tag:blogger.com,1999:blog-50079882818847183342024-03-11T21:40:30.711-03:00Mulher AlienígenaReflexões de uma mulher autista.Luciana Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/17904001194241044606noreply@blogger.comBlogger620125tag:blogger.com,1999:blog-5007988281884718334.post-46707595657027011192023-12-14T14:37:00.002-03:002023-12-14T14:37:26.042-03:00Reflexões de fim de mundo<p></p><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"> </span></div><table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg6xDp8SWY8dUluyGFGk6ag92v0A9NqNonHmcXFpj-DwD5py_WUTfXyN8Yz7XqQcTc97zUazbhsCPWXRZe7F01lbCxkZ_FNeiiFmW0H9Zrs6aUb3ePjm7EfGz6CnTBEtMzOhWt-3EKGXpaaYOKTBzBeDRMYzUaWeQTRvna3OM0l4s_IwQBMDlIST7F5NUIK/s1024/OIG%20(9).jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><span style="font-family: arial;"><img border="0" data-original-height="1024" data-original-width="1024" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg6xDp8SWY8dUluyGFGk6ag92v0A9NqNonHmcXFpj-DwD5py_WUTfXyN8Yz7XqQcTc97zUazbhsCPWXRZe7F01lbCxkZ_FNeiiFmW0H9Zrs6aUb3ePjm7EfGz6CnTBEtMzOhWt-3EKGXpaaYOKTBzBeDRMYzUaWeQTRvna3OM0l4s_IwQBMDlIST7F5NUIK/s320/OIG%20(9).jpeg" width="320" /></span></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-family: arial;">Imagem gerada pelo Bing</span></td></tr></tbody></table><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">O dia estava esquisito, como todos os dias do último mês do ano. Fim de ano carrega sentimentos que invadem as pessoas, modificam seu modo de pensar e pesam a atmosfera; são tantas as obrigações sociais, festividades forçadas, tantos sorrisos desarmoniosos que os músculos faciais terminam o dia exaustos. Há também toda a preparação para o encontro familiar anual, aquele encontro em que as tentativas de amor são combatidas pelas hipocrisias cotidianas. Além de tudo isso, a obrigação de comprar bugigangas com o décimo terceiro, que deveria sobrar para pagar os impostos do começo do próximo ano e o material escolar dos filhos, torna ainda mais torturante a obstinação de ser e parecer feliz. Para terminar o desenho da ambientação, é preciso dizer que ainda é época de desastres no mundo, chuvas intensas e casas desabando.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Dito isso, neste clima tão agradável apresentado, fui pegar o ônibus para fazer a progressiva que odeio, mas que facilita a minha vida e me faz parecer, aos olhos da sociedade, mais "apresentável", quando um senhorzinho e uma senhorinha muito bem humorados e ativos começaram a conversar. Os dois disseram ter a mesma idade, 82 anos, e quanta vida havia neles! A senhora tem vitiligo, as manchinhas mudam conforme o dia e a deixam fofa de qualquer jeito. Os dois riam, falavam de esperança, faziam piada. Eu e outras pessoas, como supostamente seriam as pessoas de mais de 80 anos, olhavamos vergonhosamente para a tela.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">No ônibus, uma senhora preta puxa papo. Estava com o pé estrupiado, o tinha torcido e estava indo trabalhar. Eu, com a minha lógica disse que ela deveria pegar um atestado, mas ela disse que não tinha ninguém para trabalhar no seu lugar e os pobres turistas iriam ficar abandonados. O dono da pousada, suponho, teria mais de 90 anos. Segundo a dona, ela trabalhava lá há mais de 30 anos e sabia como era, que realmente não tinha ninguém para ficar em seu lugar. Mostrou-me com um certo orgulho a cicatriz na mão criada quando foi limpar o terreno da pousada e um bambu perfurou tudo; segundo ela, colocou luvas e voltou para o trabalho. Via-se muita satisfação ao falar de seus feitos, como o de ter começado a trabalhar aos 9 anos de idade, "hoje não vê mais ninguém trabalhando nessa idade", dizia, como se a geração atual fosse "fraca". Com a minha lógica, perguntei: você acha certo criança trabalhar? Besteira a minha, ela não tinha resposta porque não conhecia outra verdade. Por um momento, comparou o desastre de Brumadinho com o seu acidente em que perfurou a mão, como se o que valesse fosse a vontade de Deus e não a nossa. Mais uma vez, argumentei sobre a responsabilidade dos seres humanos envolvidos, mas sabia ser em vão. Despedi-me e fui pegar outro ônibus.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Pessoas... Do que precisamos para viver bem, de conforto, paz, direitos, respeito, ou de acreditar que estamos cumprindo bem o nosso papel nesse mundo caótico?</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Reflexões de fim de mundo.</span></p>Luciana Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/17904001194241044606noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5007988281884718334.post-45077597973170358632023-12-07T20:06:00.003-03:002023-12-07T20:12:51.788-03:00Uma alienígena na banca de doutorado<p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"> </span></p><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEiQRKNB4GihznLTYAmLQgZANjXnoXwqtDZymon9HZmYHLDS8_dYOkLYP9ClKAc0QkK2jFv60iekhNndx9grvO2E1-BJm6UZBAB6gVuGy6zoBuif0IvS88KEKguh5PyaNw0ecjZnWZXHYszWOxjKRKiYJSIKVngrxVx3sV18GVCHSN1_kZv4WWRpDcoLCcen" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img data-original-height="1024" data-original-width="1024" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEiQRKNB4GihznLTYAmLQgZANjXnoXwqtDZymon9HZmYHLDS8_dYOkLYP9ClKAc0QkK2jFv60iekhNndx9grvO2E1-BJm6UZBAB6gVuGy6zoBuif0IvS88KEKguh5PyaNw0ecjZnWZXHYszWOxjKRKiYJSIKVngrxVx3sV18GVCHSN1_kZv4WWRpDcoLCcen=w400-h400" title="Imagem criada através do Bing." width="400" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Imagem criada pelo Bing</td></tr></tbody></table><span style="font-family: arial;"><br /></span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">A "alienigenice" não me abandona, embora eu queira escondê-la, disfarça-la, nega-la sublima-la. Sobreviver em um planeta inóspito para os neuroatípicos dói, mesmo depois do alívio de perceber que há outros como eu por aí e que nossa forma de sentir, sorver e compreender tudo o que nos cerca faz parte de algo que já é conhecido e descrito pela medicina e que é a verdade de muitos; não estar só na esquisitice e na inadequação traz um pouco de conforto, mas não nos livra dos julgamentos e das barreiras que o "ser" inadequadamente implica.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Embora eu tenha desenvolvido habilidades de analisar discursos, linguagens, expressões, quando preciso me expressar ainda sinto-me completamente incompetente. As áreas acionadas pelo cérebro em cada ação funcionam de maneiras diferentes, mas os seres humanos que se relacionam conosco não querem saber de nada disso, apenas apreendem a inabilidade daqueles com quem estão interagindo. Por milhares de vezes, chamaram-me de doida, estranha, metida, emburrada, esquisita, calada, tímida, robô, insensível, antissocial (a lista se alonga), pois nunca soube expressar o que sentia, nem tampouco me comovia pelas mesmas causas que a maioria dos mortais. Tenho dificuldade de manter relações, e isso não é falta de sentimento, pois tudo me dói. Talvez a dor seja um dos motivos que me afastam das pessoas, quanto menos me relacionar, menores dores sentirei.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">O espectro alienígena não me prejudica apenas nos relacionamentos íntimos, mas, também, em todo o resto, já que a capacidade de me expressar oralmente, teoricamente, diz sobre o nível de minhas capacidades intelectuais; perdi a conta de quantas vezes a minha inteligência foi subjugada, de quantas vezes se espantaram por eu conseguir isso ou aquilo, de quantas vezes as pessoas se surpreenderam com alguns feitos que consegui. Uma mulher esquisita, como pode! Porém, ainda sigo sendo prejudicada por minha inabilidade de me comunicar oralmente.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">O último baque aconteceu agora, num processo de seleção de doutorado; milagrosamente, o meu projeto foi um dos três selecionados pelo orientador, fiquei esperançosa, pois a minha nota era igual a de um e apenas um ponto menor que a do outro. Na entrevista, fui péssima, apenas eu e uma outra candidata do mestrado, em todo o processo, tiramos 3,5, derrota. O que me deixou mais chateada, foi a discrepância entre a nota do projeto e a nota da entrevista, o que sinaliza que algo deu muito errado com a minha fala. No momento da entrevista, o avaliador disse mais ou menos isso:</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">_Quando entrevistamos alguém, a expectativa é a de que o projeto saia melhor do que entrou, e você apresentou coisas que não estavam claras no projeto. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Essa fala me deu esperanças, mas ela quis dizer exatamente o oposto do que pensei, ou seja, eu, na verdade, não fui capaz de defender o meu projeto cuja relevância eu sei que possui.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">O processo tinha vagas para PCD (Pessoa com Deficiência), mas o meu laudo de neuropsicólogo tem mais de 12 meses e não é aceito para tais fins; além disso, eu não quero admitir que ainda não superei completamente minhas dificuldades, ou minhas características neurobiológicas, ainda não consegui ensinar ao meu cérebro e a todo o sistema o que as pessoas esperam, como eu devo falar, o que falar, quando e sobre as etiquetas, tudo o que eu consigo identificar no momento da análise de outros discursos, que não os meus. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Talvez, o meu projeto seja realmente horrível, não apresente uma questão e seja sem base teórica, talvez o meu currículo Lattes seja uma porcaria por ter nascido como nasci (pobre, autista), talvez esteja na área errada. Talvez, a desclassificação tenha outros motivos, mas essa não foi a primeira entrevista da qual saí parecendo um jegue anencefálico. Talvez eu apenas esteja frustrada.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Pode ser que eu precise dizer para mim e para o mundo quem eu sou, buscar um laudo válido e utilizá-lo quando tiver o direito, o direito de ter minhas peculiaridades avaliadas de forma justa, ou seja, vistas como elas são e não sendo estraçalhadas por subjetividades e julgamentos de mérito com padrões estabelecidos para apenas uma classe de seres humanos. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Infelizmente, no sistema em que vivemos, as diferenças estão se tornando cada vez mais gritantes e excludentes, nascer fora de círculos nos deixa eternamente fora deles. Talvez eu devesse nomear claramente algumas coisas, sem medo! Pois aí vai, sou AUTISTA e estamos no CAPITALISMO, existem modelos, círculos, relações que deixam tudo sempre como é, essa é a realidade. Sendo inescapável essa verdade, a solução, por agora, é tentar tirar proveito dos poucos direitos que temos, vou brigar por eles, enquanto os tivermos, com a esperança de que tudo mude logo e de que todos, que desejem tanto estudar como eu, tenham o direito de também estarem dentro de uma universidade.</span></p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p><br /></p>Luciana Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/17904001194241044606noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5007988281884718334.post-86133303885466465512023-11-08T11:00:00.002-03:002023-11-08T20:34:11.620-03:00A mulher amorfa<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEhw6tJKbKUJVHp8Oedtd3vOXbd33V3ae8Locdi6oJkAXnwCMJ41iaz-xtxMBC0hjl-p9oJFcXnchUbH2AdrIOJAslke1pTqs95hpmab3MWjgrCO6XUhM1D7_rZEST9KsiwBQX_qfoQaibhXz0mqYHYPvr60DeiR-vlPLiTqMs7rCIXwoba6yZhNbnabNMze" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img data-original-height="1024" data-original-width="1024" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEhw6tJKbKUJVHp8Oedtd3vOXbd33V3ae8Locdi6oJkAXnwCMJ41iaz-xtxMBC0hjl-p9oJFcXnchUbH2AdrIOJAslke1pTqs95hpmab3MWjgrCO6XUhM1D7_rZEST9KsiwBQX_qfoQaibhXz0mqYHYPvr60DeiR-vlPLiTqMs7rCIXwoba6yZhNbnabNMze=w400-h400" title="Criado por mim através do Bing." width="400" /></a></div><br /><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Lembra daquela senhora amorfa, meio redonda, meio baixa, de andar ligeiro e invisível que servia as pessoas, especialmente nas novelas da TV? Muitas vezes, ela era preta, confundida com um móvel que não ouve nada e apenas serve para trazer conforto à vida de alguns; aquela mulher tinha fome, mas, embora fizesse cardápios magníficos e caros, não podia comer do que sua mão preparava. Essa senhora era acostumada a comer depressa, às vezes em pé, escondida atrás de uma geladeira ou de outra coisa como ela. Em algumas casas, tinha talheres e copos separados, cada ser precisava utilizar o que lhe cabia, contaminação não é brincadeira! Em outras casas, tinha que levar sua marmita com ovo, porque já recebia salário, não podia gerar gastos.</span></div><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Muitas dessas senhoras eram raptadas cedo, lá pelos sete anos, pois geralmente faziam parte de família miserável e numerosa que se sentia confortada e esperançosa porque uma outra família rica iria cuidar da filha. Dizia, a família rica, que a menina também era de casa, mas ela não ia para a escola, não aprendia nada a não ser servir os outros seres humanos e ter gratidão por receber teto e comida, porque uma miserável, que morreria a míngua, não se atreveria a reclamar de almas cristãs tão caridosas! Essas escravinhas modernas viviam ali, sem se casarem, sem terem filhos, eternamente gratas por poderem servir a almas abençoadas que jogavam suas cuecas e calcinhas infestadas para que elas as lavassem .</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Algumas dessas empregadas tinham familiares, de vez em quando, num sábado ou domingo, quando recebiam liberdade provisória. Elas cuidavam de filhos mimados de dondocas enquanto seus filhos se criavam pelas ruas com as migalhas que a mãe trazia dos restos dos senhores; uma ou outra tinha a sorte de ser empregada de senhores mais caridosos, que as ajudavam com alguma laje, cesta básica, roupas usadas, é o que um cristão deve fazer. Quem mais poderia lavar suas privadas tão bem, enfiar a mão nos dejetos humanos? Ninguém da família dos ricos ou grupo de amigos, certamente.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Lembra - se dessa mulher amorfa? Muitos se lembrarão muito bem, pois ela era avó, mãe, filha, irmã da maioria dos brasileiros; outros se lembrarão de que alguém assim esteve em suas casas por algum tempo e muitos gostariam de ter um bem como esse das novelas, ascendendo na vida, porque isso significa ser bem sucedido. Pois bem, essa pessoa amorfa era minha mãe. Descobri recentemente que ela escreve com uma clareza e perspicácia que eu não conhecia, porque talvez ela seja como eu, se aquieta em seu canto para não chamar atenção. Descobri também sua voz afinada cantando, depois de seus 60 anos, nunca a tinha ouvido cantar! De sua alma fina e sensível, já conhecia fragmentos, mas o ser filha não me deixava a enxergar como realmente era, e hoje vejo que tenho mais dela que do meu pai. Essa mulher maravilhosa poderia ter sido uma grande artista e articuladora se tivesse tido a chance, se não vivêssemos em um sistema que inventa descaradamente uma meritocracia impossível e intragavelmente alienadora. Essa mulher não é amorfa, ela é uma mulher extraordinária e teria sido ainda mais se vivêssemos em um mundo com valores diferentes dos que temos no capitalismo. Revolucionemos!</span></p>Luciana Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/17904001194241044606noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5007988281884718334.post-34950776270549156602023-04-24T20:07:00.004-03:002023-04-24T21:22:22.066-03:00O melhor show de todos<p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: arial;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEhYcVbGiNuzYwiyVPlAis1YDIjjqId9DLiX1fdG06WJ5Iwg84Nnf0lno1VE_-n2PP3PHyx_Wr05QiDtyMCQsxrIfSz2gFX0dOZmMd1O24iuSQMrgikVsrpE5-eJWdwpWMNKEEzXazsVF3mujuQyzFzJ1md8qdM_Hee_MJk5zVp_eFGL-bwm1glgL7o4bQ" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="1080" data-original-width="1080" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEhYcVbGiNuzYwiyVPlAis1YDIjjqId9DLiX1fdG06WJ5Iwg84Nnf0lno1VE_-n2PP3PHyx_Wr05QiDtyMCQsxrIfSz2gFX0dOZmMd1O24iuSQMrgikVsrpE5-eJWdwpWMNKEEzXazsVF3mujuQyzFzJ1md8qdM_Hee_MJk5zVp_eFGL-bwm1glgL7o4bQ=w400-h400" width="400" /></a></span></div><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Hoje em dia, na minha idade (e antes dela também), ir a algum show tem que valer muito a pena. Show é um troço lotado, eu nunca vejo os artistas (por causa do meu tamanho), geralmente o som é ruim, o artista só chega, canta e vai embora e é difícil voltar para casa depois de ficar horas esperando o show começar atrasado. Mas, tem um show que ficou na minha memória.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Chitãozinho e Xororó, eu nem sabia que gostava deles, nem sabia o quanto eles me pertenciam e "trilhavam" minha história de vida até o dia em que fui a um show deles na minha Ouro Preto, em 2012. Estava com minha irmã e duas primas, de corpo e alma presentes, sem nenhum outro interesse além de estarmos ali para o show. Eu nem era uma pessoa que gostava de sair, também não saíamos juntas. Lembro-me de nós cantando todas as músicas com alegria, ficamos roucas. Era evidente que Evidências seria o ponto alto, foi mágica aquela noite. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Aquele show me fez enxergar o que negava, que tinha um "fogão de lenha" em meu passado onde cantava a "majestade, o sabiá."</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">O tempo passou, minha irmã se foi para outro plano, tantas coisas aconteceram... Minha prima está com problemas de saúde e a outra teve uma linda bebezinha. Tudo mudou. Nunca mais repetiremos aquela noite.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Tudo passou num piscar de olhos e continuamos lutando para conseguir sobreviver e para ter coisas, e essa luta nos leva a nos esquecermos de que o único propósito de estarmos vivos e de ter coisas é para usufruir, a vida e as coisas. Usufruir, e nada mais.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><b>Ajude na Vakinha da minha prima: <a href="https://www.vakinha.com.br/vaquinha/erika-faria">https://www.vakinha.com.br/vaquinha/erika-faria</a></b></span></p>Luciana Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/17904001194241044606noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-5007988281884718334.post-66022930880177396532023-03-06T21:20:00.003-03:002023-03-07T15:41:43.718-03:00Por que eu sou de esquerda?<p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEgzNzVfAOyXbZIn644EI4LJROmKmnlc3yt1w1epFevJIFCw9N4BlrRF2x9TdZ1AQDjBGVSAjzPyc3f6dE9KClvCM7opXO9wpMsHQlMu1_YCTySEHSL1fQUSm6ephUoG_Dw3M3qEOZRhWOnvZtkSAzkV8E5YbNqN8PNR7Z9JsSsrMtKJ8BWpVGuswdCoQQ" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="300" data-original-width="400" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEgzNzVfAOyXbZIn644EI4LJROmKmnlc3yt1w1epFevJIFCw9N4BlrRF2x9TdZ1AQDjBGVSAjzPyc3f6dE9KClvCM7opXO9wpMsHQlMu1_YCTySEHSL1fQUSm6ephUoG_Dw3M3qEOZRhWOnvZtkSAzkV8E5YbNqN8PNR7Z9JsSsrMtKJ8BWpVGuswdCoQQ=w400-h300" width="400" /></a></div><br /><br /><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Eu sou uma ignorante em diversos assuntos e assumo isso, porque é a verdade, o que muitos não fazem. Eu admito que não li todas as obras de Marx, não sei o suficiente de economia para me tornar ministra e muitas coisas das quais penso saber, preciso pesquisar antes de falar sobre elas. De uma coisa eu sei, eu sou pobre, menos que antes e espero que mais que amanhã, mas sempre fui pobre. Quando era criança, sonhava em ter uma casa no centro de Ouro Preto, ter calças jeans, ter comida. Passei perrengues, mas minha mãe e tias passaram infinitas vezes mais, sofrendo com a miséria e com a violência doméstica criadas pelo machismo que levou meus dois avôs, o paterno e o materno, a se suicidarem quando meus pais ainda eram bebês. Antes de morrer, meu avô materno não havia deixado de amarrar suas filhas em pés de bananeiras e espancá-las, além de inúmeras outras atrocidades que cometeu durante sua existência inútil.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Eu sei o que vivo diariamente; sei que o meu filho ficou um ano trancado num quarto estudando para passar em medicina e, mesmo agora, depois de passar, me pergunta se suas roupas estão adequadas ou vão confundi-lo com um marginal por ser preto. Sei que meu outro filho também já sofreu racismo, foi seguido, revistado, sei que ele também tem medo.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">O que vivo me diz, quando eu vou ao supermercado, que eu nunca serei rica, porque não importa nada, o lucro sempre vai gritar acima das vidas humanas e é por isso que, mesmo com o agronegócio batendo recordes anuais de lucro, a comida na mesa de nosso país está cada vez mais cara e inacessível; qual a lógica disso? Eu sei que muitos empresários escravizam pessoas (ainda) para lucrar em cima do sangue e do suor dos trabalhadores enquanto vendem "vinhos para consumidores de alto padrão". O pior é que todos sabem disso e muitos não se chocam porque acham que estão em um patamar superior e que isso não diz respeito a eles; essas pessoas são como os pretos que eram pagos para perseguir, caçar, torturar e até matar sua própria gente por causa do degrau a mais em que supunham estar.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Muitos brasileiros querem matar os pretos, os baianos, todos os nordestinos, as mulheres, os ateus, os professores, os universitários, os que se definem de forma diferente em questão à sexualidade e ao gênero, e por aí vai a lista; eles querem matar, exterminar, sangrar, atirar com suas arminhas e acabar com o que chamam de escória da humanidade, de vagabundos, de marginais. Isso não é uma hipérbole.