, como sempre. 

A beleza é cada vez mais necessária e exposta para a apreciação universal dos dedos para cima. Temos que ser belos, legais e falsos. Temos que dizer o que parece ser legal, vestir o que é descolado, ir para onde está em alta, e todos os dias, para que invejem nossas fotos de viagem. Temos que parecer insanamente felizes e ativos, recebendo rajadas de ódio e inveja disfarçados de elogios amáveis e extremados; assim vamos estabelecendo o que é real e relevante em nossa existência.

Debaixo da loiridão e do Botox a falsidade ainda é maior do que a que se é perceptível. O ativismo, a preocupação, a prontidão, a piedade, a inteligencia, a ira, e principalmente a felicidade são representações das representações representadas. Tudo falso. A falsidade é tão gritante e universalmente endêmica que me contamino e em seguida vomito. Enojo-me com as dissimulações e enojo-me por estar presa nesse pandemônio. Morri e fui para o inferno.

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