O maior problema dentro das escolas atualmente é a dispersão causada pelo uso dos telefones celulares. Aliás, ao meu ver, o excesso do uso de tais dispositivos é o maior problema da humanidade, por diversos motivos.
Buscamos pelo prazer o tempo todo, e, quanto mais fácil, melhor. Basta abrir a tela de nossos celulares, computadores e qualquer coisa que nos dê acesso ilimitado a uma infinidade de inutilidades que permitam ao nosso cérebro mergulhar em um estado de dormência prazerosa, que nos esquecemos do nosso mundo material ao redor. Como competir com a internet?
O problema é que os adultos também estão tão viciados nas comodidades prazerosas de seus smartphones que não se sentem no direito de exigir dos alunos que não utilizem seus telefones dentro da sala de aula. Para todos, fazer de seus telefones extensão de seus seres se tornou algo tão natural que não imaginam como exigir de crianças e adolescentes que não toquem em seus aparelhos enquanto estiverem dentro da sala para estudarem. Por que parece tão absurda tal exigência?
Todos se perderam dentro das inundações tecnológicas. Fazemos esforços para tocar nossas vidas, quando o que queremos, é ficar sentados em frente a tela, vendo vídeos engraçados, comentando polêmicas, postando fotos para ver o quanto estamos bem e fazendo sucesso, conversando com todo o mundo sobre nada. Transferimos o fazer material para o fazer virtual, e de lá, ditamos regras para a materialidade. Não temos mais paciência para leituras e reflexões profundas, temos preguiça de esforço mental e físico, estamos perdendo a capacidade de interação com as outras pessoas, não sabemos mais decodificar sinais físicos de interação; não criamos nada verdadeiro, não questionamos nada por mais de um dia, nossa indignação é rasa e depende da onda. Enquanto o WiFi estiver funcionando, que o mundo se exploda lá fora e que todas as decisões sejam tomadas pelos outros.
Tudo precisa fazer sentido e demonstrar ter um objetivo lógico e prático para que possamos nos engajar na batalha. As crianças e os adolescentes não veem mais sentido na memorização de dados, pois o Google está lá durante as 24 horas do dia para nos informar quando aconteceu algo, o que aconteceu e o que dizem significar. Ele nos informa onde está o restaurante mais próximo enquanto nos pergunta sobre o local em que estamos. Ele traduz e calcula. Ele é um Deus. Qual o sentido de pensar, criticar, refletir e de criar, sendo que a internet nos dá tudo facilmente? Essa é a grande questão.
A escola atravessa um caos, que tem muitas origens e que está se agravando no cenário político atual. Muitos acontecimentos políticos e culturais destruíram a imagem da escola e do professor, além disso, ou apesar disso, empurraram para a escola todas as responsabilidades da educação da nação. O problema é que a as escolas não tem autonomia e o sistema dificulta medidas que possam gerar maior aproveitamento e engajamento dos alunos e dos pais. Mais uma vez, dentro da lógica, qual o sentido de se esforçar e de seguir as regras se, em não se fazer, nada acontece?
O problema é muito complexo para ser debatido nessas poucas linhas, apenas deixo as seguintes questões para que todos possamos refletir:
Por que a escola não pode proibir o uso dos telefones durante as aulas, sendo que nunca fora antes permitido ao aluno levar qualquer objeto que lhe tirasse atenção?
Por que crianças e adolescente não podem sofrer sanções compatíveis com seus atos, aprendendo que isso é a vida!? (Falo aqui de reprovação, expulsão e outras medidas compatíveis com a conduta do aluno em busca de equilíbrio, justiça e educação para a vida).
Por que consideramos como algo normal a necessidade absoluta de se ficar conectado o tempo todo, como se fôssemos máquinas que precisam ser ligadas na tomada a ponto de não nos importarmos em ver nossos filhos comendo sem tirar os olhos das telas dos celulares, dormindo com eles, andando e olhando para eles, utilizando-os durante as aulas e permanecendo ao nosso lado como zumbis? (Sabemos que é por que também nos tornamos zumbis e isso é mais prazeroso e cômodo).
A internet pode ser uma arma importante para auxiliar a educação, mas para que se torne um instrumento, é necessário um planejamento, como para todos os outros recursos pedagógicos que forem utilizados.
A verdade é que há muito o que se considerar no caso da educação atual, e toda a ideologia por trás da liberdade individual que culminou no que vemos hoje, a falta de compromisso e comprometimento com o outro. O discurso da liberdade nos levou ao medo de questionar, de estabelecer parâmetros, regras, o medo de parecer radicais e censuradores. Além disso, toda essa "liberdade" (ou liberalismo) nos jogou num mundo de inseguranças, onde nada parece ter consequências ou relevância, onde o outro não importa, e esse é um dos motivos para o que vem acontecendo no mundo, que é a volta do radicalismo e da intolerância em busca da segurança. Como equacionar? Não sei. Mas um bom começo seria tomar para nós mesmos a responsabilidade e a vergonha e abrir mão da alienação sem medo de exigir que quando o aluno estiver dentro da sala de aula, ele esteja na sala de aula e estude. Como pais, deixar de sermos preguiçosos e interagir com os nossos filhos ao invés de agradecer a Deus por compartilharem do mesmo vício dos smartphones, nos deixando livres para a escravidão virtual. Deveríamos exigir que as pessoas tenham horários, prioridades e regras, mas antes de exigir delas, exigir de nós mesmos.
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