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">A maioria dessas pessoas, e de todas as outras, pensa que só há uma maneira de viver, de existir e de ser, socialmente e economicamente, como se o mundo sempre tivesse existido desta forma e aqui tenhamos chegado em um ponto final da história. É para isso que serve a história, para sabermos que os seres humanos já viveram de muitas formas diferentes, que a economia também já funcionou de diversas maneiras e que estamos sempre em um processo de mudança. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Estudar também serve para sabermos que já existiram diversos deuses no mundo, diversas religiões e livros sagrados, e que a bíblia é apenas mais um deles, assim como o cristianismo é só mais uma religião que parece ter aproximadamente 2000 anos, apenas; serve para nos perguntarmos por que, como, onde, como, por quem e com que interesses, pois sabemos que o ser humano se move por objetivos, interesses, todos os seres humanos. A ciência serve para que tenhamos respostas confiáveis por possuir métodos de comprovação, apesar de não ser irrefutável, como deus parece ser. A ciência serve para nos dizer, por exemplo, que penicilina mata bactérias e extende a vida da humanidade, assim como a vacina, que erradicou a poliomielite do Brasil há alguns anos. Para isso é que servem as universidades, para melhorar a vida dos seres humanos através do conhecimento, da ciência.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Sabe o que é ser de esquerda?</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Não é acreditar no totalitarismo como premissa para a liberdade, mas crer que, para que haja uma distribuição de riquezas justa, é preciso que o Estado aja para que isso aconteça, regulamentando. Não, queridos, vocês não ficarão ricos sendo empreendedores Uber, vocês são uma força de trabalho que sustenta toda a estrutura. Se um trabalhador "Uber" ou "Ifood" trabalhar 18 horas por dia, todos os dias, o dinheiro que ele vai ganhar não vai dar para comprar uma casa, essa é a realidade. Não é questão de trabalhar muito ou pouco, é como as coisas são. O filho do Bill Gates não precisa trabalhar, ele é dono de tudo, ele é dono do trabalho das pessoas, ele herdou sua posição, seu status, seu dinheiro e seus contatos privilegiados, um Uber NUNCA será Bill Gates. Enquanto o motoboy passa dias e noites entregando lanches e passando fome, um capitalista paga milhões em obras de artes enquanto seus funcionários levam choque para trabalharem sem reclamar; esses funcionários que trabalham mais que 18 horas por dia jamais terão condições de ter uma vida digna, mesmo trabalhando mais que qualquer um na sociedade.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Então entra a questão da produção e da distribuição de riquezas. Quem produz a riqueza, o milionário? Não, fofos, são os trabalhadores. Quem se apodera de todos os bens de produção, dos terrenos, das matérias primas, das influências, este não produz riqueza, ele só se apropria do que os outros produzem. Não estou falando do senhorzinho da padaria, mas dos grandes que dominam toda essa bagaça, os que podem tirar um ano de férias e não passar fome. Estes ficam com toda a riqueza que os trabalhadores produzem, então, a realização da distribuição de riqueza é simplesmente lógica.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">O Estado não tem que dirigir nossas vidas nos mínimos detalhes, ele tem que tomar conta dos interesses sociais, das necessidades básicas, como saúde, segurança, educação, e isso envolve a economia.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Não quero me alongar mais ainda, mas, para terminar, preciso dizer que tudo o que vivemos hoje, da forma que vivemos, serve ao capitalismo muito bem, aliás, é o capitalismo; o primeiro e principal problema da sociedade é este, o capitalismo e seus valores equivocados que levam os oprimidos a concordarem com, e a quererem ser opressores. Os valores do capitalismo nos dizem que devemos querer lucros sempre crescentes, devemos levar vantagens, devemos lutar para estar acima dos demais, e é atrás disso que vamos em busca. Os discursos ideológicos e as estruturas sociais nos impedem de imaginar uma outra possibilidade de sociedade, nos impedem de mudar a realidade, estamos presos, presos na miséria, desejando matar nossos irmãos, primos, tios. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Nunca houve uma sociedade comunista, como foi descrita. Não sei se algum dia haverá. Mas, o comunismo descreve uma sociedade em que não haja exploração do homem pelo homem, e em que todas as necessidades sejam sanadas, em que o trabalho retome o seu sentido que é o de produzir, criar, transformar, que tenha seu ciclo completo. O Brasil está a milênios de pensar em comunismo.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">E é por acreditarem que um mendigo pode ser o que quiser, e que, se não o é, é porque não se esforçou o bastante, ou que um preto não vem depois de um branco na avaliação social do nosso país, é por dizerem que não há machismo, nem homofobia, mesmo que os dados mostrem absurdamente o contrário, é que o Brasil e as pessoas vão continuar nessa miséria violenta, onde pobres se matam, pretos se odeiam e alguém atira no outro todos os dias por acreditar e querer estar em um patamar superior, quando deveria desejar ter paz e prosperidade, para todos, para a sobrevivência da própria humanidade.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Sei que quem deveria ler não leu nem a metade, se é que alguém lê hoje em dia. Não sou a dona da verdade, não sei de nada, mas sei que o desejo de ser mais e o ódio pelo diferente, a negação da ciência e a idolatria destroem as únicas coisas que realmente preenchem e dão sentido a vida, que é a boa convivência em sociedade e o pertencimento a um grupo primordial que se chama família.</span></p><p style="text-align: justify;"><br /></p>Luciana Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/17904001194241044606noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5007988281884718334.post-33996912549252883082023-02-16T17:34:00.002-03:002023-02-16T17:51:03.109-03:00O amor é trabalho<p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><span style="font-family: arial;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiserZ5iC4wlEFSv0NHXrplM2S-ReVSjNV4fuALuSBF1CQ7K2q0VhqSlBrHE4VR0yukVMxikfMUDWnL5ENJqCZEZZfsUNE_Z003Xy94Q7TDA5jx9FJwaVfpYiRchwveV7mOepcPKHfQSRkV5HDvNm-KJThoiimunE7461kQoBQlhIHK06sOC7o-Uewtnw/s960/plant-4036130_960_720.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="640" data-original-width="960" height="426" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiserZ5iC4wlEFSv0NHXrplM2S-ReVSjNV4fuALuSBF1CQ7K2q0VhqSlBrHE4VR0yukVMxikfMUDWnL5ENJqCZEZZfsUNE_Z003Xy94Q7TDA5jx9FJwaVfpYiRchwveV7mOepcPKHfQSRkV5HDvNm-KJThoiimunE7461kQoBQlhIHK06sOC7o-Uewtnw/w640-h426/plant-4036130_960_720.jpg" width="640" /></a></div></div></span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">O amor é um trabalho que aceitamos conscientemente, mas, muitas vezes, não conscientes do trabalho que leva. Todos os dias, se assim é o desejo dos que amam, o amor exige atenção e ação para não desvanecer nas turbulências.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Quando passa a novidade dos cheiros, das texturas, do corpo do outro, quando o olhar não enxerga mais tudo o que via antes, é tempo de mudança de fase. Como tudo na vida, o amor depende dos valores, dos objetivos que nos levam a nos doarmos a ele.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Se o amor busca o estranhamento, a surpresa, ele morre e renasce em outro lugar a todo momento. Se o amor busca conexão profunda com o outro, ele ressurge das cinzas e se reconstrói como Fênix, porque esse é o desejo daqueles que amam. Se o desejo muda, aquele momento da existência se esvai mais rapidamente do que poderia e finda-se o amor.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">O amor precisa de tempo, daquele tempo que sempre buscávamos quando estávamos começando a amar, o tempo para apenas amar;</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">O amor precisa do compromisso, da certeza de que será cuidado mesmo diante de tempestades sombrias;</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">O amor precisa de afeto, de reconhecer o outro em si mesmo e cuidar com cuidados para si de si.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">O amor precisa de verdade, só assim é livre e sereno;</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">O amor precisa de respeito, antes de qualquer coisa.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Amor é trabalho, um trabalho que pode produzir bons frutos, ou alienar o sujeito de si mesmo, como diria nosso camarada.</span></p>Luciana Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/17904001194241044606noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5007988281884718334.post-40200951409958458982023-01-27T21:04:00.002-03:002023-01-27T21:04:12.540-03:00O amor não é para todos, o respeito, deveria ser.<p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: arial;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiGrfRVQffOBEGJXgn5rQ1T2n-4dxVjHy1eHD7fOx4E7WuWgHOA9bh8xDBhiCiKeIicf7UzOVdbphrSlQYlUk_vsygUK1KwDD1HopzFFAahQgU7mF7a46ShRkYLC3ToiRVeYn6amKNg0WNw5QqaIs3tfu11YOYvoQ93Ld9SxQkTp9-dU_APxkGttVmmew/s1640/gratiluz.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="924" data-original-width="1640" height="361" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiGrfRVQffOBEGJXgn5rQ1T2n-4dxVjHy1eHD7fOx4E7WuWgHOA9bh8xDBhiCiKeIicf7UzOVdbphrSlQYlUk_vsygUK1KwDD1HopzFFAahQgU7mF7a46ShRkYLC3ToiRVeYn6amKNg0WNw5QqaIs3tfu11YOYvoQ93Ld9SxQkTp9-dU_APxkGttVmmew/w640-h361/gratiluz.png" width="640" /></a></span></div><span style="font-family: arial;"><br /></span><span style="font-family: arial;">Eu sou u</span><span style="font-family: arial;">ma pessoa que tem cuidado com as palavras e pego "ranço", como dizem alguns. As pessoas utilizam as palavras sem pensar sobre elas, na maioria das vezes, mas, algumas vezes, acolhem intencionalmente os modismos por algum valor que desejam adotar para si, assim as palavras ganham novos sentidos, como, por exemplo, na adoção de palavras de carinho que usualmente utilizamos com pessoas intimas; essas palavras ganharam o valor de atenção, de bom atendimento e de eficiência, por este motivo, pessoas desconhecidas que trabalham em comércio tomaram a liberdade e o hábito de nos chamar de "meu amor".</span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Eu não controlo, quando entro em uma loja e a atendente fala: "Tudo bem, meu amor?", eu sinto um ranço tão grande, meu corpo tem vontade de se retorcer, quase não disfarço minha careta. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">"Querida", "amor", "bem", "flor" e similares viraram o modismo do suposto bom atendimento.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Outros modismos relacionados ao mundo da "iluminação espiritual" são palavras como "gratidão", "gratiluz", "afeto", além de termos como "escuta sensível" e por aí vai longe. Há toda uma teoria, esotérica e até mesmo acadêmica sobre o sentido destas palavras em relação ao sucesso da educação e da humanidade.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">A propaganda do Itaú, apesar de ser o pior exemplo que podemos ter para falar sobre o bem da humanidade, disse uma coisa que defendo há muito tempo, a palavra "respeito" vem antes de tudo. Soa um tanto clichê, como "paz e amor" (que odeio profundamente), mas é essencial que a humanidade adote esse valor para que possamos sobreviver.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Não, "querido", não preciso ser amada por todos, nem, tampouco, amar a todos. "Não amar" não significa odiar. Não preciso do afeto, seja simbólico ou físico de todos, nem quero dar afeto a todos. Ninguém vive de amor.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Respeito. O que é respeitar? É ter a certeza de que qualquer outra pessoa tem os mesmos direitos que eu e saber que todas elas, as pessoas, são diferentes e que suas diferenças só devem ser consideradas quando precisarem de apoio para atingirem as mesmas metas que todos. É tratar a todos como gostaríamos de sermos tratados, com atenção e educação. Pronto, o mundo estaria salvo.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Respeito é não humilhar, trapacear, mentir, enganar, ludibriar, maltratar, machucar alguém por prazer, desejo de obter vantagem ou por considerar-se superior; respeito é ouvir com atenção genuína o que o outro tem a dizer e considerar suas dores. Respeito é ajudar a propiciar um ambiente aberto para aqueles que queiram entrar. Respeito é também não forçar sua entrada, presença, afeto ou amor a quem não deseja a sua interferência em seu espaço privado físico ou emocional. Respeito é não invadir.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Há expressões que, utilizadas a "Deus dará", ou em situações inapropriadas, nos invadem inapropriadamente, são palavras intrusas, gosmentas, fedorentas que nos fazem mal porque, apesar de tentarem significar outra coisa, significam uma terceira.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Quanto a essa moda "hippiesta chique" que ronda por aí de "luaus", "amores", "aulas de afeto", "queridos", deixo o meu profundo desapontamento pelo rumo da humanidade, que vai continuar no mesmo buraco da desigualdade capitalista que se apropria de todos os modismos para continuar perpetuando a miséria da maioria. </span></p>Luciana Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/17904001194241044606noreply@blogger.com0Ouro Preto, MG, 35400-000, Brasil-20.402211 -43.5105574-48.712444836178847 -78.66680740000001 7.9080228361788443 -8.3543074000000033tag:blogger.com,1999:blog-5007988281884718334.post-68060895262495526092022-12-16T16:20:00.005-03:002022-12-16T16:39:44.333-03:00O delegado da festa junina<p style="text-align: left;"></p><div class="separator" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEiUZ4peq7g-DD1FODJ1_d0qAAAh-P8eCCQhsQthQbGUDnd_z_-_dc-MY1HNDtR05Oeq5qqAIzKbK-MScfHx-CxxchXfkG5_kjKBLdZbYtZDCOO7IeTjDl48admeo6DfHSc7PW0-IS-IpgGdh50mLzR82hjtmRKUylIJyg7QVvoJk4WzZxgRsTht86TEvQ" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><br /></a></div><span style="font-family: arial;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEgjsyaWowiFfF1VaEbaJdnlEC_MPlXLYKq98-tl_UmdRXC_0Tccxbm-8JqlTmBzLmF8ZmJ5xMxiu9PbUmeW6PI0wzJBE_ZHOckJeQUbC8wUF22Ozfg1nDn_IU465Yk1UvbJTWP_V3YDW1QuBmZ1dX9caOHsL9BrpAfDonqkc7kMuK1o55bcYCE9sgHyiQ" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="924" data-original-width="1640" height="314" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEgjsyaWowiFfF1VaEbaJdnlEC_MPlXLYKq98-tl_UmdRXC_0Tccxbm-8JqlTmBzLmF8ZmJ5xMxiu9PbUmeW6PI0wzJBE_ZHOckJeQUbC8wUF22Ozfg1nDn_IU465Yk1UvbJTWP_V3YDW1QuBmZ1dX9caOHsL9BrpAfDonqkc7kMuK1o55bcYCE9sgHyiQ=w640-h314" width="640" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><span style="text-align: left;">Eu tenho um certo trauma de escola, porque nunca fui bem-vinda, aceita, poucas vezes me senti fazendo parte de algo. Comecei a frequentar aulas já com sete anos de idade, em uma pequena escola particular em Ipatinga, cidade nova, não havia ainda escola pública no bairro Ideal. Lembro-me de que nesta escola "Pinguinho de Gente" eu tive meu primeiro contato com a perversidade incrivelmente presente nas relações infantis. Eu era uma solitária, não sabia como me comunicar com as outras crianças, muito menos com os professores, tinha pavor de abrir a boca.</span></div></span><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Uma vez, ouvi uma menina dizendo que, quando crescesse, se casaria com um homem bem velho e bem rico para ficar com o dinheiro dele... Naquela idade, eu já pude me indignar e imaginar de onde vinham aquelas palavras, não eram dela, mas já estavam nela. Outra vez, cheguei cedo e sentei-me na carteira da frente, mas um menino veio, todo agressivo, e me ordenou a sair do lugar que julgava ser dele. No recreio, sentava-me sozinha com o meu café com leite e o meu pão com manteiga, enquanto os meninos comiam seus biscoitos recheados com "Toddy". Foi nesta escola que também pude perceber como os adultos mentem para manipular os outros, pois estudei nos dois turnos e, em ambos, as professoras diziam que os alunos do outro turno eram bem melhores.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">As reuniões de pais eram terríveis, as professoras falavam mal de cada aluno na frente de todos. A festinha do dia das mães, o que reprovo, aconteciam em cada sala, como a minha mãe não poderia comparecer em dois lugares ao mesmo tempo, perdeu o momento da minha apresentação por estar na sala do meu irmão naquele momento.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">A lembrança que mais tenho é da festa junina; as professoras perguntavam para cada menina se ela queria dançar com esse ou aquele menino. Havia um menino que tinha uma deficiência física, seus braços eram curtos e ele só tinha três dedos em uma mão e dois em outra. A professora perguntou a quase todas as meninas se elas gostariam de dançar com ele, e todas disseram não. O menino era encapetado e sua condição não afetava a sua vitalidade e o seu endemoniamento. Quando chegou a vez de me perguntar se eu queria dançar com o rapazinho, eu me senti muito sem graça e disse sim. O resultado foi que, na hora da quadrilha, o menino saiu correndo, fazendo suas diabruras, e eu nem sei se dancei ou não.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">O meu marido era gordo nessa época, morava em outra cidade. Ele me disse que acontecia a mesma coisa na escola dele, e que ninguém quis dançar com ele, ele foi obrigado a ser o delegado, ou padre, não me recordo bem. Talvez, se morássemos na mesma cidade, na época, e estudássemos na mesma escola, provavelmente nós dançaríamos aquela quadrilha juntos, e, talvez, eu poderia ter vivido muito mais tempo ao lado dessa pessoa especial. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Todas essas e outras experiências que vivemos, nos tornaram o que somos e servem de base para inúmeras discussões que travamos todos os dias; todos os dias, discordamos, concordamos e crescemos um pouquinho, aprendendo a conhecer e a reconhecer o outro, dentro de cada condição vivida. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Dentro deste mundo, muitas vezes, perverso desde a infância, ainda podemos encontrar ilhas de conforto e somos capazes de pensar sobre os valores que constroem (ou destroem) nossa sociedade, valores que são atribuídos a formas, coisas, pessoas, ações e sentimentos, e que são transmitidos pelas gerações passadas através de seus discursos e de suas práticas que, felizmente, não são imutáveis.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Analisando acontecimentos traumáticos, só sinto por não ter conhecido aquele padreco, ou delegadozinho de festa junina (de vermelho) naquela época, para que tivéssemos tido a oportunidade de vivermos mais tempo de nossas vidas aprendendo e aproveitando um com o outro.</span></p><p><br /></p><p><br /></p>Luciana Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/17904001194241044606noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5007988281884718334.post-63826549383685457182022-08-31T13:01:00.002-03:002022-08-31T13:01:23.997-03:00Este mundo me mata<div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEj2k0O9BYkJS_-wLRGtqrUsWiWxU-8G_ekwq9x4ZmF-enDRssx1pJPhMeYtlgsoj_nqPyr4jSmFyBJMPEvn7oSRSk8dHJUkFZyn_oTTWO9tdj2Wo81VruyuadPo0C6LXTzRK47bNwPLUVUYppZg3z_dh29hAgn_OXCcu_p0TPPL_KXtvokOsWKodgAJyg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="640" data-original-width="960" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEj2k0O9BYkJS_-wLRGtqrUsWiWxU-8G_ekwq9x4ZmF-enDRssx1pJPhMeYtlgsoj_nqPyr4jSmFyBJMPEvn7oSRSk8dHJUkFZyn_oTTWO9tdj2Wo81VruyuadPo0C6LXTzRK47bNwPLUVUYppZg3z_dh29hAgn_OXCcu_p0TPPL_KXtvokOsWKodgAJyg=w400-h266" width="400" /></a></div><br /><br /></span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">Este mundo me deixa doente!<br /></span><span style="font-family: arial;">Deixa-me mal por querer o presente<br /></span><span style="font-family: arial;">Ou querer estar presente frente a frente.</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">Este mundo me adoece</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">Com tudo o que se aprende e logo se esquece,</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">Com gratidão, beijos e saudades que não aquecem.</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">Este mundo me mata</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">Com tanta produção e rotina insensata,</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">Com produtos que nunca põem mesa farta.</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">Este mundo me obriga</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">A ser só mais uma frágil formiga</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">Correndo, trabalhando, morrendo pela barriga.</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">Este mundo me faz ser errada</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">Por querer sentir cheiro de terra molhada,</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">Por querer fazer nada, querer ser amada.</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">Este mundo me faz querer desistir</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">Por ansiar o que poderá não existir</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">Por não me deixar viver o agora, o aqui.