A eterna mesmice do EU caótico em construção


O mundo nunca é o mesmo, mas o ser humano é, sempre foi e sempre será. O ser humano sempre terá os mesmos medos, os mesmos anseios, as mesmas ambições e sempre usará dos mesmos artifícios para se sobressair e conseguir o que almeja. Eu sou uma Maria Ninguém, e não tenho legitimidade para explanar sobre qualquer assunto, nem sou filosofa consagrada para traçar esboços teóricos, muito menos socióloga, para analisar relações e espaços. Eu sou apenas mais uma observadora das fraquezas humanas, alguém que aprendeu a decifrar pequenos gestos, olhares, palavras e silêncios. Sou alguém que muitos julgavam possuir algum tipo de sexto sentido, e muitos tentaram evitar. Mas às vezes, eu sei. Muitas vezes, não sei de mim.

A história é dialética, como dizem, é cíclica, e assim o é porque os seres, que são os atores da história, podem viver em locais diferentes, assim como em épocas distintas, podem estar rodeados por tecnologias diversas, podem ter livros, conhecimento, podem ser considerados mais ou menos avançados, selvagens, primitivos ou modernos, mas todos eles possuem as mesmas fraquezas; assim é porque, desde que nasce, o ser humano precisa aprender do zero a como se relacionar com os seres e com o ambiente que o cerca, precisa descobrir  ele mesmo no caos que o seu EU, ainda indefinido pelo escasso apoderamento dos conceitos e vivencias externas, se apresenta para si e para os outros. Assim, construindo sua identidade no mundo das relações, seja lá que mundo for este, ele luta o tempo todo com tudo, todos e consigo mesmo, procurando identificar uma faceta que talvez se enquadre melhor no mundo que ele quer construir para si. Esse querer também é construindo pelas experiências, pelo que lhe é direcionado como ideal de acordo com cada conceito de felicidade. Sendo assim, este conceito de felicidade é algo fundamental para a construção da identidade do individuo, assim como a identidade da sociedade que adota esse conceito. Esse conceito formará uma geração específica de indivíduos com ideologias e características semelhantes. 

O conceito de felicidade parece mudar de tempos em tempos,  ele molda épocas e direciona movimentos sociais; felicidade, de acordo com o dicionário, é um estado de bem aventurança, bem estar, bom êxito. Todos os seres humanos sempre querem se sentir bem aventurados e ter bom êxito, mas o significado  de ser bem aventurado e ter bom exito possui variantes.

Há tempos atrás, ser feliz significava possuir alimento, em outros tempos, o ideal era ser digno de se conquistar um lugar no céu, possuir terras, ter uma boa colheita, conquistar a liberdade, ter honra, possuir bens, vivenciar prazeres ditos mundanos, ser reconhecido intelectualmente, ter paz, e a lista segue distinguindo as épocas e os locais. A felicidade almejada é individual, mas é também coletiva, pois faz parte de um contrato acordado nas relações sociais. É esse conceito social dominante em determinada época e local que direciona os indivíduos para este ou aquele lado, que os move, que os faz ser o que são, humanos sempre em luta pela felicidade almejada. Nessa luta pela tal felicidade, os seres humanos cometem os mesmos atos, os mesmos erros, travam as mesmas lutas, de acordo com a evolução da construção do caos do seu EU, que é individual e gradual. Possuindo diferentes níveis de "evolução", esse EU  se encontra com outros "EUs" em semelhantes níveis de aspirações e de complexidade e se unem em busca do que têm como conceito de felicidade. O "NÓS" caótico dessa união desconhece a legitimidade de todos os outros NÓS, e desqualifica a mesma luta que possui o mesmo objetivo, mas não possui o mesmo objeto. Assim, as lutas, as vitórias e os erros se repetem dentro da história, esteja o indivíduo num feudo ou em uma grande metrópole pós-moderna.

Eu não queria escrever nada disso, inicialmente, mas isso estava latente. É o meu EU caótico, cada vez mais caótico, me direcionando para um direção indefinida, que no fim, deságua em algum lugar, ou lugar algum.


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