Trajetória na Prefeitura de Ouro Preto

Nesta sexta-feira, dia 18 de janeiro, pedi a minha exoneração da Prefeitura Municipal de Ouro Preto, onde trabalhava como agente administrativo. Entrei por meio de concurso e lá fiquei por 4 anos, com muitas histórias...

Quando eu entrei, fui lotada na  Secretaria da Educação; talvez por eu ter feito Letras, eles achassem que seria melhor para mim e para eles.  A coordenadora do RH da Educação me mandou para um distrito de Ouro Preto e disse que eu teria transporte para ir e para voltar, e que voltando, pegaria o ônibus que lavava os estudantes para o IFMG. O problema é que eu trabalhava de 7:00 da manhã até às 5:00 da tarde, e o ônibus só saia depois das 6:00. As professoras da tarde disseram que até tentaram pegar o tal ônibus, mas eram tratadas com hostilidade pelos alunos e receberam cusparadas, então pararam de pegar o ônibus e começaram a pedir carona. O problema é que existiam vans para levar e trazer os professores da manhã e apenas levavam os da tarde, e eu, como ficava o dia todo, também ficava em desvantagem. Foram tantas caronas inesquecíveis... Uma vez quase morremos esmagadas por chafarizes na carroceria de uma caminhonete, parecia que o  motorista fazia de proposito. Outra vez, pegamos uma carona, quando chegamos à Ouro Preto agradecemos, dissemos Deus que lhe ajude, mas o cara respondeu: É o preço da passagem! Foram tantas humilhações, incontáveis! 

Na escola em que trabalhei conheci pessoas maravilhosas. Lá eu tinha toda a liberdade para criar, inventar, trabalhar. Fui gestora da merenda, criamos o jornalzinho, inventamos promoções, tentei criar uma maneira de catalogar todos os livros da biblioteca, pena que não pude terminar... O ambiente de trabalho era agradável, mas as condições  não estavam boas, principalmente por que eu tinha passado no vestibular novamente e tinha que estudar, por isso, pedi minha transferência para a cidade. Aquela mulher me enrolou, enrolou, como enrolou a tantos que não suportaram e pediram exoneração. Enquanto isso, minhas colegas e eu fomos ao sindicato lutar pelo nosso direito ao transporte. Depois de falar com o vice-prefeito, finalmente, conseguimos a van para nos buscar.

Eu e  minhas colegas lutando por transporte - encontro com vice-prefeito (sou essa de bolsa roxa)

Depois de mais de um ano insistindo, a mulher do RH me ligou e disse que eu tinha apenas alguns minutos pra decidir sobre uma vaga em uma escola de Ouro Preto. Eu não conhecia a escola, mas como havia atazanado a todos para conseguir a transferência, decidi aceitar. 

Quando cheguei na tal escola, notei logo um clima nada amistoso. As pessoas mal responderam ao meu bom dia. O meu trabalho seria tomar conta da biblioteca, organizar os livros, "limpar" e dar "aulas de biblioteca". Seria até um trabalho interessante, se não fosse imposto. Porém, além de o clima de trabalho ser terrível, recheado por fofocas, intrigas, guerras de egos e de poderes, eu tinha um horário na grade escolar a cumprir, isto é, eu estava fazendo o papel de professora! As tais aulas estavam no horário das crianças de 03 anos ate os 11, eu tinha que preparar conteúdo, contar historias e dominar as crianças de várias idades, sem falar que o professor tinha esse horário livre. Algum deles dividia alguma parte do seu salário comigo? Oh, não! Como eu era "agente administrativo", achei injusto e fui procurar meus direitos pelo sindicato. Pedi novamente a minha transferência, desta vez, sai da secretaria Municipal de Educação e fui parar na Secretaria de Assistência Social.

Passeata dos trabalhadores municipais

O mal deste cargo, "agente administrativo", "auxiliar administrativo", o escambal admnistrativo, é que as suas funções não são bem definidas e acabamos fazendo trabalhos destinados a todos os outros cargos, desde office-boys até gerentes, sem falar que não existe um tal piso salarial. Na assistência Social, encontrei muita gente boa e que se tornaram amigos, mas o trabalho é imensamente entediante! Por dois anos eu tive que conferir processos, xerocar e anexar documentos, ver se as datas dos contratos, dos relatórios, dos empenhos e das portarias estavam na ordem certa, ver se os dados digitados estavam corretos, conferir e atualizar listas, digitar contratos, ligar cobrando documentos e por ai vai, todos os dias a mesma coisa. Quando eu chegava e olhava aquela mesa entulhada de papeis, dava vontade de sair correndo dali e não voltar nunca mais! Trabalho que não exige nenhum tipo de criatividade, que não nos estimula, que não traz nada e que não contribuímos com nada, não é o sonho de ninguém. O que compensava eram as conversas com os amigos e as delicias que a minha amiga trazia para vender, mãos de fadas!

Festa de fim de ano do sindicato - ganhei um forno elétrico!

A outra coisa que me chateou muito na prefeitura foi o salário, praticamente um salário mínimo! Uma vez, mesmo que trêmula, me levantei e fui ao palco do sindicato falar sobre a nossa condição salarial, que é vergonhosa! Resolvi fazer um manifesto em nome da categoria e colher assinaturas. Meus colegas me ajudaram, mas estávamos em épocas eleitorais, nada foi resolvido. Ao menos, o novo prefeito prometeu que nenhum servidor da prefeitura ganhará menos que dois salários mínimos; realmente espero que isto aconteça, embora não esteja mais lá.

 
Passeata por melhores condições

Na verdade, muitas outras coisas que vi, que ouvi, que soube, me chatearam imensamente, não só relativas ao trabalho, mas por perceber como o mundo funciona e como a política é nojenta. Mas, quero esquecer tudo isso, por que apesar das coisas ruins, vivi momentos maravilhosos com pessoas maravilhosas, e apesar de pouco, foi com este salário que sobrevivi e que criei meus filhos. Obrigada PMOP.

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