</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><p><br /></p>Luciana Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/17904001194241044606noreply@blogger.com0Ouro Preto, MG, 35400-000, Brasil-20.402211 -43.5105574-48.712444836178847 -78.66680740000001 7.9080228361788443 -8.3543074000000033tag:blogger.com,1999:blog-5007988281884718334.post-9762355656743681932022-08-25T17:04:00.003-03:002022-08-25T19:55:22.757-03:00O sentido da vida e da escrita<p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"> </span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: arial;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjevzbajikmtEGIWCo7gRjAORorJW5Z-brgCaeNkK-IoZEU_v1huIkUq2DW8ccfyi1jawJX2W7nP4ORc7OuhBybJvs0806WW3kCEa7u5YundN1C-hcQQX2PnJu7-Ygrl-wNnrubnlBViDChEJCivvqJN-Til2hXuqy48tZxVYlK_SupFkTVJ4ReZ0bADQ/s1920/monge.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1252" data-original-width="1920" height="418" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjevzbajikmtEGIWCo7gRjAORorJW5Z-brgCaeNkK-IoZEU_v1huIkUq2DW8ccfyi1jawJX2W7nP4ORc7OuhBybJvs0806WW3kCEa7u5YundN1C-hcQQX2PnJu7-Ygrl-wNnrubnlBViDChEJCivvqJN-Til2hXuqy48tZxVYlK_SupFkTVJ4ReZ0bADQ/w640-h418/monge.jpg" width="640" /></a></span></div><span style="font-family: arial;"><br />A<b> pandemia</b> me tirou a vontade e o jeito de escrever. A pandemia, o mundo, a humanidade. </span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Escrevia sempre por esperança. Tinha esperança de que alguém lesse e se identificasse com os meus pensamentos, esperança de que as minhas reflexões pudessem adicionar algum sentido para a vida, minha ou de outro, esperança de que algo se transformaria. Escrevia também para expurgar os demônios, as dores, as rejeições, as indignações. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Eu tinha a esperança de escrever um livro, e meu blog vai virar um livro, em breve; porém, parece não haver mercado para nenhum tipo de autor que não sejam aqueles que pegam velhas fórmulas para escrever alguma coisa de <b>autoajuda</b>, <b>negacionismo</b> ou outro tipo de picaretagem. Os jovens pensam que não precisam mais aprender história, ou qualquer coisa, pois o "<b>Google tem tudo</b>". As pessoas tem preguiça profunda de ler algo com mais de três linhas, isso quer dizer que, se alguma alma começou a ler este texto, não chegou até aqui, ainda mais em uma plataforma tão antiga como o <b>Blogger</b>. Escrever quase perdeu o sentido para mim, quase, porque aqui estou.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Muitas coisas perderam o sentido. Caminhando pelas ruas ou andando de ônibus, vejo pessoas de todas as idades, indo para algum lugar para realizarem algum trabalho; os de pele enrugada trazem em suas expressões a carga de inúmeras decisões, caminhos errados, amores perdidos, talvez fome, dor, perdas, queimado de sol. Os jovens caminham cheios de futuro e entusiasmo pela vida, algum brilho no olhar ao se remeterem a um amor possível, platônico, ideal. Alguns tem ódio. Muitos. Olho para toda essa gente que nada e tudo significa para mim. Nada, porque seus destinos, de todos, não estão atrelados ao meu, se morrerem, a mim, não causará espanto, assim como acontecerá se eu morrer aos outros viventes. Mas, todos me importam no sentido de que são seres humanos como eu, e que possuem sentimentos, desejos, dores, e pouco tempo de vida, como eu. Gostaria que a humanidade se respeitasse.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Caminhar pelas ruas não tem sentido. Ir para algum lugar onde se fará algo que nada signifique para ganhar dinheiro que não paga o que se precisa; tomar todo o tempo rodando como uma barata pisoteada pelos dias, a espera de algum alívio, paz, novidade, é o que se naturalizou para a humanidade. Barata pisoteada sem esperança de endireitar as asas, o mundo, a vida. O mundo parece o mesmo de milhares de anos atrás, quando as pessoas já se dominavam, se odiavam, se escravizavam, se matavam em nome de qualquer porcaria inventada. Não, Hobbes, não, Rousseau, Não, Marx, Foucault, não! Somos capazes de descrever, mas será que somos capazes de compreender o motivo pelo qual o ser humano sempre age como se estivesse em alguma dessas distopias? Alguns pensam que sim.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Eu gostaria de encontrar, de novo, algum sentido. Sentido para me levantar e me sentar aqui e dizer algo; sentido para continuar a fazer todos os dias o que devo e não o que gostaria, sentido para não ter tempo e olhar os lírios do campo. Gostaria que a humanidade não naturalizasse uma vida miserável assim como naturaliza o capitalismo, aliás, essa vida miserável é o capitalismo. Por que naturalizamos algo tão terrível? Para viver, sobreviver. Mas isso lá é vida, ter que provar a todo o momento que somos bons, bons o bastante? Conquistar títulos para fazer uma listagem no Lattes? Comprar diamantes e expor a vida na internet? Ter vários parceiros emplastificados? Posar com armas? Xingar o outro que é diferente? Nunca ter tempo livre, porque se realiza milhares de trabalhos? Cuidar da vida de todos?</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Nada tem sentido neste sistema. Espero encontrá-lo, o sentido, novamente.</span></p><p><br /></p><p><br /></p>Luciana Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/17904001194241044606noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5007988281884718334.post-83611581995224608102022-02-11T15:35:00.000-03:002022-02-11T15:35:11.416-03:00Trevas pós-modernas<p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: arial;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEiu2-8NMR1RJc1jlQ7jDnunbQUcEYW2KhIiWSILTDRV5gtqQ0nDrYRbPe3b1tWbumZJccispv0Fd6qTyRsJ8f4MXcEncw_SfPA_DGyKZcO_sdhpCKvw771_KWn-3eS-cC6x0sKsezqWvWo90aeeH5EJKMEu_XQfprrYG1vmDZsG9TSP1jy8O9C5K7If1w" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="627" data-original-width="1024" height="245" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEiu2-8NMR1RJc1jlQ7jDnunbQUcEYW2KhIiWSILTDRV5gtqQ0nDrYRbPe3b1tWbumZJccispv0Fd6qTyRsJ8f4MXcEncw_SfPA_DGyKZcO_sdhpCKvw771_KWn-3eS-cC6x0sKsezqWvWo90aeeH5EJKMEu_XQfprrYG1vmDZsG9TSP1jy8O9C5K7If1w=w400-h245" width="400" /></a></span></div><span style="font-family: arial;"><br /></span><span style="font-family: arial;">Queria escrever algo positivo, mas acho que nunca fui uma pessoa muito positiva, não falo alegremente, não acordo de bom humor e nem acho que alegria o tempo todo seja uma qualidade. O pior é que estamos em um período histórico "trevídico" no qual as pessoas se asseguram de que transformarão tudo com a mente e palavras carinhosas jogadas a torto e a direito. Os seres deste tempo e deste lugar confundem carinho com competência, e por isso fazem escolhas e julgamentos baseados em critérios subjetivos ou de acordo com o que lhes pareça "legal" e "carinhoso". Competência? Ah, o que é isso, ele é gente boa!</span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Eu não preciso de carinho (não de um atendente de loja, açougueiro, professor, advogado, médico ou qualquer desconhecido ou conhecido que faça parte da minha vida ocupando um papel social provisório) até que essa pessoa se torne alguém que mereça carinho, mas preciso muito de respeito. Preciso que me vejam como um ser humano semelhante, que atendam as minhas necessidades relativas ao contato em questão, com a mesma atenção que qualquer um deve receber, que me permitam entrar onde eu queira, que me recebam respeitosamente, que me ouçam e me falem respeitosamente, e é assim que busco tratar a todos, porque todos merecem respeito. Carinho não é para todos.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Retornando ao tema das trevas, vivo em um planeta onde as pessoas não olham mais para o céu para admirarem as estrelas e pensam que já sabem tudo, que tudo fora descoberto; vivo em um mundo em que as "novas descobertas" são apenas imagens rolando infinita e insignificantemente em telas que causam miopia e atrofia social e mental. Neste mundo, as pessoas estão ficando corcundas e desatentas, não conseguem mais focar em nada que exista ao seu redor; essas pessoas tem a tarefa de registrar momentos falsos de suas vidas falsificadas para tentar arrancar atenção dos outros zumbis e gerar prazer automático. Aqui, também, as pessoas estão longe de quem está longe, e mais longe ainda de quem está perto, pois a comunicação, que antes era feita toda em dez minutos, se desfarela ao longo do dia com mensagens pipocantes e dispersas de tudo e de todos que não nos interessam. Para os que estão próximos, sobram olhares furtivos e fingidos de atenção entrecortados por cliques.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">As criaturas deste mundo estão, cada vez, com capacidade cognitiva mais subdesenvolvida; a maioria não consegue se concentrar para ler um texto longo e complexo, mesmo que este tenha apenas uma página, pois tudo parece chato e parado. Contentam-se, todos, com saberes enciclopédicos sobre todas as porcarias da terra e se consideram incríveis, assim como os incríveis "influencers" que não precisaram fazer nada para saberem mais que todos, além de serem muito legais. A fama e a prosperidade nunca pareceram tão fáceis e acessíveis, agora não é necessário nem estudar para chegar ao topo, como antigamente se pregava. Parabéns às mutações do capitalismo, capitando almas com seus valores cada vez mais sofisticados e transformando as bases da meritocracia.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">O preço por esses valores e essa transformação nos modos de ser e de viver, pagaremos mais tarde, mas alguns de seus efeitos já podem ser medidos hoje. Não trata-se de uma projeção pessimista de uma pessoa "não alegre", mas de mudanças que já são visíveis hoje, como ruas vazias de crianças, adolescentes com medo de sair de casa, de lidar com outros seres vivos, de problemas de saúde física e mental, problemas de relacionamento com pessoas reais, problemas na capacidade cognitiva, dificuldade de concentração, memória, mudança nos padrões de leitura e de absorção de informação, e por aí vai. Resumindo, nosso interior está se transformando em trevas, ou seja, se existe alma, esta está morrendo por inanição absoluta porque preferimos viver na superfície que é mais fácil e "divertido".</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Por estar em mundo sem alma e sem esperanças, é que preciso de cada vez mais respeito, para ver se salvo o que restou de alma (entenda "alma" sob a teoria que o aprazer). Não preciso de nada falso, palavra falsa, carinho falso, imagem falsa, felicidade falsa. Preciso da verdade, no sentido natural do real, de estar acordada nesse mundo, enquanto eu tenho olhos e todo o meu corpo para senti-lo.</span></p><p><br /></p>Luciana Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/17904001194241044606noreply@blogger.com0Ouro Preto, MG, 35400-000, Brasil-20.402211 -43.5105574-48.712444836178847 -78.66680740000001 7.9080228361788443 -8.3543074000000033tag:blogger.com,1999:blog-5007988281884718334.post-82893674914830022132021-12-31T11:39:00.000-03:002021-12-31T11:39:25.552-03:00A menina toda errada<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgNyIU79EX1EozRbYLYQQ2T2IUxmvttD24YM0odRMfyrSm0U8cVEv5Tl7ysWyM0dgfr9J_WggyI23kePCtyQOupbBsBCW2bpPt7aH_dlg2HaGDX44Fkni8mVKlfUYcRZDtF12ae7lYPl0EX/" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="1238" data-original-width="1200" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgNyIU79EX1EozRbYLYQQ2T2IUxmvttD24YM0odRMfyrSm0U8cVEv5Tl7ysWyM0dgfr9J_WggyI23kePCtyQOupbBsBCW2bpPt7aH_dlg2HaGDX44Fkni8mVKlfUYcRZDtF12ae7lYPl0EX/w388-h400/image.png" width="388" /></a></div><br /><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Eu já vivi alguns anos, o bastante para ficar dizendo que "já não se fazem mais coisas como antigamente", ou, "esse mundo está perdido", mas não o bastante para ter uma ínfima ideia sobre a lógica de se estar vivo. Certamente, não serei eu a descobrir o sentido da vida, ou a escrever um tratado sobre a suposta ou não "natureza humana", não serei eu o próximo Marx ou Freud, mas arrisco-me a dar pitaco onde não sou chamada. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Quando eu era uma ínfima criança fêmea, tinha esperança. Eu acreditava que as pessoas estavam trabalhando para construir uma sociedade mais justa e sem sofrimento, como se existisse uma verdade essencial de bem e mal, certo ou errado, e que todos estavam inclinados ao bem. Não existe isso, como já diria o tal do Nietzsche, com suas controversas pontuações sobre mulheres e judeus. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Culpam o capitalismo, o comunismo, as estruturas econômicas e sociais, culpam a cultura; dizem que o capitalismo não deu certo, mas certo para quem? Para os capitalistas, está funcionando de vento em polpa, digamos de passagem. Dizem que o comunismo é a solução e uns pregam que será a culminância da espécie, mas, qual comunismo? Ainda não sei se experimentamos o tal. A China surge como algo novo e indefinido, com certo sucesso em cumprir a ideologia que diz que o certo é ter igualdade para todos, dividir o pão e a terra, embora haja também algumas questões a serem pensadas sobre a tal democracia, algo que também não sabemos se existiu de fato nesse universo humano.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Afirmar que existe certo e errado é o mesmo que dizer que existe um Deus que definiu o bom e o mau, ou crer que exista uma verdade essencial, ou natural; também, pensar que não existem parâmetros para certo e errado é querer a extinção de nossa sociedade, já que o ser humano é uma amontoado de hormônios e de valores, valores estes que são adquiridos socialmente. Existe certo e errado de acordo com os valores que adotamos, e estes é que devem ser considerados no planejamento de uma sociedade, seja a que leva em consideração as diferenças tentando ameniza-las, ou seja a que usa as diferenças para afirmar a superioridade de uns em detrimento de outros. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Falando em diferenças, para quem chegou até aqui, declaro que sempre fui a diferente, se é que há iguais. Na última semana, minha prima disse que eu era entojadinha na infância, e que só comia tomate. Eu realmente me lembro de estar sentada no sofá de casa, assistindo a um filme e comendo um tomate, e me lembro de ser péssima com pessoas e situações. Lembro-me de ficar sempre imersa em meus pensamentos e observar muito tudo o que me envolvia. Eu também tinha uma característica, não conseguia olhar nos olhos das pessoas, isso me causava uma sensação de dor, parecia que a pessoa estava me lendo, assim como a lia. Isso, fui mudando aos poucos, porque não queria ser falsa, como diziam sobre quem não olhava nos olhos; mas ainda sinto dificuldades. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Já me chamaram de fria, metida, e de outros adjetivos, mas, mesmo com essa tal frieza da qual me acusam, tudo me machuca, desde os sons à perversidade humana. A arte me comove, tudo o que pode ser chamado de arte, desde uma comidinha feita com todo zelo à um filme antigo que a maioria não está a fim de ver. Porém, não sei dizer palavras amorosas, solidárias, saudosas, porque não utilizo palavras apenas para ser sociável, as palavras para mim são uma expressão do que vem de mim, não do que esperam, e, neste sentido, não consigo interpretar o que esperam e esperam o que não consigo dar.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Sobre as pessoas, sinto profundo desejo de que todas sejam felizes, mas não sinto a necessidade de que estejam perto de mim o tempo todo. Preciso de poucos ao meu lado, no dia dia, e amo os distantes, mesmo distantes. Por ser desse jeitinho, fui a esquisita por muitos anos, e é por este motivo que este blog se chama Mulher Alienígena, porque sinto não pertencer a esse mundo.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Há poucos meses, tive uma confirmação diagnóstica de autismo, de uma neuropsicóloga. Não duvido da competência, mas ainda não tenho certeza sobre este diagnóstico, porém, o conhecimento sobre o transtorno me trouxe um certo conforto e permissão para ser o que sou e poder dizer que assim sou. Não sou certa ou errada, sou assim, embora sei que também deva tentar me adequar a alguns parâmetros para viver bem nessa sociedade de valores.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Eu me aceitei e não fico chateada de falarem que eu era entojada, na verdade, hoje, depois de ter superado e aprendido muito, acho graça, mas penso sobre a tolerância que às vezes eu mesma não tenho às diferenças. São muitos assuntos aqui, misturados, mas resumindo, na minha opinião, há o certo e o errado de acordo com o conjunto de valores que determinados grupos assumem e, se queremos transformar a sociedade, devemos nos concentrar em como fazer com que nossos valores sejam hegemônicos; meus valores incluem a tolerância e o respeito, não a aceitação de todos os valores em minha vida pessoal, especialmente os que me ferem, mas isso não me dá o direito de exterminar o outro. Finalmente, mais do que ficar ecoando pelas redes sociais palavras vazias, viciadas e falsas, como "amor", "saudades", "gratidão", deveríamos praticar o respeito e a empatia verdadeira, que esses, segundo meus valores, são sentimentos e ações que todos realmente merecem (com raras exceções hediondas). </span></div>Luciana Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/17904001194241044606noreply@blogger.com0Ouro Preto, MG, 35400-000, Brasil-20.402211 -43.5105574-48.712444836178847 -78.66680740000001 7.9080228361788443 -8.3543074000000033tag:blogger.com,1999:blog-5007988281884718334.post-32097930295058773932021-12-10T17:10:00.003-03:002021-12-10T21:03:03.368-03:00Miseráveis<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg-x7ZSrEDSYdcJtgGPisth5hjgvHyfccWlzy6YeOelaNHxFvt7KffRrL_WbiLUWg6Kz0abFjBc3hNwhFowPCWCWY-eOBLNsH4jONWycveMaXQfUOzBiVnNWbgidOrP9CFB3vRMthi7Dmw/" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="640" data-original-width="960" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg-x7ZSrEDSYdcJtgGPisth5hjgvHyfccWlzy6YeOelaNHxFvt7KffRrL_WbiLUWg6Kz0abFjBc3hNwhFowPCWCWY-eOBLNsH4jONWycveMaXQfUOzBiVnNWbgidOrP9CFB3vRMthi7Dmw/w400-h266/image.png" width="400" /></a></div><br /><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Hoje eu sou capaz de compreender o motivo pelo qual muitos seres humanos
abandonaram tudo e foram fazer miçangas, viraram andarilhos, mendigos, monges
budistas, tentaram se libertar das amarras que nos prendem a uma existência
miserável. A miséria está encrustrada nos poros do papel no qual escrevemos
nossas histórias, de lá não sai, mancha tudo como o pó do grafite quando se
derrama do apontador sobre a lauda. A miséria é que nos obriga a buscar incessantemente por
aprovação, por amor, por sorrisos, por um lugar mais elevado; é a miséria que
nos torna tão ridículos e cruéis quanto a todos os que nos machucaram, nos
humilharam, nos cuspiram no rosto. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">É através da miséria que vestimos máscaras
todos os dias, máscaras de hippies apaixonados, militantes desesperados,
entidades bondosas, capatazes bem sucedidos, pais exemplares, empreendedores
fervorosos, estudantes nota 10, marginais temíveis, bem feitores, e de tantas
outras personas vazias que caminham pelas cordas bambas do planeta.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">A miséria
nos obriga a fingir que não temos sono, que não temos fome, que não desejamos ou
odiamos, mas, às vezes, também nos obriga a odiar demais, a amar demais, e a ser fã
demais, porque a miséria é uma prisão feita de prescrições temporais e ilógicas;
a miséria nos coloca no lugar de marionetes clicáveis. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Somos miseráveis quando
nos movemos inconscientemente em busca de reconhecimento daqueles que não fazem
parte de nossa vivência ou nos ignoram, somos miseráveis porque queremos o amor
de desconhecidos, desejamos os prêmios que eles criam, seus olhares invejosos e
admirados, seus desejos escusos lançados a nós. A miséria alimenta nossa ânsia vaidosa por reconhecimento. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Nós, seres humanos, não passamos de um amontoado de
