A construção de um relacionamento


Por muito pouco o conforto da intimidade plena pode ser perdido; basta um cisco de dúvida para que a desconfiança venha atormentar os que antes possuíam certezas. E por tão pouco, por caprichos, por vaidades, por curiosidade ou lascívia as pessoas deixam de ser quem são para transformarem-se no que não querem que os outros sejam para elas. Por muito pouco, uma pedra fundamental da base é retirada, fazendo com que a construção não mais se erga. Por desleixo, as pedras são mal colocadas, deixando buracos para que o vento do inverno entre. 

Quando construímos uma relação, deveríamos estar atentos para o que ela significa e sobre o objetivo dela. Quando estamos fora, fazemos planos e idealizamos, quando entramos, esquecemo-nos do que desejávamos e porque desejávamos,  Banalizamos. Deixamos que as portas e as janelas se abram novamente para que moscas venham nos incomodar até que desejemos sair para o sol. Não percebemos que as moscas só entram se a casa estiver suja e convidativa para elas. Desejamos em nosso íntimo que as moscas venham para nos tirar do tédio de não ter moscas para espantar. As moscas verdes e azuis entram e botam seus bernes. Um dia eles saem da pele causando comichão e dor.

A mente esquece-se facilmente da ânsia passada quando o conforto da rotina se instala. Nova ânsia se forma, pois nada é o bastante para os que não sabem o que realmente querem. Talvez nada seja o bastante mesmo, e o que exista seja apenas busca. 

Quando permitimos que os animais peçonhentos entrem, não podemos culpar o tempo. Culpemo-nos a nós mesmos pelas escolhas mal feitas e pelo descuido no andamento da construção. Devemos culpar-nos por não ter removido todo o entulho e o matagal que ainda estava lá fora. Devemos culpar-nos por deixar buraquinhos nas paredes e escancarar as portas. Devemos culpar-nos por não conseguir desfazer de tralhas inúteis que se acumularam com o tempo. A culpa não é do escorpião, da aranha ou das moscas por procurarem abrigo e comida. A culpa é nossa de fornecer, mesmo que indiretamente, o que eles necessitam. A culpa é nossa em nunca nos contentarmos com a casa em construção. 

Se chove dentro da sua casa ou é frio demais, ou se ainda, o sol torra-lhe os miolos, a culpa não é de Deus. Se sua casa desmoronar-se, reveja como foi construída, especialmente as bases. Se enquanto constrói o seu lar, deseja voltar para a casa antiga, ou deseja conhecer outras construções, a sua casa será uma casinha de bonecas prestes a cair. Cada casa tem suas características, seu terreno, sua vizinhança, cada casa é um novo universo. Planeje sua casa com cuidado, pois ela é onde passará boa parte de sua vida. Se for esperto na construção.

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