Sempre que pesquisava sobre as dificuldades de se ser uma madrasta, eu me deparava com textos e depoimentos dos mais diversos, a maioria deles falava dos pontos negativos de se envolver com homens que já tenham filhos. O problema é que o tipo de relacionamento entre mulheres e filhos do companheiro parece ser mais complicado do que o relacionamento que o homem desenvolve com os filhos de sua parceira.
Eu sempre leio em textos, as pessoas dizendo que a madrasta não é a mãe e nunca será, que precisa se comportar como amiga e ganhar a confiança das crianças, precisa entender as dificuldades delas e compreender que elas tenham ciumes em relação ao pai. Concordo plenamente, mas as coisas são mais complicadas quando as crianças moram com o pai, e a madrasta, tem sim, não que tomar o lugar, mas que fazer o papel de mãe.
Os primeiros conflitos podem ser os que se relacionam com as diferenças nas visões educacionais que os pais possuem. Se uma madrasta for muito liberal e o pai mais rígido, isso poderá gerar grandes embates na relação dos dois e da família em geral; ciúmes que os enteados venham a sentir dos pais e dos filhos dos cônjuges dos pais, descontentamento pela mudança de vida, da rotina e do ambiente, saudades da antiga situação, e tantas outras coisas, podem ser pedras infernais nos sapatos da nova família que se forma. Ser uma madrasta dentro desse turbilhão não é nada fácil. Mas, uma frase que li em alguma dessas reportagens dizia: Não dá para consertar o que você não quebrou. Concordo. Mas precisamos criar estratégias para viver com os cacos que restaram, e isso é "osso".
Sempre haverá referências à situações passadas, palavras mal ditas, explosões de vez em quando; mas haverá também a criação de algo novo, algo que vai se transformando com o tempo, com as palavras e as ações. A madrasta que mora com os enteados não pode ser tratada como mera companheira do pai; e não pode aceitar ser uma mera peça dentro de sua própria casa. A casa, o lar, é governado pelos adultos que resolveram se unir, e juntos, tomam decisões para o bem deles e dos filhos de ambos. Os filhos tomarão decisões quando forem capazes financeira e mentalmente. E pronto.
Ninguém é obrigado a cuidar nem dos próprios filhos se não quiser, basta dá-los à adoção. Talvez seja obrigado a lhes dar dinheiro para se manterem, nada além. Se alguém está disposto a acordar, lhes preparar o café, saber se fizeram as lições, se as unhas estão grandes, se os cabelos estão ensebados, penteados, os dentes escovados, se estão andando descalços, deitando sujos, se estão com fome, se estão doentes, se os dentinhos caíram e a fada do dente trará uma moedinha, esse alguém não é uma mera peça. Se ainda esse alguém está menos preocupado em ser chato que ensinar-lhes que não devem comer com as mãos, falar de boca cheia, que devem repartir com educação, lavar o que sujar, fazer as coisas por eles mesmos, agradecer, aceitar que nem tudo pode, e que deve comer de maneira adequada, esse alguém não é apenas o companheiro do responsável. Esse alguém é aquele que vai construir maquetes e bonequinhas de festa junina, que vai comprar o presente baratinho, mas que sabe que vai agradar; é o alguém que ficou, por que quis. Esse alguém não é só a companheira do pai.
Eu já disse, não sou madrasta, sou madre. Não tem nada relacionado com madres religiosas, mas com a origem da palavra mãe. Sou mãe dos meus de sangue, a quem muito amo e dediquei minha vida, e sou madre de meus enteados, que também estou aprendendo a amar. E não faço nada em troca de respostas, nem retribuições futuras, apenas exijo o respeito que mereço. E que haja muitas pessoas que estejam dispostas a lhes ensinar coisas que os tornarão capazes de serem pessoas dignas e felizes.
Eu sei o meu lugar, e não desejo mais que isso.
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