hormônios e de valores. Valores miseráveis criados por humanos miseráveis. Nossos valores nos dizem sobre o que é certo ou errado, sobre o que é bom ou ruim, sobre o que devemos ou não devemos ser, desejar ou suportar. Nossos valores nos colocam em um lugar e nos dizem sobre a qual lugar devemos nos dirigir. Nossos valores nos tornam miseráveis.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Somos miseráveis quando precisamos sorrir para quem odiamos, dizer sim quando deveríamos dizer não, agir de determinado modo mesmo que seja doloroso, aceitar a intervenção desrespeitosa de outro, negar nossas necessidades, ou tudo o que nos cause desconforto para obter ganhos cujos valores se sustentam nos discursos sobre escalada social, ou naqueles sobre a aceitação de grupos, sejam lá quais forem. A miséria nos torna "pangarés" da sobrevivência trouxa.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">É fácil cansar-se de ser miserável, mas não é fácil deixar de ser miserável na existência sem ser miserável na vida. Como livrar-se das necessidades criadas pelos valores sociais sem livrar-se das necessidades básicas de sobrevivência, como a de se alimentar? Como deixar de ser pangaré na vida e continuar existindo?</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Só quando essa sociedade miserável for capaz de reconstruir todos os seus valores.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div>Luciana Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/17904001194241044606noreply@blogger.com0Ouro Preto, MG, 35400-000, Brasil-20.402211 -43.5105574-48.712444836178847 -78.66680740000001 7.9080228361788443 -8.3543074000000033tag:blogger.com,1999:blog-5007988281884718334.post-59169797966136496532021-11-09T09:59:00.001-03:002021-11-09T09:59:34.245-03:00É no supermercado que a sociedade aparece<p style="text-align: justify;"><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-vfpEhECgG0Q/YYpvs7mJhYI/AAAAAAAAOS8/IQ46ptVTAncbAAe2ER1nssgtaoq1LGbWgCLcBGAsYHQ/s1920/shelf-3192529_1920.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1280" data-original-width="1920" height="266" src="https://1.bp.blogspot.com/-vfpEhECgG0Q/YYpvs7mJhYI/AAAAAAAAOS8/IQ46ptVTAncbAAe2ER1nssgtaoq1LGbWgCLcBGAsYHQ/w400-h266/shelf-3192529_1920.jpg" width="400" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Domínio público</td></tr></tbody></table><span style="font-family: arial;"><br /></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Supermercados são lugares que sempre me causaram sentimentos estranhos. Eu nunca fui (mesmo em alguns momentos de maior poder aquisitivo), daquelas que adoravam sair para consumir. Passei por muita coisa na vida, tive momentos de muita necessidade, de falta de alimento, em diversos períodos, e ir ao supermercado nesses momentos é uma experiência escalavradora.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Há umas semanas atrás, eu estava na fila de um desses grandes supermercados e notei uma senhorinha atrás de mim, acompanhada por uma adolescente; a senhorinha segurava uns pacotes de biscoitos e umas três bandejas de iogurtes, daqueles mais baratos que não passam de um composto engrossado com uma espécie de amido. As duas vestiam-se de maneira simples, notava-se que a senhora estava um pouco desconfortável e orgulhosa ao mesmo tempo. Pensei: _ Que fofinha, deve estar com os netinhos em casa, tentando agradar. _ Na minha observação silenciosa, ouvi a adolescente dizer: _ Põe uns de volta, vó, não precisa disso tudo! _A avó insistiu: _Não, é pra vocês, é pra vocês! _ Nesse momento, senti um nó na garganta e meus olhos começaram a arder, e quem me conhece sabe que não gosto de chorar, embora tenha vontade muitas vezes. Eu tive vontade de chorar porque é muito triste querer agradar aos que amamos, mesmo não tendo grandes condições, e porque a menina reconheceu os esforços da avó naquele intento e se preocupou com suas finanças e suas faltas. Também me emocionei porque aquela senhora, com seu pequeno dinheiro, sentiu-se bem por poder agradar aos seus netinhos, talvez a única fonte de felicidade, quem sabe? Principalmente, senti-me triste porque a maioria das pessoas não podem comprar uma bandeja de iogurte.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Cada vez que vou ao supermercado sinto-me mais triste porque cenas que não via há muito tempo, talvez desde os anos 80, estão voltando a acontecer. Os supermercados estão ficando cheios de seguranças para nos vigiar, <a href="https://mulheralienigena.blogspot.com/2021/11/o-meu-menino-jesus-e-preto-sim.html" target="_blank">desconfiando de todos.</a> O que dói mais é ver itens que antes eram rejeitados voltarem para as principais prateleiras, e ver as pessoas revirando mercadorias, não tão em bom estado, mas com ótimos preços, a fim de encontrar algo que possa fazer jus à próxima refeição. Dói ver as pessoas de chinelos e camisa surrada desconfiadas da desconfiança de quem as olha. Dói ver o crescimento de pedintes do lado de fora. Dói ouvir na TV que o agronegócio bateu recordes de lucros em um ano de pandemia e miséria e mesmo assim o óleo de soja, o arroz e o feijão mais que dobraram seus preços. Qual a vantagem desse recorde para a maioria do povo sendo que cada vez mais, menos empregos esses tais agronegócios oferecem e a comida básica fica inacessível? Algo não bate.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">É no supermercado que a situação da sociedade se denuncia. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Uma vez, quando criança, fui ao supermercado com meus amiguinhos, todos pobres; nossa alimentação era baseada em fubá suado no café da manhã e arroz com feijão quando dava. Os meninos, no supermercado, roubaram umas balas, senti-me envergonhada, com medo e delinquente. Não os censuro hoje. Mais tarde, quando o meu pai pedia ao meu irmão para ir ao supermercado, dizíamos todos em coro a lista: Tomate, banana e ovo.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">A minha variedade alimentar era tão restrita que não me lembro nem de ter comido pão de queijo antes dos vinte e tantos. Na adolescência faltou comida, alimentava-me de alguns abacates surgidos de Deus sabe lá onde. Não ter comida é a situação mais humilhante que o ser humano pode enfrentar.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Por tudo isso, não admito que reclamem da falta de comida, ou do tipo, quando se pode abrir as portas dos armários e elas não estão vazias; por isso me dói ver a situação em que a maioria dos brasileiros estão, não tendo a possibilidade de entrarem em um supermercado para comprar comida. Muitas pessoas estão fazendo das latas e dos caminhões de lixo o seu supermercado. Enquanto isso, um bilionário está fazendo turismo no espaço. Mais do que comida, está difícil se alimentar com esperanças.</span></p><p style="text-align: justify;"><br /></p>Luciana Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/17904001194241044606noreply@blogger.com1Ouro Preto, MG, 35400-000, Brasil-20.402211 -43.5105574-48.712444836178847 -78.66680740000001 7.9080228361788443 -8.3543074000000033tag:blogger.com,1999:blog-5007988281884718334.post-83146518775090476292021-11-04T16:29:00.005-03:002021-11-05T11:17:19.736-03:00O meu menino Jesus é preto, sim!<p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-TBv6M7LH1Cg/YYQwQCYKyXI/AAAAAAAAOSo/-aGxQn6uec876Gef62XAiSvuB-CRsrpqwCLcBGAsYHQ/s1280/62fd159a-ab39-4ac5-a324-34e3b492d933.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><span style="color: black;"><img alt="Menino Jesus preto" border="0" data-original-height="853" data-original-width="1280" height="266" src="https://1.bp.blogspot.com/-TBv6M7LH1Cg/YYQwQCYKyXI/AAAAAAAAOSo/-aGxQn6uec876Gef62XAiSvuB-CRsrpqwCLcBGAsYHQ/w400-h266/62fd159a-ab39-4ac5-a324-34e3b492d933.jpg" title="Menino Jesus de biscuit feito por mim e fotografado por Luan Carlos" width="400" /></span></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Menino Jesus de biscuit feito por mim e fotografado por Luan Carlos</td></tr></tbody></table></div><br /><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Poderia o menino Jesus ser preto? Seria Jesus amado, idolatrado, reverenciado se sua pele fosse escura e seus cabelos fossem crespos?</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Alguns dirão que sim, e darão o exemplo de Nossa Senhora Aparecida, que seria preta, mas as pessoas sabem que Nossa Senhora Aparecida, que é uma representação de Maria, é uma entidade negra? E o Pelé? Outros dirão, mas será que ele mesmo sabe que é preto?</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Aconteceu no Brasil, de acordo com Kabengele Munanga, um processo de mestiçagem que influenciou na maneira como o racismo se desenvolveu; segundo ele, os filhos dos senhores de escravizados com mulheres escravizadas ou libertas teriam maior aceitação social, através dos benefícios financeiros que pudessem receber quando esses pais os reconheciam como filhos. Essa vantagem herdada pela filiação e pelo nível de riqueza foi estendida aos descendentes brasileiros relacionando a condição de descendência bem sucedida ao nível de branqueamento do indivíduo, ou seja, quanto mais clara é a pessoa, menos preconceito ela sofreria dentro da sociedade. Outra questão levantada pelo autor é que a percepção de negritude também depende do nível que o indivíduo ocupa dentro da hierarquia econômico social, isso significa que, quanto mais rico e importante for o indivíduo em sua sociedade, menos as questões de cor possuem relevância. Parece ambíguo, mas não é, pois quanto mais escuro, mais discriminado, porém, se o indivíduo for "pica das galáxias", ninguém vê que ele é preto.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Para compreendermos melhor a questão da cor, devemos entender que o racismo não se construiu da mesma forma em todos os locais onde ele existe; nos Estados Unidos, por exemplo, o preconceito vai além da aparência física da pessoa, o ódio e a intolerância atingem a todos os descendentes de pessoas de origem negra, mesmo que estes possuam cor de pele, cabelo e olhos claros, ou seja, o preconceito é contra a origem do indivíduo, não apenas contra a cor. Aqui no Brasil, a exclusão e o preconceito levam em conta o nível de pretitude e o nível de poder econômico e de influência que o indivíduo possua. Essa questão é complexa e gera dissensos sobre programas de inclusão, de cotas, porque não há um parâmetro adequado para diferenciar uma pessoa preta de uma branca, nem tampouco fica claro se a cota existe para uma reparação histórica que, se fosse o caso, deveria englobar a maioria da sociedade pobre e misturada que é descendente dessas pessoas que foram escravizadas, transformando, assim, todos os programas em um que leve em consideração a renda. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Porém, ser preto implica em ocupar um lugar na história e na sociedade, e isso sim é intensificado de acordo com a pretitude. Com as lutas e reinvindicações, a maneira como a questão do racismo é encarada na nossa sociedade está mudando. Na minha infância, porém, as únicas fotos de pessoas pretas que existiam nos livros eram as dos escravizados, então, era assim que a identidade do negro era construída e consolidada em nossa sociedade, a de um escravo, subalterno, ignorante. Quem seria o louco a querer ter a ver com tal identidade? Eu cansei de ver pessoas pretas, até mesmo da minha família, negarem a sua origem e falarem mal dos "pretos". Ser preto era algo ruim, ninguém deseja fazer parte de algo negativo.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Eu já falei sobre essa questão outras vezes aqui e me sinto no direito de falar, embora talvez possa não ser considerada preta, porque essa linha de divisão da cor não está posta. Na minha certidão de nascimento está escrito "parda", mas não teria coragem de me candidatar a uma vaga nesta cota por medo de não me identificarem como eu me identifico. Não sei de onde vieram meus antepassados, dizem que minha bisavó por parte de mãe tinha olhos azuis, a minha vó era branca e tinha olhos cinzentos, o meu avô, não conheci. A minha avó por parte de pai tinha expressões indígenas e olhos castanhos claros, o meu pai é preto e tem cabelos crespos, o meu avô, também não conheci, pois, assim como o outro, suicidou-se no mar de machismo e ignorância doente que cobria o mundo. Então, eu sou assim, cor de burro fugido, como diziam os antigos. Como eu sei o que é ser preto? Tenho filhos que são considerados pretos, e dói.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Doía quando os meus filhos eram crianças e não podiam andar de chinelos, ou quando entravam nos lugares e as pessoas os ficavam vigiando; doeu quando eu entrei com meu marido em um evento em que as pessoas eram revistadas e os revistadores não nos revistaram, ficaram rindo para nós desajeitados, e, em seguida, revistaram meu filho e a namorada dele. O meu marido é branco e de olhos verdes. Doeu quando fui ao supermercado e, no caixa, percebi que a moça tinha mandado o segurança verificar alguém suspeito, mas, percebendo que o suspeito estava conosco, despistou e disse que era engano. Ele só estava comprando chocolates. Todos os funcionários eram pretos.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Os meus filhos são pessoas excelentes, inteligentíssimos. Um é um gênio para o audiovisual, o outro estuda o dia todo para ser médico, porque gosta. Nunca desrespeitariam uma mulher. Queriam mudar o mundo. Não podem entrar em um supermercado sem parecerem marginais. Eles são lindos.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Tudo isso dói incomensuravelmente porque não posso, ainda, mudar nada. Não posso mudar a maneira como as pessoas os veem, nem o lugar que eles são colocados por causa da sua linda cor e do seu cabelo. Nesses momentos eu sinto ódio, e de tanto ódio, quase que me desanimo dessa sociedade doente. Mas, então, vejo como eles são pessoas maravilhosas e tenho esperança, e para dizer algo, faço um menino Jesus preto mesmo porque eu quero e porque é lindo.</span></p><p><br /></p><p><br /></p>Luciana Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/17904001194241044606noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5007988281884718334.post-4864019860518475322021-08-15T22:12:00.005-03:002021-08-16T08:33:57.771-03:00Eu não sei sentir saudades<p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"> </span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: arial;"><a href="https://lh3.googleusercontent.com/--wfQu8DPwOM/YRm7KccyfmI/AAAAAAAAORI/BzuAQurbNLIqmn9P9INmvF4fITEETC2iwCLcBGAsYHQ/image.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="635" data-original-width="960" height="265" src="https://lh3.googleusercontent.com/--wfQu8DPwOM/YRm7KccyfmI/AAAAAAAAORI/BzuAQurbNLIqmn9P9INmvF4fITEETC2iwCLcBGAsYHQ/w400-h265/image.png" width="400" /></a></span></div><span style="font-family: arial;"><br /></span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">No Brasil, assim como em outras partes do mundo, há o culto às demonstrações intensas de emoção, o que podemos ver <a href="https://mulheralienigena.blogspot.com/2018/08/futebol-o-culto-ao-culto.html">em relação ao futebol,</a> por exemplo. Cultuamos as demonstrações apaixonadas de amor, dor, fé, ódio e até mesmo de servidão, e essa maneira de demonstrar sentimentos é considerada ideal e correta, o que foi percebido recentemente em uma reportagem da Globo sobre o nadador que quebrou um recorde e não demonstrou reação emotiva de acordo com o que se "é esperado" nos esportes, especialmente; o tom da reportagem nos dava a entender que alguns esportistas, e algumas nações, são "frios" e não valorizam e celebram as conquistas como os brasileiros, que, de acordo com os argumentos apresentados, são os exemplos de manifestação. Nessa lógica, pais torcedores incentivam os filhos a sofrerem desmesuradamente nos campos como sinal de devoção exemplar ao seu time, e se flagrado por alguma câmera em prantos escandalosos, o orgulho será eternizado e relembrado para sempre, "espalhafatosamente".</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Nossa sociedade espera que sejamos "calorosos", como os estereótipos nos descreveram por décadas aos quatro cantos do mundo. Devemos ser alegres, amorosos, carinhosos e estar o tempo todo ocupados com aqueles que amamos, especialmente os familiares. O ideal é abrir mão de nossos desejos, nossas individualidades em favor dos membros de nossa família, e o exagero aplicado nesses casos tem gerado muita gente folgada, mas isso é outro assunto. Podemos dizer que quem não se encaixa nesses padrões é visto de maneira negativa, embora vivamos em um tempo louco de grande abertura e possibilidade de escuta das minorias, mas, também, um tempo de avanço (ou retrocesso) do conservadorismo. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Dizer que se sente saudade (sentindo ou não), tornou-se uma obrigação, pois é de bom tom "sentir saudade", morrer de saudades, então, é a expressão máxima do amor. Sobre a palavra e o sentimento de saudade, novamente recaem os estereótipos que dizem que só a língua portuguesa possui essa palavra e, consequentemente, conferiria ao seu povo falante a especificidade de possuir esse sentimento, o que popularmente nos conferiria um status maior na evolução da humanidade sensível.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">De acordo com matéria na revista <a href="https://www.natgeo.pt/historia/2019/12/descubra-algumas-curiosidades-da-palavra-saudade">National Geographic:</a></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><b>"<span style="color: #333333;">“Saudade” representa um conjunto de sentimentos, normalmente causados pela distância ou ausência de algo ou alguém. Esta ausência pode ser física ou não, isto é, pode sentir-se saudade quando alguma relação de amizade, por exemplo, termina. Esta palavra expressa, então, um sentimento que envolve afetividade".</span></b></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><span style="color: #333333;">Eu não sofro por saudade, muito menos morro. Eu não fico remoendo situações que já se foram, eu não fico sofrendo pelas pessoas que estão longe. Eu não revivo o passado com dor. Eu não vivo no passado ou onde não estou fisicamente.</span></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><span style="color: #333333;">Sim, gosto de recordar de momentos bonitos, gostosos e revê-los como vejo um filme, um filme de mim mesma. Rio de novo, sinto de novo e pronto. Lembro das pessoas, dos momentos que tive com elas, lembro-me com prazer e depois os deixo em paz. Eu não vivo lá. Eu não quero voltar para lá. Eu não quero que hoje seja como ontem. Eu "re-sinto", mas não sofro.</span></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><span style="color: #333333;">Alguns acham que isso é frieza, é não gostar das pessoas, é não se importar. Eu gosto e me importo com as pessoas, mas não preciso de todas elas, o tempo todo. Eu desejo que estejam felizes, que estejam curtindo a vida, e, se sofrem, isso me dói, mas eu não preciso da presença física delas, nem de monitorar suas vidas minuciosamente. Quero saber se estão bem, quais as novidades, quais os planos e no que posso ajudar. </span></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: arial;">É bom viver novos momentos com velhos conhecidos, assim como com novos. Mas, vivo muito dentro de mim mesma e minha mente é tão cheia que os dias passam e não cabe tudo, mas quase tudo está lá, num bom lugar, embora escondido.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: arial;">Sinto falta verdadeira apenas do que faz parte de mim todos os dias, e que no momento são meus filhos, enteados e marido. Sinto falta da rotina, do que espero, do que faço, do que tenho, não do que já perdi, do que já se foi, do que não é. Mas, não sofro.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: arial;">Se isso é ter frieza, que seja. Não digo sentimentos por dizer. Não utilizo palavras levianamente. O que digo é o que vai em mim, e isso é o que vai. Ser frio em nossa sociedade nos remete a algo negativo, ruim, marginal, delinquente. Frieza é qualidade de psicopatas (os que usam palavras para forjar todo o tipo de emoção quente); frieza lembra frigidez sexual, tão em voga nos anos 70, condenando as mulheres "defeituosas" que não sentiam prazer. Ser frio é não se comover com o outro, com sua dor, com seu sofrimento. Ser frio é não chorar no jogo de futebol; ser frio é não quase morrer no velório, não ser carinhoso e não gostar de ser tocado. Ser frio é não ser humano (de acordo com nossos modelos de comportamento). </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: arial;">Chega de sofrimento e de dor pelo que não tem que ser dolorido. Chega de desejar o que não se tem. Chega de sofrer por aqueles que já se foram ou que querem estar em outro lugar. Não quero dizer que temos que cortar laços, esquecer, deixar, ignorar. Que os encontros e as partidas sejam leves, pois são breves. Que saudades sejam sinônimos de doces e belas lembranças, que sejam matadas e guardadas, que não sejam um fardo que vem do passado, ou do ausente, para interromper o fluxo da vida.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><span style="color: #333333;"><br /></span></span></p>Luciana Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/17904001194241044606noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5007988281884718334.post-27180805175087216152021-07-02T10:07:00.002-03:002021-07-02T10:19:52.337-03:00O mundo da agonia <div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-pR3Y2nlzsZI/YN8MZmSbGYI/AAAAAAAAOOA/46lgeNLFJGQyhYhCbeTix9bXqd9oLrMXACLcBGAsYHQ/s1080/WhatsApp%2BImage%2B2021-07-02%2Bat%2B09.46.15.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="784" data-original-width="1080" height="290" src="https://1.bp.blogspot.com/-pR3Y2nlzsZI/YN8MZmSbGYI/AAAAAAAAOOA/46lgeNLFJGQyhYhCbeTix9bXqd9oLrMXACLcBGAsYHQ/w400-h290/WhatsApp%2BImage%2B2021-07-02%2Bat%2B09.46.15.jpeg" width="400" /></a></div><br /><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><span style="font-family: arial;">Eu não sei mais viver nesse mundo. O mundo é esse, o que tenho, não posso mudá-lo; preciso aprender a viver nele, mas, como diria a minha avó, "é difícil ensinar novos truques a cavalos velhos". Talvez, esse sentimento faça parte dos saudosistas inconformados com as mudanças tecnológicas que sempre existiram em todas as épocas, provavelmente. Talvez eu seja parte da parcela infeliz, melancólica e depressiva da sociedade, que não consegue ver as qualidades do "novo". Será?