Pote de ouro



A Van seguia o seu curso e já entrava em Rodrigo Silva, quando avistamos o arco-íris naquele céu metade negro e metade radiante. A professora de educação física me disse em seu habitual e estranho bom-humor matutino:

_Aí, Lu, vai lá pegar o pote de ouro no fim do arco-íris, ele acaba alí, no mato!

Eu respondi, achando graça:

_Vou pegar, mas é carrapato!

_Há, há, há! Você vai pegar um pote de carrapato!

A piadinha me fez acordar da minha letargia matutina, também habitual. Fiquei pensando em como as pessoas podem ser tão diferentes, como cada ser pode se relacionar e enxergar as mesmas coisas de maneiras tão distanciadas.

Depois do trabalho, fui até o banco para pagar as minhas contas, também habituais de início de mês, e quando voltei, parei na porta do cinema, onde habitualmente se estaciona um vendedor de livros bem peculiar. Essa figura é muito interessante, como muitas outras que encontramos pelas ruas de Ouro Preto. O homem se locomove com a ajuda de uma bengala, e muitas vezes se perde em viagens proporcionadas pela literatura e pelo álcool. Usa um óculos estilo fundo de garrafa e possui uma fala arrastada, o que não lhe impede de ser bastante eloquente. Sempre me trata por senhorita, e gosta de filosofar com todos os que param para observar os exemplares. Passei , dei-lhe um sorriso e fiquei a analisar os livros. O homem, com o seu chapéu de palha, disse-me:

_A senhorita sempre de bom-humor, sempre sorridente! Está todo o mundo de cara fechada, preocupado com a crise, e a senhorita sorrindo...

Isso me fez parar para pensar pela segunda vez sobre como encaramos a vida.Fiquei feliz em ver que transmito essa imagem, a de bom-humor. Na verdade, mesmo estando pisoteada, procuro transmitir sempre o melhor de mim. Cansei-me de ser taciturna, quero que se sintam bem com a minha presença. Mesmo que eu esteja, habitualmente, em silêncio.

Comentários

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Pois essa é uma escolha bonita para a sua estrada e quem sabe exatemente aí estará o seu pote de ouro inesperado..beijos.

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  3. Lú, não conhecia este seu dom escritora.
    Canta, dança e sapateia, só falta divulgar...
    Beijão.

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