Odeio ser mulher


Odeio quando o ciclo muda e a todo o momento quero chorar, e quando tudo o que irrita, se torna insuportável. Odeio quando o fogo pega, mas o sinal está vermelho; odeio ter medo de sair à noite sozinha e me sentir desconfortável quando passar por entre homens. Odeio andar depressa quando um rapaz anda atrás de mim. Odeio que as pessoas sempre perguntem a mim como dou conta da casa, da comida e de tudo, mesmo morando com seis pessoas. Odeio ferir os outros por não controlar meus hormônios. Odeio que as chefes sempre tratem melhor os funcionários do que as funcionárias. Odeio que nunca convidem uma mulher separada para as festas; odeio que as qualidades exaltadas ainda sejam a beleza e a "gostosura" da mulher. Odeio que o lugar da mulher seja na cozinha, com avental e com um sorriso retardado no rosto; odeio nudistas que participam de concurso para saber qual a ativista mais sexy; odeio que médicos, advogados, líderes religiosos e outros se aproveitem do meu momento de fragilidade. Odeio que subjuguem a minha inteligência. Odeio ser revistada por viajar sozinha para outro país. Odeio ser acusada de abandono por realizar um sonho, uma vez na vida. Odeio ser julgada antes de cometer uma falta. Odeio trabalhar, estudar, criar filhos, cuidar da casa, de tudo, e ainda ser chamada de louca. Odeio ingratidão.Odeio que digam que a minha roupa parece de velha. Odeio os que pensaram que eu deveria continuar em um casamento falido. Odeio que me digam que o meu cabelo fica melhor liso do que anelado. Odeio que me perguntem se eu não faço unha. Odeio que putas me chamem de puta. Odeio que me chamem de "linguiça que vai atrás do cachorro". Odeio chorar no banheiro. Odeio ter que checar se a minha blusa está fechada quando notar olhares. Odeio que digam que estou "comprando jornal para os outros lerem". Odeio usar salto. Odeio desperdiçar horas num salão. Odeio pensar que terei que pintar os cabelos.

Odeio tudo isso porque eu me amo. 

Mulher, "te ame"!

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