</span><div><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div><span style="font-family: arial;">Por que eu não sei viver nesse mundo? </span></div><div><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div><span style="font-family: arial;">Esse mundo me cansa. As pessoas desse mundo me cansam. Sou uma velha rabugenta, finalmente. O que posso fazer com o sentimento de terror que sinto ao perceber que as vivências estão se transformando drasticamente, assim como as formas de sentir, de interagir, de enxergar o mundo? Quais são as memórias que estão sendo construídas nessa nova dinâmica proporcionada por telas diante de nossos olhos? Quais as sensações que farão parte de nosso modelo de mundo? </span></div><div><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div><span style="font-family: arial;">Os seres humanos estão cada vez mais destacados. Não, não se trata de se destacarem na sociedade, mas de se destacarem do resto do universo, ou seja, trata-se de se colocarem em uma condição de superioridade diante do resto do universo ao ponto de verem todas as coisas girando em torno da humanidade e em função dela, como se seres humanos não fizessem parte de um todo integrado e interdependente. Os indígenas tem muito a nos ensinar sobre esse destacamento e sobre o nosso verdadeiro lugar no mundo.</span></div><div><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div><span style="font-family: arial;">Telas. Ao acordar, a primeira coisa que fazemos é pegar a praga do <b>telefone celular</b> e ficar tempos inestimáveis lendo mensagens inúteis nas redes sociais. Para quem pode, na pandemia, o trabalho está sendo remoto, isso significa passar praticamente todo o dia em reuniões virtuais, grupos de <b>WhatsApp, lives, cursos, seminários, webinars,</b> tudo na tela. Para quem não pode, muitas vezes, dependem de um telefone para trabalhar, e quando têm uma folga, passam os minutos "livres" olhando outras coisas no celular. As crianças e adolescentes? Cada um tem um telefone (nas camadas da sociedade em que isso é possível). Despencam de aulas online para a o computador, do computador para a TV conectada à internet. E assim se formam hábitos, perspectivas, modelos, comportamento, e assim se desenvolve a capacidade cognitiva viciada e dependente. Sabemos que a desigualdade em nosso país impede que todos tenham o mesmo estilo de vida, que entre 10 famílias, 6 estão ameaçadas pela fome, mas é verdade também que o Brasil é o 5º maior mercado de smartphones do mundo. O telefone tornou-se uma necessidade real, e, em países como a Índia, por exemplo, há mais celulares do que banheiros em casa, o que (apesar das peculiaridades culturais) demonstra qual é o valor que o aparelho, ou seja, a conexão com a internet adquiriu, tornou-se mais valioso que comida e higiene.</span></div><div><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div><span style="font-family: arial;">O nosso cérebro está extremamente exposto a milhares de informações difusas e rasas; isso nos leva à exaustão e cada vez fica mais difícil sentar-se e concentrar-se em algo específico e profundo, fazer conexões, criar. Até escrever, para mim, ficou mais difícil, porque não tenho forças, energias, porque há tanta coisa sendo dita por tantos, porque ninguém quer mais ler ou escrever textos com mais de um parágrafo ou alguns caracteres no <b>Twitter</b>. Tudo cansa. </span></div><div><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div><span style="font-family: arial;">Nessa zumbilandia Matrix em que vivemos, não existe diferença entre realidade e virtualidade; não sabemos mais se estivemos em algum lugar ou vimos fotos, vídeos. Não sabemos também se aquela notícia, que já foi desmentida, foi mesmo desmentida, se os cientistas falam a verdade, se as instituições existem e são confiáveis, pois tudo é nebuloso, raso, fugidio, virtual, como em um sonho ou delírio de um louco. Pisamos em um chão de giz.</span></div><div><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div><span style="font-family: arial;">Preferimos ficar dentro de cavernas escuras olhando para telas, como em Platão. Sair cansa, sua, queima a pele. Interagir ao vivo é difícil, muito ágil, não tem como ignorar a mensagem e responder mais tarde. Ao mesmo tempo, todos estão extremamente ansiosos e esperam que suas mensagens sejam respondidas imediatamente, escravizando e enjaulando todos em seus aplicativos. Humanos ansiosos e inseguros.</span></div><div><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div><span style="font-family: arial;">Esse é o mundo. Um mundo de escravidão e de gente curvada. Um mundo de gente ansiosa por ter seus dispositivos grudados em sua mão, que não tolera o silêncio, não tolera a si mesmo. Um mundo que não tolera o outro.</span></div><div><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div><span style="font-family: arial;">Quem sou eu? Um ser humano que também já foi escravizado e luta todos os dias para deixar de ser. Eu quero sentir o cheiro das flores e ver o por do sol ao vivo. Eu quero sentir o aroma que distingue as cidades, eu quero ficar embaraçada e exausta de tentar interagir de vez em quando. Eu quero ficar tranquila tomando um café, sem pensar que estou perdendo alguma novidade inútil. Eu quero ficar longos momentos sem me preocupar com o amanhã. Eu quero contar histórias para as crianças. Eu quero plantar e ver o desenvolvimento da planta. Eu quero ter o poder de desligar a tela e esquecer-me dela. Eu quero ter o mínimo de informação possível, mas todas as que sejam relevantes. Eu quero ser livre, e mais que tudo, eu quero ter paz. Espero conseguir, mas também espero não ficar sozinha em meio aos que já se transportaram para o mundo da agonia.</span></div><div><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div><span style="font-family: arial;"><br /></span><div><br /></div><div><br /></div></div>Luciana Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/17904001194241044606noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5007988281884718334.post-60340116069976195242021-06-21T10:29:00.002-03:002021-06-21T10:31:05.874-03:00 IMAGINÁRIO SÓCIO-DISCURSIVO NO CENÁRIO EDUCACIONAL: UMA REFLEXÃO SOBRE AS POSSÍVEIS TENDÊNCIAS IDENTIFICÁVEIS DURANTE A PANDEMIA<p><br /></p><div class="post-header" style="background-color: white; color: #010101; font-family: Montserrat, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 1.6; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><div class="post-meta" style="color: #bdbdbd; font-size: 13px; line-height: 21px; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span class="post-author vcard" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"></span><span class="post-timestamp" style="margin-left: 5px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"></span><span class="label-head" style="margin-left: 5px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"></span></div><div class="ads-posting" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><div class="home-ad no-items section" id="ads-home" name="Ads Home/Post (728x90)" style="margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"></div><a name="ad-post" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"></a></div></div><article style="background-color: white; color: #010101; font-family: Montserrat, sans-serif; font-size: 14px; margin-top: 20px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><div class="post-body entry-content" id="post-body-7353759645507582825" itemprop="articleBody" style="color: #5e5e5e; font-size: 15px; line-height: 1.5em; outline: 0px; overflow: hidden; transition: all 0.3s ease 0s; width: 770px;"><h4 style="color: #2c3e50; margin: 0px 0px 15px; outline: 0px; padding: 0px; position: relative; transition: all 0.3s ease 0s;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://lh3.googleusercontent.com/-5L3jO3T7AIY/YNCTW1Ff2DI/AAAAAAAAONk/Zm6JzXth4Tgs6fzDIwBzFiVlmPDtM1hkQCLcBGAsYHQ/image.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Agência Minas Gerais" data-original-height="350" data-original-width="940" height="188" src="https://lh3.googleusercontent.com/-5L3jO3T7AIY/YNCTW1Ff2DI/AAAAAAAAONk/Zm6JzXth4Tgs6fzDIwBzFiVlmPDtM1hkQCLcBGAsYHQ/w505-h188/image.png" width="505" /></a></div><br />*Artigo publicado originalmente na revista <a href="https://www.multiatual.com.br/2021/01/imaginario-sociodiscursivo-no-cenario.html" target="_blank">MultiAtual.</a></h4><div style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><h3 style="color: #2c3e50; line-height: 26.325px; margin: 0px 0px 0cm; outline: 0px; padding: 0px; position: relative; text-align: right; text-indent: 35.4pt; transition: all 0.3s ease 0s;"><i style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 24px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;">Luciana de Fátima Ferreira</span></i></h3><p align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 22.5px; margin-bottom: 0cm; outline: 0px; text-align: right; text-indent: 35.4pt; transition: all 0.3s ease 0s;"><i style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 10pt; line-height: 20px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"> Mestre em Letras pela UFOP, cursando Especialização em docência pelo IFMG, campus Arcos.<o:p style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"></o:p></span></i></p><p align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 22.5px; margin-bottom: 0cm; outline: 0px; text-align: right; text-indent: 35.4pt; transition: all 0.3s ease 0s;"><b style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 24px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"> </span></b></p><p align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 22.5px; margin-bottom: 0cm; outline: 0px; text-align: right; text-indent: 35.4pt; transition: all 0.3s ease 0s;"><b style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 24px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"> </span></b></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 22.5px; margin-bottom: 0cm; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><b style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 24px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;">Resumo<o:p style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"></o:p></span></b></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 22.5px; margin-bottom: 0cm; outline: 0px; text-align: justify; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 24px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;">Este artigo traz algumas questões introdutórias que versam sobre a memória discursiva e o imaginário sócio discursivo, detendo-se, especificamente, ao imaginário sóciodiscursivo que podemos identificar na atualidade dessa escrita e que se relaciona ao universo educacional do contexto brasileiro cujos discursos dominantes indicam privilegiar o ideal de educação baseado em valores neoliberais; para ilustrar minimamente nossa argumentação, que abarca elementos presentes nos discursos atuais, faremos uma análise preliminar de alguns trechos de um documento oficial da Secretaria de Estado da Educação de Minas Gerais (que foi criado para anunciar a volta às aulas em regime não presencial após um período de três meses de isolamento social necessário devido à pandemia do COVID-19), e de um trecho do plano de governo do governador Romeu Zema; procuraremos encontrar elementos que nos possibilitem revelar estratégias discursivas que indiquem a existência de tendências neoliberais nos discursos dominantes em nossa sociedade. Para essa análise introdutória, faremos também uma breve narrativa sobre medidas e situações ocorridas no cenário educacional que servirão de base para legitimar os argumentos utilizados neste levantamento preliminar sobre a formação e a constituição de um imaginário sóciodiscursivo do tempo dessa escrita, imaginário capaz de revelar, talvez, os mecanismos que determinem as relações em diversos setores da sociedade.<o:p style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 22.5px; margin-bottom: 0cm; outline: 0px; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 24px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 22.5px; margin-bottom: 0cm; outline: 0px; text-align: justify; transition: all 0.3s ease 0s;"><b style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 24px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;">Palavras-chave:</span></b><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 24px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"> Análise do discurso, Educação, Imaginário sóciodiscursivo<o:p style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 22.5px; margin-bottom: 0cm; outline: 0px; text-align: justify; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 24px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 22.5px; margin-bottom: 0cm; outline: 0px; text-align: justify; transition: all 0.3s ease 0s;"><b style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 24px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;">Resume<o:p style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"></o:p></span></b></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 22.5px; margin-bottom: 0cm; outline: 0px; text-align: justify; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 24px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;">This article brings some introductory questions that deal with the discursive memory and the socio-discursive imaginary, focusing, specifically, on the socio-discursive imaginary that we can identify at the present time of this writing and that is related to the educational universe of the Brazilian context whose dominant discourses indicate to privilege the ideal of education based on neoliberal values; to minimally illustrate our argument, which includes elements present in the current speeches, we will make a preliminary analysis of some excerpts from an official document of the Minas Gerais State Department of Education (which was created to announce the return to school in a non-face-to-face regime after a three-month period of social isolation required due to the COVID-19 pandemic), and an excerpt from Governor Romeu Zema's government plan; we will seek to find elements that enable us to reveal discursive strategies that indicate the existence of neoliberal tendencies in the dominant discourses in our society. For this introductory analysis, we will also make a brief narrative about measures and situations that occurred in the educational scenario that will serve as a basis to legitimize the arguments used in this preliminary survey on the formation and constitution of a socio-discursive imaginary of the time of this writing, an imaginary capable of revealing, perhaps, the mechanisms that determine relationships in different sectors of society.<o:p style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 22.5px; margin-bottom: 0cm; outline: 0px; text-align: justify; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 24px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 22.5px; margin-bottom: 0cm; outline: 0px; text-align: justify; transition: all 0.3s ease 0s;"><b style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 24px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;">Keyword</span></b><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 24px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;">: Discourse analysis, Education, Socio-discursive imaginary<o:p style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 22.5px; margin-bottom: 0cm; outline: 0px; text-align: justify; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 24px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 22.5px; margin-bottom: 0cm; outline: 0px; text-align: justify; transition: all 0.3s ease 0s;"><b style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 24px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;">Introdução<o:p style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"></o:p></span></b></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 22.5px; margin-bottom: 0cm; outline: 0px; text-align: justify; transition: all 0.3s ease 0s;"><b style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 24px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"> </span></b></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 22.5px; margin-bottom: 0cm; outline: 0px; text-align: justify; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 24px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"> Procuramos, com essa pequena e preliminar análise, lançar questões e possíveis direcionamentos para futuros trabalhos que pretendam discorrer sobre elementos dos cenários sóciodiscursivos que fazem parte do universo educacional brasileiro; tais questionamentos mostram-se importantes para a compreensão sobre como esses imaginários podem ser construídos através da história e como eles influenciam ou determinam políticas públicas educacionais que nem sempre beneficiam a maior parte da sociedade.<o:p style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 22.5px; margin-bottom: 0cm; outline: 0px; text-align: justify; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 24px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"> Faremos uma breve explanação sobre os conceitos que nos apoiarão nessas análises preliminares e, em seguida, recapitularemos alguns fatos que nos ajudarão a compreender como os discursos se materializam em ações governamentais. Depois dessa introdução, analisaremos pequenos trechos de textos oficiais que nos possibilitarão vislumbrar as tendências ideológicas dos discursos dominantes.<o:p style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 22.5px; margin-bottom: 0cm; outline: 0px; text-align: justify; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 24px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"> A tentativa de compreender os elementos que constituem o imaginário sóciodiscursivo que se relacionam a determinados campos, aqui, ao campo educacional, é importante para que possamos compreender, também, como se dão os processos hegemônicos que determinam condições e relações sociais, pois é através desse imaginário que as relações sociais são estabelecidas, compreendidas e aceitas; o imaginário sóciodiscursivo nos revela os valores de uma determinada sociedade, ele diz sobre o que é aceito, desejável ou condenável, ele possibilita que projetos sejam criados e que gerem adesão da sociedade com base nesses valores que dela fazem parte. A educação, ou seja, esse complexo arcabouço de teorias, estruturas, políticas e ideais que configuram medidas tomadas para suprir a necessidade de se instruir o ser humano, de forma-lo ou de “formata-lo” em determinada direção, é um dos principais instrumentos na formação de valores e na construção do imaginário sóciodiscursivo, assim sendo a relevância dos estudos sobre esse tema parece aceitável.<o:p style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 22.5px; margin-bottom: 0cm; outline: 0px; text-align: justify; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 24px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"> <o:p style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 22.5px; margin-bottom: 0cm; outline: 0px; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 24px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 22.5px; margin-bottom: 0cm; outline: 0px; text-align: justify; transition: all 0.3s ease 0s;"><b style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 24px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;">A memória discursiva e o imaginário sóciodiscursivo<o:p style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"></o:p></span></b></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 22.5px; margin-bottom: 0cm; outline: 0px; text-align: justify; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 24px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 22.5px; margin-bottom: 0cm; outline: 0px; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 24px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;">A memória discursiva é responsável por oferecer as bases semânticas e estruturais dos discursos, essas bases constroem-se e materializam-se através das repetições ou de reformulações de enunciados que pertencem a uma determinada formação discursiva<a href="file:///F:/Grupo%20MultiAtual/Revista%20MultiAtual/v.2,%20n.1,%202021.docx#_ftn1" name="_ftnref1" style="color: #4332e4; outline: 0px; text-decoration-line: none; transition: all 0.3s ease 0s;" title=""><span class="MsoFootnoteReference" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span class="MsoFootnoteReference" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 17.12px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;">[1]</span></span></span></a>. Podemos dizer que a memória discursiva é constituída por duas esferas, que são a da materialidade do discurso e a que diz respeito a conhecimentos adquiridos socialmente, sendo assim, a relação entre o discurso e a memória se daria em dois planos que são complementares, esses planos são o da história e o da textualidade, sendo que este segundo seria constituído de elementos textuais da memória discursiva que possibilitam a coesão textual; essa memória textual tratar-se-ia do conhecimento prévio de elementos textuais discursivos, como a anáfora, os tempos verbais, as pressuposições, etc.; esses elementos são adquiridos nas experiências de trocas dialógicas e na compreensão do funcionamento destes dentro de um discurso (CHARAUDEAU e MINGUENEAU, 2006). Ainda, segundo os autores, a memória discursiva não se trataria de uma memória psicológica, mas de uma memória que estaria ligada de forma inseparável ao modo de existência das formações discursivas, isso quer dizer que o discurso construiria para si, progressivamente, uma memória intratextual, remetendo-se a enunciados precedentes, e através desses, reconstruindo significados a todo momento.