Ouro Preto - Repúblicas Federais e os problemas na cidade


Ouro preto são muitas, mas a principal divisão é feita  baseando-se em duas categorias,  "forasteiros e nativos". Forasteiros são os turistas e principalmente os estudantes universitários, nativos são o povo que nasceu na cidade. Existe uma pequena animosidade entre essas duas porções, alimentada por anos e que faz crescer as diferenças entre elas. Antigamente, era muito difícil de se encontrar um ouropretano dentro das universidades, hoje, felizmente, essa realidade está mudada. Mas o fato é que são dois mundo diferentes que quase não se encontram, a não ser através do comércio.

Ouro Preto é uma cidade importantíssima no cenário mundial, palco da tal "Inconfidência Mineira", fato que usaram para criar marcos históricos para o Brasil. É também patrimônio Mundial da Humanidade, possui o seu riquíssimo conjunto arquitetônico, é um lugar efervescente de cultura e de saber, mas é também um local sombrio e cheio de histórias sinistras que as autoridades sempre tentam esconder.

A cidade possui a UFOP, o IFMG, grandes centro de educação e importantíssimos para a cidade e até mesmo para o Brasil. As qualidades destas instituições são reconhecidas e isso ninguém discute. A UFOP oferece aos seus alunos todas as condições necessárias para a permanência destes nos estudos, como bolsa alimentação, bolsa permanência e alojamentos, sem falar em programas voltados para a saúde, atendimento psicológico e outros que buscam promover o bem estar. Mas há algo que sempre incomodou a todos e que já foi alvo de muitas discussões que é a questão das repúblicas federais.

Repúblicas são casas destinadas à moradia de estudantes, podem ser particulares ou privadas. Em Ouro Preto há dezenas de repúblicas e muitas pertencem à universidade; são casas centenárias localizadas no centro, e que possuem uma longa tradição. O problema é que nestas repúblicas não entra quem não tem condição para pagar moradia, mas quem os moradores decidirem; para tanto, é necessário enfrentar uma longa "batalha", onde o calouro ou "bixo" é obrigado a passar por várias provações até ser admitido. Muitos são desrespeitados, tem seus pertences jogados na rua, são obrigados a fazer os piores serviços domésticos e a consumirem enormes quantidades de álcool. Muitos perdem o período e desenvolvem problemas psicológicos, alguns até gostam e esperam o momento de se tornarem moradores e adquirirem o direito de repetir o que lhes foi feito com um novo calouro.

Eu nunca participei de nenhuma festa dentro dessas republicas, mas já ouvi inúmeros relatos sobre o que acontece ali. Consumo de álcool e drogas, que muitas vezes acabaram em morte, e tudo o que se imaginar, sem restrições. Tudo isso seria aceitável, respeitando-se a liberdade individual, se não acontecesse dentro de casas pertencentes a uma instituição de ensino.

As pessoas tem medo de falar sobre este assunto, embora gostem de reclamar sem compromisso. Alguns estudantes se defendem, dizem que outras coisas matam mais que o álcool e que são adultos e tem o direito de se desestressarem para manter a sanidade mental; sim, são adultos e tem o direito de fazer o que desejarem com o seu corpo e a sua saúde, mas o problema é que isso tudo esta acontecendo, na maioria das vezes, dentro de prédios públicos. 

Muitos celebraram o título de cidades onde os universitários mais consomem bebida alcoólica, isso demonstra o valor que dão a este hábito de consumir grandes quantidades de álcool. Este é um problema de saúde, mas que não pertence apenas aos universitários. Nossa cidade tem inúmeros casos de "nativos alcoólatras", famílias destruídas por este hábito socialmente aceito e celebrado.

Dois estudantes morreram em menos de um mês dentro nestas repúblicas, e alguns pensam que isso seja normal, atacam a mídia e a chamam de oportunista. Se a mídia é ou não oportunista, isso pouco importa! O que importa são os fatos que se tornam insuportáveis a cada dia.

Não podemos mais tampar o sol com a peneira e está na hora de a universidade tomar as rédeas de seus imóveis. Uma reforma se faz necessária, essas republicas precisam de um direcionamento e de um acompanhamento. Muitas coisas acontecem dentro destes imóveis e isso prejudica toda a população que vive fora dessa realidade de festas sem limites. A cada esquina existe um ponto de drogas, e alguns nativos pobres, sem rumo, sem instrução,  estão se consumindo em drogas e miséria, tudo isso financiado pelas festas diárias de quem não abre mão de sua "liberdade".

Chega de hipocrisia, ninguém está satisfeito com a situação de Ouro Preto, cidade que recebeu o título de Lugar onde se bebe mais. Isso é triste, e o que é mais triste é a apologia a essa cultura do álcool, que se perpetua não só aqui, mas por todo o Brasil.

Reportagem do jornal

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