É normal ser dependente da internet


Quando inventaram a câmara de bronzeamento artificial, todos queriam usar, estava na moda e parecia seguro. Hoje, muitas pessoas desenvolveram câncer de pele e até perderam a visão por causa do abuso de tal artifício. Lembro-me disso quando questiono meus filhos sobre o abuso do uso da internet e eles me dizem que todo o mundo só fica na internet. Argumentam que não têm nada para fazer e que não tem ninguém com quem fazer algo, todos estão lá. Chego em casa, sinto desespero. Vejo todos com as colunas arqueadas e olhos fixos no celular, digitando freneticamente ou soltando gargalhadas. Quando assistem a televisão, não assistem, ficam se inteirando sobre o programa com outras pessoas na internet. Quando está acontecendo algo importante, precisam se expressar através das redes sociais, terem a voz ouvida e comentada. Não estão nem lá, nem cá. Ninguém nunca está onde está, e se está com alguém aqui, o deixa para estar com outro lá, e se esse outro vem para cá, também é abandonado, porque o que importa é o meio, não o fim.

É difícil estar com as pessoas, só com elas. É difícil por que exige esforço e atenção, exige reflexão mais profunda para preencher alguns silêncios. Exige olhar, exige toque, exige interação. Na internet, o tempo é preenchido com vastas opções e inúmeras janelas, sem precisar mover um músculo da cabeça. Estáticos, zumbis, múmias, pedras, próprias máquinas.

O problema é que isso é considerado normal. É normal ser dependente do celular, passar o dia inteirinho olhando para a tela e ficar a madrugada acordado, conectado. É normal ficar tirando selfies o tempo todo. É normal ficar conectado no Facebook e dividir a vida com o mundo inteiro, como se fôssemos celebridades. É normal deixar que qualquer pessoa venha nos importunar e perturbar nossa rotina. É normal ficar horas conversando com pessoas com as quais não temos objetivos, ou mesmo, amizade. É normal deixar as pessoas de lado para dormirmos com o celular. É normal deixar de sermos um ser humano para nos tornarmos um ser, um personagem fabricado através de fotos, fatos, discussões e boatos. É normal ser escravo.

Se é normal, eu não sei. Sei que não é fácil não ser escravo. Sei que não é fácil não se fascinar e se deixar levar pela magia das possibilidades infinitas da internet e pelo entusiasmo da satisfação pessoal oferecida pelas redes sociais. Não é fácil interagir, se mover, falar, cantar, brincar, ler livros, passear e olhar o mundo. Não é fácil discutir relação. Não é fácil desenhar com os filhos, se concentrar. Nem sei se é assim que o mundo deveria ser. Eu só sei que o mundo atual me deprime, e que não posso sair dele. Se daqui a alguns anos, as consequenciais desse uso e abuso aparecerão, não sei. Quando inventaram a impressão de livros, creio que muitos também se sentiram como eu.Talvez eu seja uma visionária, ou talvez, uma retrógrada. Mas, cada um precisa tomar suas decisões, é a vida que voa. Vida que voa.


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