Ética.
Primeiramente,
não existe uma ética universal. Supor que exista uma ética universal é
corroborar o naturalismo, dizer que o ser humano nasce assim ou assado. Por
outro lado, supor que não somos naturais e ignorar que ainda não sabemos
quase nada sobre nossa natureza, é negar a obviedade que explode sob nossos
olhos e que está presente em perguntas infantis das quais nos esquecemos quando
crescemos. Como o João-de-Barro constrói sua casa sem nenhuma aula de
arquitetura? Como as abelhas sabem produzir o mel e organizar suas colmeias?
Como os animais sabem o que é e como cruzar e sabem cuidar de seus filhos? Não
é por observar e copiar a ação do outro, mesmo que isolado, saberá o que fazer.
Há algo, chamemos, como chamaram, de instinto. Não, não nascemos sabendo o que
é bom ou ruim, nascemos sabendo o que devemos fazer para sobreviver e procriar,
grossamente. Porém, a humanidade se complexificou, e o que precisamos
saber/fazer para sobreviver, mais ainda. Inventamos desejos que vão além das
necessidades básicas, as comunidades cresceram e as dificuldades em se viver
nelas, mais ainda. Normas, leis, esquemas,estruturas foram criados. A ética
também.
Escolhemos
a ética e ela nos escolhe. Ela nos escolhe quando nascemos em uma sociedade em
que ela está inserida. Nós a escolhemos quando analisamos um determinado
conjunto de ética e preferimos um universo a outro. É o que acontece quando um
jovem ocidental decide que matar pessoas e se matar por uma causa é algo
legítimo. Ética é escolha e hábito.
Alguns
teóricos definem ética com base na sociologia e Marx; para esses, a ética
deveria se basear no bem comum da sociedade, na aceitação de que devemos tratar
a todos como a nós mesmos, pois só dessa forma, haverá harmonia e igualdade
dentro da sociedade. Não digo que isso seja correto ou errado, concordo até com
essa afirmação, digo apenas que é um ponto de vista, como tudo. Considerando
que o objetivo individual seja que a sociedade viva em paz, e que essa paz seja
benéfica para o individual e para a humanidade, definimos certas regras que
poderiam levar a esse estágio de sociedade ideal. É uma escolha baseada em uma
lógica. Quando falamos de lógica, não quer dizer que as considerações sejam
inquestionáveis como o resultado de uma equação matemática, mas que o ponto em questão
possui um concatenamento de ideias que leva a uma certa conclusão aparentemente
lógica. Cada teoria possui sua lógica, até mesmo a de Hitler, tanto que
convenceu a milhares.
A
lógica é construída através de argumentos que movem e comovem, já diria
Socrátes com seu pathos, logos e ethos, que no fim não se
dividem, mas trabalham conjuntamente.
Deixando
essa discussão sobre o que seja ética de lado, o que me levou a escrever mais
essa postagem que ninguém lerá, é o enjoamento crescente que sinto com a
hipocrisia e a falta de ética, a corrente em nossa sociedade, de alguns seres
viventes.
A
mentira é algo exclusivamente humano, obviamente, por depender da linguagem. A
mentira consiste em criar fatos, situações, identidades, sentimentos, que não
existem e nunca existiram. O mentiroso encena, finge, engana, com a intenção de
levar alguma vantagem, seja de espécie material ou social. Para mim, o
mentiroso fede e é antiético, dentro da ética que escolhi.
Em
alguns casos, a mentira pode ser considerada ética, como quando contada para
salvar uma vida. Esse também é o papel da ética, ponderar em que situações é
permitido um determinado comportamento. Porém, como podemos perceber no mundo
real, ética serve muito mais para teatro que para regra a ser cumprida.
Talvez,
um psicopata que tenha vendido o seu filho para o amante e depois escrito em
redes sociais o quanto ama esse filho, mais que tudo nesse mundo, tenha a sua
lógica que faz parte de sua ética. Uma pessoa que engana a própria mãe,
que a rouba, explora, e tira fotos com ela no hospital, acha que está correta
dentro de sua ética individualista. Outra que carregue bandeiras de lutas
sociais, e dentro de casa humilha seus entes, usa da lógica de manter o seu
próprio bem estar. Aquele que fura fila quando encontra amigos, aquele que faz
e aceita suborno em autoescolas, aquele que quer pegar mais docinhos nas
festas, aquele que pensa que os outros são obrigados a manter seus luxos,
trabalham sob uma ética, uma lógica. A ética do individualismo, do foda-se
todo o mundo.
Ética
é escolha. Escolha social e pessoal. Eu escolho ser eu mesma, não ser escrava
da opinião alheia, não ter ídolos. Eu escolho não ferir e não enganar. Eu
escolho tentar fazer com que a ética de minha família leve em consideração
esses pontos. Que sejamos pessoas naturais, reais e humanas. Que respeitemos o
outro exatamente da mesma forma que desejamos ser respeitados. Que cada um vá e
lute por sua sobrevivência e não vá se escorar no outro; que escolham a ética
da realidade e da liberdade.
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