<o:p style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 22.5px; margin-bottom: 0cm; outline: 0px; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 24px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;">Segundo (CHARAUDEAU, 2006), essa memória discursiva seria constituída também pelos conhecimentos, crenças e saberes sobre o mundo, ou seja, os discursos que circulam socialmente estariam presentes na formação das identidades coletivas de grupos que compartilham o mesmo sistema de valores. Haveria também a memória das situações de comunicação (que abarcaria elementos que normatizam as trocas comunicativas, possibilitando que os interagentes possam estabelecer uma espécie de contrato de reconhecimento, construindo comunidades comunicacionais), e a memória das formas (que tratar-se-ia daquela constituída em torno das maneiras de dizer, ou seja, fariam parte dela os usos da linguagem, seja ela verbal, gestual ou icônica). Estas memórias estariam inter-relacionadas e possibilitariam que o sujeito se situasse e situasse os discursos de acordo com o que essas memórias possibilitassem dentro dos usos e das relações realizadas através da linguagem, ainda propiciariam o funcionamento das interações discursivas e seriam responsáveis pela manutenção ou quebra de paradigmas discursivos; essa quebra de paradigmas discursivos, ou seja, as mudanças que podem ocorrer no discurso gerando novas significações que acontecimentos históricos podem trazer através de novos enunciados que desestabilizariam o que normalmente é dito, afetariam exatamente essa memória discursiva, ou seja, os sentidos que se constituem através do entrecruzamento das memórias mítica, social e da memória histórica (PÊUCHEX, 1999). A essa tensão gerada no discurso trazida por acontecimentos históricos que resignificam elementos do discurso, Pêcheux chamou de “acontecimento discursivo”.<o:p style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 22.5px; margin-bottom: 0cm; outline: 0px; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 24px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;">Podemos dizer que o nosso universo representacional é, de certa forma, estabelecido por nossas memórias discursivas, mas, é a partir das relações entre todos os elementos discursivos e novos acontecimentos que venham desestabilizar uma significação, é que novos sentidos vão sendo estabelecidos, tendo como premissa a gama de sentidos anteriores, ou seja, o nosso imaginário sóciodiscursivo não seria construído apenas em determinadas situações interativas pelos participantes do discurso, mas o sentido que é dado a tudo que nos rodeia também é construído anteriormente a nós mesmos, embora possamos ter a ilusão de que somos a fonte do que dizemos e pensamos.<o:p style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 22.5px; margin-bottom: 0cm; outline: 0px; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 24px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;">Quando viemos ao mundo, somos inseridos em um universo formado por seus paradigmas, por seus discursos e pré-discursos<a href="file:///F:/Grupo%20MultiAtual/Revista%20MultiAtual/v.2,%20n.1,%202021.docx#_ftn2" name="_ftnref2" style="color: #4332e4; outline: 0px; text-decoration-line: none; transition: all 0.3s ease 0s;" title=""><span class="MsoFootnoteReference" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span class="MsoFootnoteReference" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 17.12px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;">[2]</span></span></span></a>, um mundo que nos é apresentado e no qual somos levados a incorporar e resignificar conceitos e representações de tudo o que dele faz parte, ou seja, grande parte dos imaginários com os quais o sujeito convive já está presente na sociedade antes mesmo que ele venha ao mundo. Essa noção de imaginário sócio discursivo está presente em CHARAUDEAU (2017); esse autor afirma que esse conceito diz respeito a uma “forma de apreensão do mundo que nasce na mecânica das representações sociais”. Considerando o explicitado, podemos dizer que o imaginário sócio discursivo diria respeito à construção da significação sobre o mundo que nos rodeia, sobre as coisas, as pessoas, os fenômenos, os comportamentos, ou seja, esse imaginário resultaria de um processo de simbolização representacional do mundo no interior de um domínio de prática social, o que daria a essas representações uma carga afetivo-racional, instalando-se na memória coletiva; assim sendo, podemos dizer que o imaginário seria a base da constituição de valores e teria a função de justificar atos, devido a lógica que nos é fornecida por suas representações de mundo.<o:p style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 22.5px; margin-bottom: 0cm; outline: 0px; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 24px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;">Neste trabalho, estamos levando em consideração elementos do imaginário sócio discursivo que se relaciona ao cenário educacional e que se apresenta na atualidade dessa escrita, imaginário que pode ser vislumbrado pela análise de diversos discursos existentes (através da análise das narrativas e das metanarrativas presentes em vários meios de comunicação, virtuais ou físicos, assim como nas interações cotidianas), nos quais podemos descrever, as estratégias linguístico-discursivas utilizadas para se justificar a sustentação de um ideal neoliberal da educação; uma dessas narrativas está presente em um memorando expedido pela subsecretaria de Gestão de Recursos Humanos da Secretaria de Estado da Educação de Minas Gerais que anuncia a volta às aulas no estado de Minas Gerais, e que nos ajudará a ilustrar nosso argumento.<o:p style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 22.5px; margin-bottom: 0cm; outline: 0px; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 24px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 22.5px; margin-bottom: 0cm; outline: 0px; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 24px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 22.5px; margin-bottom: 0cm; outline: 0px; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; transition: all 0.3s ease 0s;"><b style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 24px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;">O contexto da escrita: pandemia<o:p style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"></o:p></span></b></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 22.5px; margin-bottom: 0cm; outline: 0px; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; transition: all 0.3s ease 0s;"><b style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 24px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"> </span></b></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 22.5px; margin-bottom: 0cm; outline: 0px; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 24px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;">O início do isolamento social necessário devido a pandemia gerada pelo contágio do COVID-19 foi decretado para o dia 18 de março de 2020, data também prevista para a greve geral dos trabalhadores da educação, sendo que grande parte dos trabalhadores das escolas estaduais já estavam em greve reivindicando melhorias e o cumprimento do piso salarial determinado por lei; a revolta dos profissionais da educação aumentou com a aprovação, em primeiro turno na assembleia legislativa, de um aumento de 42% nos salários dos policiais civis e militares, e de 30% para a educação, sendo que o governo ainda estava devendo o 13% salário dos funcionários; após grande impacto gerado na mídia e de protestos de várias categorias, o governador Romeu Zema resolveu sancionar parcialmente o aumento que passou a ser de 13% para os policiais, e de nenhum percentual para as demais categorias. Este cenário inicial nos oferece indícios sobre quais áreas são consideradas prioritárias na percepção do governo em questão, que sem analisar os impactos que poderiam ser gerados na economia, e desconsiderando a realidade, especificamente a que se relaciona à precariedade em que trabalham os profissionais da educação, queria conceder um aumento que não condizia com a realidade orçamentária do estado a uma categoria específica, a única que acabou sendo contemplada.<o:p style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 22.5px; margin-bottom: 0cm; outline: 0px; text-align: justify; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 24px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"> A descrição desse panorama é importante para a nossa análise, pois torna possível que compreendamos as tendências ideológicas dos poderes governamentais em questão, assim como as formações discursivas que estão presentes no contexto apresentado. Um segundo documento que nos foi importante, trata-se do programa do governo<a href="file:///F:/Grupo%20MultiAtual/Revista%20MultiAtual/v.2,%20n.1,%202021.docx#_ftn3" name="_ftnref3" style="color: #4332e4; outline: 0px; text-decoration-line: none; transition: all 0.3s ease 0s;" title=""><span class="MsoFootnoteReference" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span class="MsoFootnoteReference" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 17.12px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;">[3]</span></span></span></a> do atual governador Romeu Zema intitulado “Liberdade ainda que tardia” (referência à frase criada por Alvarenga Peixoto e que teria sido lema da Inconfidência Mineira), em especial a seção que dispõe sobre a educação; fica claro, através do documento produzido para a campanha, que a equipe do atual governador possuía uma visão mercadológica da educação e que o foco estaria nos resultados obtidos nos programas avaliativos governamentais. Rechaça-se, assim, todo o conhecimento construído ao longo de décadas por estudiosos e pedagogos importantes como Paulo Freire, que negava a concepção de educação em que o conhecimento seria tratado como um produto a ser consumido, ou como um índice avaliativo a ser alcançado, pois considerava que a educação deveria promover a liberdade dos indivíduos, ou seja, o indivíduo deveria tornar-se capaz de ler o mundo, compreendê-lo e agir sobre ele, sendo que esse conhecimento sobre o mundo deveria ser construído na interação com a sua realidade, quer dizer, na relação direta dos conteúdos com o que faria sentido para este indivíduo em sua realidade cotidiana.<o:p style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 22.5px; margin-bottom: 0cm; outline: 0px; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 24px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;">O estudante, segundo Paulo Freire, não é uma espécie de banco em que fazemos um depósito de conteúdos, e o educador não é o detentor absoluto do conhecimento que irá transferi-lo para o aluno que o receberia passivamente; o conhecimento nasceria da interação entre educadores e educandos, sendo necessário, para isso, que o educador assumisse a condição de <i style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;">educador-educando</i>, expressão que, segundo Antônio Carlos Gomes da Costa<a href="file:///F:/Grupo%20MultiAtual/Revista%20MultiAtual/v.2,%20n.1,%202021.docx#_ftn4" name="_ftnref4" style="color: #4332e4; outline: 0px; text-decoration-line: none; transition: all 0.3s ease 0s;" title=""><span class="MsoFootnoteReference" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span class="MsoFootnoteReference" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 17.12px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;">[4]</span></span></span></a>, inspirado nas teorias “freirianas”, refere-se aos agentes básicos do processo educativo e à “dimensão de educando (disposição de aprender, de ser “educado”) que deve existir em cada educador”. Assim sendo, podemos considerar que a relação interativa, pessoal, entre ambas as partes, também é peça fundamental no processo de construção do conhecimento, e não pode ser sublimada, especialmente nos anos iniciais, quando estão sendo formados os processos cognitivos dos indivíduos, ou, podemos dizer também, que é quando está sendo formada a memória discursiva, especialmente na dimensão que carrega os valores que os indivíduos levarão para as suas vidas; neste sentido, a presença do educador no processo de aprendizagem é fundamental.<o:p style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 22.5px; margin-bottom: 0cm; outline: 0px; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 24px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;">Podemos dizer que o plano do governo apresenta uma visão enviesada de conceitos como o construtivismo<a href="file:///F:/Grupo%20MultiAtual/Revista%20MultiAtual/v.2,%20n.1,%202021.docx#_ftn5" name="_ftnref5" style="color: #4332e4; outline: 0px; text-decoration-line: none; transition: all 0.3s ease 0s;" title=""><span class="MsoFootnoteReference" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span class="MsoFootnoteReference" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 17.12px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;">[5]</span></span></span></a> apresentando em suas soluções para a educação mineira práticas que poderiam excluir o educador do processo, com a premissa de que o conhecimento advém da construção pessoal do indivíduo, e assim sendo, justifica possíveis medidas que poderiam deixar a cargo do aluno e das famílias a maior parte desse processo educacional. Toda a premissa de um discurso presente no programa de governo, e que nos remeteria para soluções que buscariam privatizar serviços prestados pelo Estado, está se confirmando com propostas e medidas que estão sendo tomadas lentamente, como, por exemplo, o plano de implementação<a href="file:///F:/Grupo%20MultiAtual/Revista%20MultiAtual/v.2,%20n.1,%202021.docx#_ftn6" name="_ftnref6" style="color: #4332e4; outline: 0px; text-decoration-line: none; transition: all 0.3s ease 0s;" title=""><span class="MsoFootnoteReference" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span class="MsoFootnoteReference" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 17.12px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;">[6]</span></span></span></a> de um modelo de escola público-privada, a chamada “Escola Charter”, que foi divulgado no dia 13 de setembro de 2020; as medidas planejadas e as que já foram tomadas pelo atual governo mineiro confirmam a existência de ideais neoliberais<a href="file:///F:/Grupo%20MultiAtual/Revista%20MultiAtual/v.2,%20n.1,%202021.docx#_ftn7" name="_ftnref7" style="color: #4332e4; outline: 0px; text-decoration-line: none; transition: all 0.3s ease 0s;" title=""><span class="MsoFootnoteReference" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span class="MsoFootnoteReference" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 17.12px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;">[7]</span></span></span></a> que caracterizam essa gestão e que, podemos verificar, também fazem parte do imaginário sóciodiscursivo de uma grande maioria popular, agindo como referentes que guiariam e legitimariam políticas “necessárias para o progresso social”.<o:p style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 22.5px; margin-bottom: 0cm; outline: 0px; text-align: justify; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 24px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 22.5px; margin-bottom: 0cm; outline: 0px; text-align: justify; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 24px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"> Temos, aqui, algumas questões que influenciam em nossas reflexões, uma delas é a campanha de desvalorização dos profissionais da educação que acontece há décadas, o que podemos constatar realizando uma superficial análise de uma enorme variedade de textos disponíveis<a href="file:///F:/Grupo%20MultiAtual/Revista%20MultiAtual/v.2,%20n.1,%202021.docx#_ftn8" name="_ftnref8" style="color: #4332e4; outline: 0px; text-decoration-line: none; transition: all 0.3s ease 0s;" title=""><span class="MsoFootnoteReference" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span class="MsoFootnoteReference" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 17.12px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;">[8]</span></span></span></a>, inclusive jornalísticos, nos quais os discursos retratam os professores como “vagabundos”, descrevem universidades como “antros de imoralidades”, e universitários como “drogados e folgados”, além de apontar supostos privilégios que servidores públicos e estudantes teriam ao receberem recursos governamentais. Sobre o papel da mídia na formação discursiva sobre a educação, nos diz Silva (2016) em sua tese:<o:p style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 22.5px; margin-bottom: 0cm; outline: 0px; text-align: justify; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 24px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"> </span></p><p class="MsoQuote" style="line-height: 22.5px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span color="windowtext" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;">No nosso estudo, defende-se a tese de que a mídia, alinhada com o discurso neoliberal dominante no Brasil desde a década de 1990, produz relatos nos quais a educação pública brasileira é desqualificada com a mobilização das mais diferentes estratégias discursivas que objetivam desmantelar a proposta de educação pública própria do Estado de bem-estar e tornar inquestionável a proposta de organizar a educação básica brasileira de acordo com as regras e procedimentos próprios da iniciativa privada. Esses relatos exaltam um Estado de tipo empresarial, controlador e avaliador, e recorrentemente responsabilizam os professores e os sindicatos que os representam pela qualidade da educação pública brasileira, construindo-os como representantes do atraso que impedem a reforma modernizadora que faria o Brasil avançar como nação. Dessa forma, potencializa-se o discurso de controle e governamento da educação, com fins de enquadrar seus atores na nova ordem mundial.<o:p style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 22.5px; margin-bottom: 0cm; outline: 0px; text-align: justify; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 24px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 22.5px; margin-bottom: 0cm; outline: 0px; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 24px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;">Essas qualificações direcionadas aos elementos do cenário educacional, que passaram a fazer parte do imaginário sócio discursivo dos brasileiros, fomentadas e sustentadas por reportagens, muitas vezes, parciais, unilaterais, generalizantes, e, algumas vezes, (em tempos de “Fakenews”), inventadas, ajudaram, ao longo de décadas, a sedimentar um cenário carregado de descrença e agressividade em relação a todos os setores da educação. Atualmente, podemos verificar um discurso (sustentado por muitos daqueles que se denominam “de direita”), que afirma que as escolas e as universidades foram tomadas por “doutrinadores esquerdistas”, discurso sustentado publicamente pelo ex-ministro da educação, Abhraham Weintraub<a href="file:///F:/Grupo%20MultiAtual/Revista%20MultiAtual/v.2,%20n.1,%202021.docx#_ftn9" name="_ftnref9" style="color: #4332e4; outline: 0px; text-decoration-line: none; transition: all 0.3s ease 0s;" title=""><span class="MsoFootnoteReference" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span class="MsoFootnoteReference" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 17.12px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;">[9]</span></span></span></a>, que pouco antes de se demitir do ministério, assinou uma medida que pretendia acabar com o programa de cotas, um “Gran finale” depois de uma trajetória recheada de medidas, falas e aparições teatrais.<o:p style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 22.5px; margin-bottom: 0cm; outline: 0px; text-align: justify; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 24px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"> A segunda questão que devemos considerar a fim de entender o imaginário sócio discursivo identificável no tempo dessa escrita, é a visão mercadológica<a href="file:///F:/Grupo%20MultiAtual/Revista%20MultiAtual/v.2,%20n.1,%202021.docx#_ftn10" name="_ftnref10" style="color: #4332e4; outline: 0px; text-decoration-line: none; transition: all 0.3s ease 0s;" title=""><span class="MsoFootnoteReference" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span class="MsoFootnoteReference" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 17.12px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;">[10]</span></span></span></a> que o atual governo demonstra em relação à educação, pois este parece considerar o conhecimento como um produto a ser adquirido, assim como relaciona alunos e pais a clientes, qualificações que podemos identificar nas linhas do seu plano de governo, programa que nos traz a proposta de melhorar a qualidade da educação com algumas medidas, dentre elas, dando “autonomia aos alunos” em seus estudos; essa visão mercadológica, ao que os discursos nos indicam, também faz parte dos discursos sustentados por uma maioria popular, ou seja, tornou-se hegemônica<a href="file:///F:/Grupo%20MultiAtual/Revista%20MultiAtual/v.2,%20n.1,%202021.docx#_ftn11" name="_ftnref11" style="color: #4332e4; outline: 0px; text-decoration-line: none; transition: all 0.3s ease 0s;" title=""><span class="MsoFootnoteReference" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span class="MsoFootnoteReference" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 17.12px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;">[11]</span></span></span></a> na sociedade atual que, além de assumir que a educação funcione pela mesma lógica capitalista, ou seja, que a educação deva gerar “lucros” na forma de indicativos avaliativos, concedendo aos mais bem-sucedidos lugares especiais, assume também que ela deva servir ao capital, formando mão de obra para abastecer o mercado.