Eteviana

O dia estava quente, era mais uma tarde de verão, daquelas onde o asfalto ferve e as cores são intensas e vibrantes, quando os corpos não querem trabalhar muito. Eteviana nunca tinha sentido em sua pele bege aquele calor tão forte, estava se sentindo preguiçosa e disposta a se deitar em uma rede até o dia terminar e se refrescar. Apesar dessa disposição, ou indisposição do seu corpo, o coração não batia no mesmo ritmo, não depois da noite em que conhecera aquele ser especial! Ela tinha seguido todos os passos que a amiga a ensinara, fingir ignorar, fazer charminho, jogar um cabelo, dar sorrisinhos, e todas essas coisas que para ela não faziam sentido algum. O engraçado foi que acabara descobrindo o gosto daquelas brincadeiras, não era só fazer gestos e caretas sem sentido, havia prazer naquele joguinho de sedução e poder. Aos poucos ela estava conseguindo compreender algumas das práticas humanas de acasalamento, o seu objeto de estudo. Ela não contava, no entanto, que acabaria se jogando de corpo e alma em uma dessas experiências e sentindo na pele os prazeres e os sofrimentos de quem está enamorado.

A noite estava muito quente, apesar da chuva que havia caído. Os corpos estavam todos suados e assanhados, havia um aroma diferente no ar, não apenas aquele aroma dos perfumes misturados aos das bebidas, mas o aroma dos corpos que se querem atrair. Toda aquela agitação e todos aqueles perfumes instigavam e muito os sentidos de Eteviana. Pela segunda vez dentro de uma boate, e desta vez, um pouco mais bem-preparada, Eteviana pode observar com maior atenção as ações e reações dos seres alí presentes: todos muito alegres e eufóricos, muito disponíveis e dispostos, exalando charme e beleza, até os que não eram belos.

_Vamos, Viana, vamos dançar!

Chamou a inseparável amiga e consultora.

_Ah, não, eu não sei dançar! Nunca dancei na vida!

_Deixa de ser boba, tem coisas que a gente já nasce sabendo! Vem!

Eteviana não estava ali para brincadeiras, mas para pesquisar sobre todos os detalhes dos costumes humanos, por isso abandonou a vergonha e foi para o meio do salão com a amiga, experimentar mais aquele estranho ritual.

_Isso, Viana, mexe o esqueleto! Hoje Cê vai aproveitar, viu, Viana, vai dançar até! E vai beber também, bebe aqui um pouquinho dessa Cuba!

Sem ter como recusar, Eteviana se viu obrigada a ingerir o curioso líquido escuro.Para a sua surpresa, a bebida era agradavelmente estranha, constatou que era levemente gasosa e alcoolica. Eteviana já tinha ouvido falar sobre as alterações que o álcool era capaz de causar nos humanos, e não queria que os seus reflexos e o seu poder dedutivo fossem prejudicados por esse elemento, mas depois, chegou a conclusão de que essa seria uma experiência boa para os seus estudos.

A alienígena estava em sua segunda dose e estava se sentindo tão relaxada e desinibida, que achou o dado muito interessante. Na pista se mexia como ninguém, mesmo que desajeitadamente. Acabou por chamar a atenção de um jovem que estava sentado no bar, observando os "animados". Eteviana dançava descontraídamente quando os seus olhinhos roxos se cruzaram com os do belo rapaz do bar, ela nunca pensou que o calor pudesse aumentar tanto e de uma vez só. Suas faces pálidas se ruborizaram e ela errou o passo de dança, saiu totalmente do rítmo. Ela então se lembrou do que a amiga havia lhe dito, fingir que não estava interessada. Era muito difícil fingir e não olhar para aquele jovem tão atraente, não fazia sentido, mas ela se conteve. depois se lembrou dos sorrisinhos e das jogadas de cabelo, isso ela fez até sem perceber. Ela era uma extra-terrestre e aquele cara era um humano, será que ela deveria ir tão longe em suas pesquisas ao ponto de experimentar em vez de só observar?

Comentários

  1. aiai o coração esmaga a gente
    rsss dorei
    bj dayane
    souumhomemdepaixoes.blogspot.com

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  2. Gostei muito, Lu. Sutil, inteligente e intimista. É bom saber que mesmo as ETevianas não são facilmente compreendidas. Vou pesquisar o comportamento delas também. Mas indo direto ao assunto, é um texto que, sim, merece publicação. O que ressaltamos nessa linha de narração, em que se percebe a ótica feminina, e que o foco narrativo nos dá a preceber nuances e detalhes que falam muito. Neste sentido a grande empatia com o público leitor que vê nas simples relações cotidianas o drama psicológico da conquista. Todos se enxergarão como numa tela repetindo o feito dos persongens.
    Abração

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  3. Joguinhos de sedução são mesmo encantadores. Isso é sobre-humano por isso até a Eteviana sentiu. Rsrs...E sabe de uma coisa? Sua escrita também está muito sedutora, e essa maldade de nos deixar no ar na melhor parte da história é deliciosa e ao mesmo tempo cruel ! Abraços
    Adélia Carvalho

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