Depois dos 30

 

Depois dos trinta dividimos as lembranças e as cicatrizes das cirurgias, as de varizes, tireoides, cesarianas, enxertos ósseos, retiradas de terçol, redução de estômago, vasectomia, e afins. Nessa época não nos envergonhamos tanto pelas celulites, estrias, gordurinhas, manchas e imperfeições, pois raramente há perfeição. Depois dos trinta, aprendemos a valorizar o que preenche, não o que cobre; o que preenche uma conversa, o silêncio, os espaços, as carências, as necessidades, o sorriso, a vida. É neste momento que estamos quase prontos, prontos para aceitar, relaxar, sentir, sorrir, chorar e nos levantarmos. Depois dos trinta, temos muito mais a carregar, mas muito mais a oferecer; temos muito a dividir, assim como muito a aceitar. É na idade da crise que descobrimos nossa identidade, é aí que nos preparamos para sermos livres de todas as amarras supérfluas e ilusórias. Temos muito a levar, mas temos muito mais a conquistar. Depois dos trinta, estamos maduros para ir e vir quando quisermos, e não quando nos parecer ser o que deveríamos fazer. É só depois dos 30 que podemos olhar para o espelho e dizer: Este sou eu, este corpo é meu, assim como este olhar que diz tudo o que vai aqui dentro, sem aceitar o que não quero mais.

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