<o:p style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 22.5px; margin-bottom: 0cm; outline: 0px; text-align: justify; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 24px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"> <o:p style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 22.5px; margin-bottom: 0cm; outline: 0px; text-align: justify; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 24px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 22.5px; margin-bottom: 0cm; outline: 0px; text-align: justify; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 24px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 22.5px; margin-bottom: 0cm; outline: 0px; text-align: justify; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 24px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 22.5px; margin-bottom: 0cm; outline: 0px; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 24px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 22.5px; margin-bottom: 0cm; outline: 0px; text-align: justify; transition: all 0.3s ease 0s;"><b style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 24px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;">Os indícios<o:p style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"></o:p></span></b></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 22.5px; margin-bottom: 0cm; outline: 0px; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; transition: all 0.3s ease 0s;"><b style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 24px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"> </span></b></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 22.5px; margin-bottom: 0cm; outline: 0px; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 24px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;">O memorando-circular nº 42/2020/SEE/SG é endereçado aos “superintendentes regionais de ensino, gestores escolares, professores, especialistas, demais servidores e membros da comunidade escolar”. Analisemos o primeiro parágrafo do memorando:<o:p style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 22.5px; margin-bottom: 0cm; outline: 0px; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 24px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 22.5px; margin-bottom: 0cm; outline: 0px; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 24px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"> </span></p><p class="MsoQuote" style="line-height: 22.5px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><b style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;">É com satisfação</b><span color="windowtext" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"> que fomos autorizados a iniciarmos o Regime Especial de Atividades Não Presenciais (REANP) a partir do dia 13 de maio de 2020, quarta-feira, com os servidores das unidades escolares e Inspeção Escolar. No dia 18 de maio de 2020, segunda-feira, teremos a <b style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;">grata satisfação</b> de iniciarmos com os nossos estudantes.<o:p style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"></o:p></span></p><p class="MsoQuote" style="line-height: 22.5px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span color="windowtext" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><o:p style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 22.5px; margin-bottom: 0cm; outline: 0px; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 24px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 22.5px; margin-bottom: 0cm; outline: 0px; text-align: justify; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 24px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"> Podemos notar nesse trecho que a expressão “grata satisfação” foi utilizada duas vezes, sinalizando a tentativa de exaltar o sentimento positivo em informar o retorno das atividades, mesmo que não presenciais. A forma passiva em que aparece a expressão em seguida, “fomos autorizados a iniciarmos”, indica que a secretaria e os subsecretários que assinam o memorando não são os agentes, neste caso, da paralisação das atividades, e que estavam ansiosos pelo retorno das atividades que agora poderá ocorrer já que “alguém” autorizou o início das atividades remotas. Esse trecho demonstra a priorização da continuidade do ano letivo acima de outras circunstâncias, assim como indica a intenção de isenção de responsabilidade pelo cessamento e pelo retorno das atividades escolares. O terceiro parágrafo nos fornece indícios maiores sobre a perspectiva educacional do governo:<o:p style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 22.5px; margin-bottom: 0cm; outline: 0px; text-align: justify; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 24px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"> </span></p><p class="MsoQuote" style="line-height: 22.5px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span color="windowtext" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;">Sendo assim, nossas ações foram pensadas na perspectiva de que <b style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;">o estudante é o centro do processo</b> e, por isso, consideramos também as caracteríscas econômicas, sociais, geográficas e físicas para proporcionar que ele acesse o Regime Especial de Avidades Não Presenciais (REANP), contribuindo para que a educação chegue em cada domicílio do estado e não haja ampliação das desigualdades educacionais.<o:p style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"></o:p></span></p><p class="MsoQuote" style="line-height: 22.5px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span color="windowtext" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><o:p style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 22.5px; margin-bottom: 0cm; outline: 0px; text-align: justify; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 24px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 22.5px; margin-bottom: 0cm; outline: 0px; text-align: justify; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 24px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"> No trecho acima, podemos verificar a tentativa de se justificar a medida tomada de forma vertical, ou seja, sem nenhuma participação da maior parte da comunidade escolar a qual o documento se dirige, elencando características que talvez poderiam significar o fracasso das medidas, já que a realidade social é de imensa desigualdade entre os alunos das escolas públicas; essa desigualdade seria um argumento contrário ao sucesso, e, a fim de minimizá-la, são utilizados argumentos que sinalizam que essas diferenças foram analisadas a tempo e a contento. A expressão mais representativa deste trecho e que deixa clara a perspectiva pedagógica sustentada pelo governo é “o estudante é o centro do processo educacional”, condição que também aparece no plano de governo do governador em questão, em um dos subtítulos que reproduziremos aqui:<o:p style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 22.5px; margin-bottom: 0cm; outline: 0px; text-align: justify; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 24px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"> </span></p><p class="MsoQuoteCxSpFirst" style="line-height: 22.5px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><b style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;">Educação não se limita à escola e o indivíduo é o principal agente de seu processo educador<o:p style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"></o:p></b></p><p class="MsoQuoteCxSpLast" style="line-height: 22.5px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span color="windowtext" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;">Os indivíduos são únicos. Quando o sistema é feito para tratar todos da mesma forma, com carga horária e grade curricular padrão, alguns se sobressaem e outros podem ficar para trás. Por como é sistematizada a educação pública, a tendência é que o nível de exigência caia para não permitir a evasão e garantir um mínimo denominador comum, atendendo ao maior número de pessoas possível. <b style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;">Esse sistema acaba por dificultar o desenvolvimento de talentos, genialidades, criatividades, poder de raciocínio, e restringir a busca de conteúdos e saberes que interessam a cada um</b>. Deve-se ter claro que as escolas são apenas um dos meios para a educação e, <b style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;">provavelmente, não o melhor</b>. <b style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;">Normalmente, a escola não é o ambiente mais adequado para promover a criatividade e habilidades individuais.</b> Assim, o ensino não pode ser entendido apenas como cumprimento da educação formal, mas também como a busca do desenvolvimento do indivíduo em suas várias atividades e interesses. Os estudantes podem potencializar seus talentos também fora das escolas de diversas formas. É o conhecimento descentralizado e disperso, levando em consideração a liberdade de escolha, que tornará possível elevar a qualidade educacional.<o:p style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"></o:p></span></p><p class="MsoQuoteCxSpLast" style="line-height: 22.5px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span color="windowtext" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><o:p style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 22.5px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><o:p style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"> </o:p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 22.5px; margin-bottom: 0cm; outline: 0px; text-align: justify; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 24px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"> Este trecho nos é revelador, pois podemos verificar nele o mecanismo estratégico utilizado na tentativa de agregar ao argumento que confere ao estudo à distância, ou fora da instituição escolar, um status superior ao do ensino presencial e sistematizado. É dito que a grade curricular padrão e a carga horária geram desigualdades por tratarem todos da mesma forma, simplificando a prática e a organização pedagógica que complementam essa estruturação escolar, colocando, ainda, a causa do rebaixamento dos níveis de exigência para os estudantes ao suposto tratamento impessoal que seria oferecido aos alunos. É dito ainda que a escola, normalmente, não seria o meio mais adequado para se promover as habilidades individuais e a criatividade. Se a escola não é o ambiente mais adequado para essa promoção, qual seria esse meio? E quem seria o responsável por essa promoção? O que é dito a seguir nos permite vislumbrar a teoria por trás dos argumentos, pois segundo o texto, “os estudantes podem potencializar seus talentos também fora das escolas de diversas formas”. O que podemos apreender dessa fala é que o aluno deveria ser o responsável por suas escolhas educacionais, fazendo isso em outros ambientes, como sua própria casa ou qualquer outro tipo de instituição terceirizada, ou sem a estruturação que as escolas estaduais mantêm atualmente. A justificativa é a de que “o conhecimento descentralizado e disperso, levando em consideração a liberdade de escolha, (...) tornará possível elevar a qualidade educacional.” Está posto o argumento de que a escola é um ambiente ultrapassado, limitante e que não permite que o aluno possa exercer sua individualidade e traçar seus próprios caminhos dentro do conhecimento, apoiando-se falsamente e distorcidamente em pressupostos teóricos pedagógicos.<o:p style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 22.5px; margin-bottom: 0cm; outline: 0px; text-align: justify; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 24px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 22.5px; margin-bottom: 0cm; outline: 0px; text-align: justify; transition: all 0.3s ease 0s;"><b style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 24px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;">Considerações finais<o:p style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"></o:p></span></b></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 22.5px; margin-bottom: 0cm; outline: 0px; text-align: justify; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 24px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 22.5px; margin-bottom: 0cm; outline: 0px; text-align: justify; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 24px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"> Esses pequenos trechos analisados apenas esboçam um ideário que aponta para os valores neoliberais que circulam no imaginário sóciodiscursivo da sociedade, ou seja, a defesa de menor intervenção do Estado na educação, a privatização de serviços básicos, a valorização da meritocracia, e a formação tecnicista dos indivíduos para que possam preencher as necessidades estabelecidas pelo capitalismo. A não intervenção direta do Estado é tratada como benéfica e necessária para que o aluno possa se “desenvolver” e exercer sua criatividade, tomando suas próprias escolhas em relação ao seu programa de estudos, (embora esses indivíduos estejam com idades entre 6 e 14 anos em média, muitos sem condições básicas de sobrevivência, acesso à internet, ou com pais que possuam uma formação mínima para orientá-los de alguma forma). A alegria presente no trecho do memorando ao anunciar a volta às aulas parece visar minimizar as decisões extraordinárias que seriam tomadas a seguir, quando aulas remotas teriam início. As estratégias discursivas utilizadas (a hiperbolização dos sentimentos positivos ao anunciar as medidas, a passividade em relação às decisões, ao cessamento e ao reestabelecimento do regime escolar, a utilização de argumentos que remetem de alguma forma às informações validadas cientificamente, a utilização de argumentos de valorização das características individuais) nos dizem sobre os metadiscursos que estão presentes nas narrativas, metadiscursos que nos permitem visualizar os valores que sustentam esses discursos e que promovem a adesão social e a validação das medidas anunciadas.<o:p style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 22.5px; margin-bottom: 0cm; outline: 0px; text-align: justify; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 24px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"> Podemos dizer que os trechos nos trazem indícios sobre o imaginário sóciodiscursivo da atualidade por causa de seu conteúdo, suas estratégias e a relação do discurso que trazem com medidas que são tomadas na prática social e que se relacionam com os discursos que estão presentes em diversos meios e suportes, discursos que trazem a tendência do ideário neoliberal. Essa breve análise é apenas um questionamento lançado a trabalhos posteriores, considerando a relevância dos temas levemente abordados.<o:p style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;">BARREIROS, Jaqueline Lopes: <b style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;">Fatores que influenciam na motivação de professores. </b>2008. 105 f. monografia. (Graduação em psicologia) – Centro Universitário de Brasília, Brasília, 2008<o:p style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;">CHARADEAU, Patrick: <b style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;">Dicionário de análise do discurso.</b> 2 ed.São Paulo: Contexto, 2006.<o:p style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;">CHARAUDEAU, Patrick. <b style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;">Discurso Político. </b>Tradução Fabiana Komesu e Dilson Ferreira da Cruz. São Paulo: Contexto, 2006<o:p style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;">CHARAUDEAU, Patrick. Os estereótipos, muito bem. Os imaginários, ainda melhor. Traduzido por André Luiz Silva e Rafael Magalhães Angrisano. <b style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;">Entrepalavras</b>, Fortaleza, v. 7, p. 571-591, jan./jun. 2017.<o:p style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;">COSTA, Antônio Carlos Gomes. <b style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;">Aventura pedagógica: caminhos e descaminhos de uma Ação educativa.</b> São Paulo: Columbus Cultural, 1990. <o:p style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;">DANTAS,C. Capítulo I. In: Gilberto Freyre e José Lins do Rego: <b style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;">diálogos do senhor da casa-grande com o menino de engenho [online].</b> Campina Grande: EDUEPB, 2015. Substractum collection, pp. 27-51. Disponível em: http://books.scielo.org/id/y4x7f/pdf/dantas-9788578793296-03.pdf.<o:p style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;">EDWARDS JUNIOR, Brent; HALL, Stephanie M. Escolas charter: gestão de professores e aquisição de recursos na Colômbia. <b style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;">Cad. Pesqui.,</b> São Paulo , v. 47, n. 164, p. 442-468, June 2017 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-15742017000200003&lng=en&nrm=iso>. access on 22 Sept. 2020. </span><a href="https://doi.org/10.1590/198053144163" style="color: #4332e4; outline: 0px; text-decoration-line: none; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;">https://doi.org/10.1590/198053144163</span></a><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;">.<o:p style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;">MAINGUENEAU, Dominique. <b style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;">Discurso e análise do discurso.</b> Trad. Sírio Possenti. 1 ed. São Paulo: Parábolas Editorial, 2015.<o:p style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;">PAVEAU, Marie-Anne <b style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;">Linguagem e moral. </b>Campinas: Editora da Unicamp, 2015<o:p style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;">PAVEAU, Marie-Anne. <b style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;">Os pré-discursos: sentido, memória, cognição.</b> Trad. Graciely Costa e Débora Massmann. Campinas, SP: Pontes Editores, 2013.<o:p style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;">PAVEAU, Marie-Anne., & Goldstein, N. (2007). Palavras anteriores. Os pré-discursos entre memória e cognição. <i style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;">Filologia E Linguística Portuguesa</i>, (9), 311-331. https://doi.org/10.11606/issn.2176-9419.v0i9p311-331<o:p style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;">PÊCHEUX, M. Papel da Memória. IN: <b style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;">Papel da Memória.</b> Pierre Achard et al. Tradução: José Horta Nunes. 1ª edição. Campinas, SP: Pontes, 1999, p.49-50.<o:p style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;">SILVA, Simone Patrícia da: <b style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;">Retratos da educação pública brasileira em relatos da mídia impressa. </b>2016. 199 f. tese. (Pós Graduação em psicologia) - Universidade Federal de Pernambuco, Pernambuco, 2016.<o:p style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"></o:p></span></p><div style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><br clear="all" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;" /><hr align="left" size="1" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;" width="33%" /><div id="ftn1" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><p class="MsoFootnoteText" style="outline: 0px; text-align: justify; transition: all 0.3s ease 0s;"><a href="file:///F:/Grupo%20MultiAtual/Revista%20MultiAtual/v.2,%20n.1,%202021.docx#_ftnref1" name="_ftn1" style="color: #4332e4; outline: 0px; text-decoration-line: none; transition: all 0.3s ease 0s;" title=""><span class="MsoFootnoteReference" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span lang="X-NONE" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span class="MsoFootnoteReference" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Calibri","sans-serif"" lang="X-NONE" style="font-size: 10pt; line-height: 14.2667px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;">[1]</span></span></span></span></a><span lang="X-NONE" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"> Formação discursiva é um conceito elaborado por M. Foulcault e, posteriormente, reconfigurado por M. Pêcheux; para ambos a formação discursiva é concebida, segundo Maingueneau (2015) “como um sistema de restrições invisíveis, transversal às unidades tópicas”.<o:p style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"></o:p></span></p></div><div id="ftn2" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><p class="MsoFootnoteText" style="outline: 0px; text-align: justify; transition: all 0.3s ease 0s;"><a href="file:///F:/Grupo%20MultiAtual/Revista%20MultiAtual/v.2,%20n.1,%202021.docx#_ftnref2" name="_ftn2" style="color: #4332e4; outline: 0px; text-decoration-line: none; transition: all 0.3s ease 0s;" title=""><span class="MsoFootnoteReference" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span lang="X-NONE" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span class="MsoFootnoteReference" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Calibri","sans-serif"" lang="X-NONE" style="font-size: 10pt; line-height: 14.2667px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;">[2]</span></span></span></span></a><span lang="X-NONE" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"> Pré-discursos, segundo Marie - Anne Paveau (2015), tratar-se-iam de “um conjunto de âmbitos pré-discursivos coletivos (saberes, crenças, práticas), com papel instrucional para a produção e a interpretação do sentido em discurso”.<o:p style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"></o:p></span></p></div><div id="ftn3" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><p class="MsoFootnoteText" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><a href="file:///F:/Grupo%20MultiAtual/Revista%20MultiAtual/v.2,%20n.1,%202021.docx#_ftnref3" name="_ftn3" style="color: #4332e4; outline: 0px; text-decoration-line: none; transition: all 0.3s ease 0s;" title=""><span class="MsoFootnoteReference" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span lang="X-NONE" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span class="MsoFootnoteReference" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Calibri","sans-serif"" lang="X-NONE" style="font-size: 10pt; line-height: 14.2667px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;">[3]</span></span></span></span></a><span lang="X-NONE" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"> ZEMA, Romeu: Liberdade ainda que tardia - plano de governo. Partido Novo: Minas Gerais, 2018. Disponível em: <a href="http://divulgacandcontas.tse.jus.br/candidaturas/oficial/2018/BR/MG/2022802018/130000600702/proposta_1533160671813.pdf" style="color: #4332e4; outline: 0px; text-decoration-line: none; transition: all 0.3s ease 0s;">http://divulgacandcontas.tse.jus.br/candidaturas/oficial/2018/BR/MG/2022802018/130000600702//proposta_1533160671813.pdf</a>,<o:p style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"></o:p></span></p></div><div id="ftn4" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><p class="MsoFootnoteText" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><a href="file:///F:/Grupo%20MultiAtual/Revista%20MultiAtual/v.2,%20n.1,%202021.docx#_ftnref4" name="_ftn4" style="color: #4332e4; outline: 0px; text-decoration-line: none; transition: all 0.3s ease 0s;" title=""><span class="MsoFootnoteReference" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span lang="X-NONE" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span class="MsoFootnoteReference" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Calibri","sans-serif"" lang="X-NONE" style="font-size: 10pt; line-height: 14.2667px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;">[4]</span></span></span></span></a><span lang="X-NONE" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"> COSTA, Antônio Carlos Gomes. Aventura pedagógica: caminhos e descaminhos de uma Ação educativa. São Paulo: Columbus Cultural, 1990.<o:p style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"></o:p></span></p></div><div id="ftn5" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><p class="MsoFootnoteText" style="outline: 0px; text-align: justify; transition: all 0.3s ease 0s;"><a href="file:///F:/Grupo%20MultiAtual/Revista%20MultiAtual/v.2,%20n.1,%202021.docx#_ftnref5" name="_ftn5" style="color: #4332e4; outline: 0px; text-decoration-line: none; transition: all 0.3s ease 0s;" title=""><span class="MsoFootnoteReference" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span lang="X-NONE" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span class="MsoFootnoteReference" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Calibri","sans-serif"" lang="X-NONE" style="font-size: 10pt; line-height: 14.2667px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;">[5]</span></span></span></span></a><span lang="X-NONE" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"> O Construtivismo, em Piaget, é uma teoria sobre a origem do conhecimento em que o indivíduo passaria por alguns estágios na aquisição e na construção de seu conhecimento, de acordo com fatores biológicos, de experiência e exercícios, de interações sociais e de equilibração das ações, sendo que o conhecimento seria resultado da construção pessoal do indivíduo, considerando o professor como importante mediador desse processo.<o:p style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"></o:p></span></p></div><div id="ftn6" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><p class="MsoFootnoteText" style="outline: 0px; text-align: justify; transition: all 0.3s ease 0s;"><a href="file:///F:/Grupo%20MultiAtual/Revista%20MultiAtual/v.2,%20n.1,%202021.docx#_ftnref6" name="_ftn6" style="color: #4332e4; outline: 0px; text-decoration-line: none; transition: all 0.3s ease 0s;" title=""><span class="MsoFootnoteReference" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span lang="X-NONE" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span class="MsoFootnoteReference" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Calibri","sans-serif"" lang="X-NONE" style="font-size: 10pt; line-height: 14.2667px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;">[6]</span></span></span></span></a><span lang="X-NONE" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"> https://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2020/09/14/interna_gerais,1185405/governo-zema-estuda-implementacao-de-escola-publico-privada-em-2021.shtml<o:p style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"></o:p></span></p></div><div id="ftn7" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><p class="MsoFootnoteText" style="outline: 0px; text-align: justify; transition: all 0.3s ease 0s;"><a href="file:///F:/Grupo%20MultiAtual/Revista%20MultiAtual/v.2,%20n.1,%202021.docx#_ftnref7" name="_ftn7" style="color: #4332e4; outline: 0px; text-decoration-line: none; transition: all 0.3s ease 0s;" title=""><span class="MsoFootnoteReference" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span lang="X-NONE" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span class="MsoFootnoteReference" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Calibri","sans-serif"" lang="X-NONE" style="font-size: 10pt; line-height: 14.2667px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;">[7]</span></span></span></span></a><span lang="X-NONE" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"> Silva (2016) discorre sobre o tema em sua dissertação, onde expõe as dificuldades de se definir termos como ”direita e esquerda”, apesar da necessidade de delimitação desses conceitos; segundo ela, “o discurso produtivista e obediente à lei do mercado tem por base o neoliberalismo, uma ideologia cujos pressupostos são associados à direita ou àquilo que se convencionou chamar nova direita (GIDDENS, 1996)”. Ainda é dito que “tal corrente de pensamento surgiu na Europa e na América do Norte, após a Segunda Guerra Mundial, locais predominantemente capitalistas. Pode-se dizer que é um movimento que se opõe ao Estado intervencionista e do bem-estar”. Citando Marrach (2002), diz que Segundo essa autora, “aqueles que adotam tal discurso tendem a olhar para a educação como uma mercadoria que deve proporcionar sujeitos com alta qualificação. Em consequência, defendem um modelo escolar semelhante ao do mercado, cuja eficiência leve ao desenvolvimento econômico.”<o:p style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"></o:p></span></p></div><div id="ftn8" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><p class="MsoFootnoteText" style="outline: 0px; text-align: justify; transition: all 0.3s ease 0s;"><a href="file:///F:/Grupo%20MultiAtual/Revista%20MultiAtual/v.2,%20n.1,%202021.docx#_ftnref8" name="_ftn8" style="color: #4332e4; outline: 0px; text-decoration-line: none; transition: all 0.3s ease 0s;" title=""><span class="MsoFootnoteReference" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span lang="X-NONE" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span class="MsoFootnoteReference" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Calibri","sans-serif"" lang="X-NONE" style="font-size: 10pt; line-height: 14.2667px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;">[8]</span></span></span></span></a><span lang="X-NONE" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"> Podemos citar como exemplo a monografia do curso de psicologia da UniCEUB de Jaqueline Lopes Barreiros, cujo título “Fatores que influenciam na motivação de professores” anuncia o descontentamento dos professores com, dentre outros motivos, a forma como são vistos pela sociedade; em três depoimentos é dito que os professores são vistos como “vagabundos”.<o:p style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"></o:p></span></p></div><div id="ftn9" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><p class="MsoFootnoteText" style="outline: 0px; text-align: justify; transition: all 0.3s ease 0s;"><a href="file:///F:/Grupo%20MultiAtual/Revista%20MultiAtual/v.2,%20n.1,%202021.docx#_ftnref9" name="_ftn9" style="color: #4332e4; outline: 0px; text-decoration-line: none; transition: all 0.3s ease 0s;" title=""><span class="MsoFootnoteReference" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span lang="X-NONE" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span class="MsoFootnoteReference" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Calibri","sans-serif"" lang="X-NONE" style="font-size: 10pt; line-height: 14.2667px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;">[9]</span></span></span></span></a><span lang="X-NONE" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"> Algumas declarações polêmicas do ex-ministro podem ser vistas na reportagem da revista Veja, como por exemplo: “Após almoçar, olhando pela janela, vejo a lápide da educação em frente ao MEC e penso: achava impossível, mas Paulo Freire visto do alto é ainda mais feio. Ao menos o MEC já está decorado para o Halloween (dia das bruxas). Tragam as crianças para se divertirem com um bom susto!” . <a href="https://veja.abril.com.br/brasil/os-tuites-mais-imprecionantes-de-weintraub/" style="color: #4332e4; outline: 0px; text-decoration-line: none; transition: all 0.3s ease 0s;">https://veja.abril.com.br/brasil/os-tuites-mais-imprecionantes-de-weintraub/</a>, em 15/10/2020<o:p style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"></o:p></span></p></div><div id="ftn10" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><p class="MsoFootnoteText" style="outline: 0px; text-align: justify; transition: all 0.3s ease 0s;"><a href="file:///F:/Grupo%20MultiAtual/Revista%20MultiAtual/v.2,%20n.1,%202021.docx#_ftnref10" name="_ftn10" style="color: #4332e4; outline: 0px; text-decoration-line: none; transition: all 0.3s ease 0s;" title=""><span class="MsoFootnoteReference" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span lang="X-NONE" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span class="MsoFootnoteReference" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Calibri","sans-serif"" lang="X-NONE" style="font-size: 10pt; line-height: 14.2667px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;">[10]</span></span></span></span></a><span lang="X-NONE" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"> Como bem nos explica Silva (2016), a retórica educacional dos anos 90 ajuda a construir um consenso do mercado no cenário educacional, (especialmente com a Nova Lei de Diretrizes e Bases), pois “é caracterizado por grandes mudanças no campo político, econômico, social, cultural e ideológico decorrentes, principalmente, da crise do sistema capitalista, que desencadeou uma corrida desigual dos países por mais acumulação de riqueza, tecnologia e ciência. Com base nessas mudanças, as reformas do Estado em relação ao mundo do trabalho passaram a ser defendidas por meio de um discurso no qual o vocabulário empregado focaliza a nova ordem mundial”. (FRIGOTTO; CIVIATTA, 2003) citado por Silva (2016).<o:p style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"></o:p></span></p></div><div id="ftn11" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><p class="MsoFootnoteText" style="outline: 0px; text-align: justify; transition: all 0.3s ease 0s;"><a href="file:///F:/Grupo%20MultiAtual/Revista%20MultiAtual/v.2,%20n.1,%202021.docx#_ftnref11" name="_ftn11" style="color: #4332e4; outline: 0px; text-decoration-line: none; transition: all 0.3s ease 0s;" title=""><span class="MsoFootnoteReference" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span lang="X-NONE" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span class="MsoFootnoteReference" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;"><span face=""Calibri","sans-serif"" lang="X-NONE" style="font-size: 10pt; line-height: 14.2667px; outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;">[11]</span></span></span></span></a><span lang="X-NONE" style="outline: 0px; transition: all 0.3s ease 0s;">Segundo Dantas (2015), “ hegemonia é o conjunto das funções de domínio e direção exercido por uma classe social dominante, no decurso de um período, sobre outra classe social e até sobre o conjunto das classes da sociedade. A hegemonia é composta de duas funções: função de domínio e função de direção intelectual e moral, ou função própria de hegemonia (MOCHCOVITCH, 1992, p. 20-21).”</span></p></div></div></div></div></article>Luciana Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/17904001194241044606noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5007988281884718334.post-3170653082130897932021-06-13T16:45:00.002-03:002021-06-13T16:45:56.857-03:00O caos imobiliário de Ouro Preto<p> <img alt="" class="attachment-post-thumbnail size-post-thumbnail wp-post-image" data-attachment-id="1087" data-comments-opened="1" data-image-description="" data-image-meta="{"aperture":"0","credit":"","camera":"","caption":"","created_timestamp":"0","copyright":"","focal_length":"0","iso":"0","shutter_speed":"0","title":"","orientation":"0"}" data-image-title="83bf653b-74aa-4eb0-a335-31809eaeed79" data-large-file="https://revistacumbuca.files.wordpress.com/2021/03/83bf653b-74aa-4eb0-a335-31809eaeed79.jpg?w=750" data-medium-file="https://revistacumbuca.files.wordpress.com/2021/03/83bf653b-74aa-4eb0-a335-31809eaeed79.jpg?w=300" data-orig-file="https://revistacumbuca.files.wordpress.com/2021/03/83bf653b-74aa-4eb0-a335-31809eaeed79.jpg" data-orig-size="1032,774" data-permalink="https://revistacumbuca.wordpress.com/83bf653b-74aa-4eb0-a335-31809eaeed79/" height="774" loading="lazy" sizes="(max-width: 1032px) 100vw, 1032px" src="https://revistacumbuca.files.wordpress.com/2021/03/83bf653b-74aa-4eb0-a335-31809eaeed79.jpg?w=1032" srcset="https://revistacumbuca.files.wordpress.com/2021/03/83bf653b-74aa-4eb0-a335-31809eaeed79.jpg 1032w, https://revistacumbuca.files.wordpress.com/2021/03/83bf653b-74aa-4eb0-a335-31809eaeed79.jpg?w=150 150w, https://revistacumbuca.files.wordpress.com/2021/03/83bf653b-74aa-4eb0-a335-31809eaeed79.jpg?w=300 300w, https://revistacumbuca.files.wordpress.com/2021/03/83bf653b-74aa-4eb0-a335-31809eaeed79.jpg?w=768 768w, https://revistacumbuca.files.wordpress.com/2021/03/83bf653b-74aa-4eb0-a335-31809eaeed79.jpg?w=1024 1024w" style="border-style: none; box-sizing: inherit; color: #010101; font-family: Poppins, serif; font-size: 20px; height: auto; margin-bottom: 0px; margin-top: 0px; max-width: 100%; text-align: center; vertical-align: middle;" width="1032" /></p><div class="entry-content" style="background-color: white; box-sizing: inherit; color: #010101; font-family: Poppins, serif; font-size: 20px; margin: 32px auto; max-width: none;"><p style="-webkit-font-smoothing: antialiased; box-sizing: inherit; margin: 0px auto 32px; max-width: calc(750px); overflow-wrap: break-word; padding: 0px;">Comprar um imóvel na cidade de Ouro Preto nunca foi uma tarefa fácil, especialmente para quem não tem condições de realizar muitas escolhas dentro das condições existentes, ou seja, a maioria das pessoas que não ganharam na megasena, não são empresários ou simplesmente aqueles que possuem um emprego “normal”. Além da crise imobiliária e tudo o mais, podemos listar alguns problemas que dificultam o direito de morar em Ouro Preto:</p><figure class="wp-block-image is-style-default" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; box-sizing: inherit; margin: 32px auto; max-width: calc(750px); padding: 0px; text-align: center;"><img alt="Chevrolet Impala" src="https://s3.imoview.com.br/itacolomi/Imoveis/572/20170207_150151.jpg" style="border-radius: inherit; border-style: none; box-sizing: inherit; height: auto; max-width: 100%; vertical-align: middle;" /><figcaption style="box-sizing: inherit; color: #666666; font-size: 0.69444rem; margin-bottom: 16px; margin-top: calc(8px); max-width: unset;">Casa à venda, 3 quartos, Vila dos Engenheiros – Ouro Preto/MG – 1800,000,00 (um milhão e oitocentos mil). Parece não possuir documentação.*</figcaption></figure><p style="-webkit-font-smoothing: antialiased; box-sizing: inherit; margin: 32px auto; max-width: calc(750px); overflow-wrap: break-word; padding: 0px;">_ A maioria dos imóveis não possui documentação regularizada, o que impede o financiamento bancário;</p><p style="-webkit-font-smoothing: antialiased; box-sizing: inherit; margin: 32px auto; max-width: calc(750px); overflow-wrap: break-word; padding: 0px;">_ Ouro Preto é uma cidade incomum, patrimônio mundial da humanidade, o que faz com que o preço dos imóveis vá para as alturas;</p><p style="-webkit-font-smoothing: antialiased; box-sizing: inherit; margin: 32px auto; max-width: calc(750px); overflow-wrap: break-word; padding: 0px;">_ Ouro Preto também é uma cidade universitária, sendo assim, os melhores e maiores imóveis transformam-se em repúblicas (ou moradias estudantis), onde diversos alunos dividem as despesas, o que também eleva exorbitantemente os preços de venda e de locação de imóveis;</p><p style="-webkit-font-smoothing: antialiased; box-sizing: inherit; margin: 32px auto; max-width: calc(750px); overflow-wrap: break-word; padding: 0px;">_ Além de os preços serem exorbitantes, os imóveis, geralmente, estão em péssimas condições, muitos precisam de restauração, o que dobra as despesas já impagáveis para um pobre mortal;</p><p style="-webkit-font-smoothing: antialiased; box-sizing: inherit; margin: 32px auto; max-width: calc(750px); overflow-wrap: break-word; padding: 0px;">_ Muitas casas estão em escadarias, becos, têm paredes comuns com outros imóveis, não possuem garagem, não tem iluminação natural, tem infiltrações e mofo, embora isso não diminua o seu valor;</p><p style="-webkit-font-smoothing: antialiased; box-sizing: inherit; margin: 32px auto; max-width: calc(750px); overflow-wrap: break-word; padding: 0px;">_ Endinheirados que procuram viver ou apenas ter um imóvel na “cidade histórica” compram casas com preços exorbitantes e os deixam vazios ou alugados na maior parte do tempo, ou, algumas vezes, os transformam em comércio “gourmetizado”.</p><figure class="wp-block-image is-style-default" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; box-sizing: inherit; margin: 32px auto; max-width: calc(750px); padding: 0px; text-align: center;"><img alt="Chevrolet Impala" src="https://s3.imoview.com.br/itacolomi/Imoveis/166/0012-1024x7682-1024x738.jpg" style="border-radius: inherit; border-style: none; box-sizing: inherit; height: auto; max-width: 100%; vertical-align: middle;" /><figcaption style="box-sizing: inherit; color: #666666; font-size: 0.69444rem; margin-bottom: 16px; margin-top: calc(8px); max-width: unset;">Casa à venda, 5 quartos, 3 suítes, 10 vagas, Antônio Dias – Ouro Preto/MG – 1.500.000,00 (um milhão e quinhentos) – parece não possuir documentação.</figcaption></figure><p style="-webkit-font-smoothing: antialiased; box-sizing: inherit; margin: 32px auto; max-width: calc(750px); overflow-wrap: break-word; padding: 0px;">O povo nativo expandiu a cidade pelos morros através da famosa invasão de barrancos, alguns tiveram sorte de encontrar terrenos em locais menos arriscados e mais próximos do centro; mas, não há mais quase nenhum barranco para ser invadido, e os descendentes desses nativos são obrigados a viver com a família, fazer puxadinhos arriscados, ou a mudarem-se para uma cidade que possa oferecer condições mínimas para um cidadão. Enquanto isso, o centro torna-se espaço de comércio, estudantes esporádicos(o que alimenta uma rusga antiga entre nativos e estudantes), turistas e gente endinheirada.</p><figure class="wp-block-image is-style-default" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; box-sizing: inherit; margin: 32px auto; max-width: calc(750px); padding: 0px; text-align: center;"><img alt="Chevrolet Impala" src="https://s3.imoview.com.br/itacolomi/Imoveis/421/010-1170x738.jpg" style="border-radius: inherit; border-style: none; box-sizing: inherit; height: auto; max-width: 100%; vertical-align: middle;" /><figcaption style="box-sizing: inherit; color: #666666; font-size: 0.69444rem; margin-bottom: 16px; margin-top: calc(8px); max-width: unset;">Casa à venda, 6 quartos, Alto da Cruz – Ouro Preto/MG – 450.000 (quatrocentos e cinquenta mil- Este imóvel possui escritura, mas parece ter problemas de infiltração e ventilação em alguns de seus cômodos.</figcaption></figure><p style="-webkit-font-smoothing: antialiased; box-sizing: inherit; margin: 32px auto; max-width: calc(750px); overflow-wrap: break-word; padding: 0px;">Caminhando pela cidade, vemos inúmeras placas de vende-se por todo o canto, placas que aumentaram com o passar da pandemia, mas, praticamente nenhum morador que procura imóvel pode comprar tais casas, essa é a realidade. Enquanto isso, casarões importantíssimos para a história estão caindo, sem que haja nenhuma atitude dos donos ou das autoridades, como é o caso do imóvel do “Vira Saia”, personagem da história ouropretana.</p><figure class="wp-block-gallery columns-3 is-cropped" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; box-sizing: inherit; display: flex; flex-wrap: wrap; list-style-type: none; margin: 0px auto; max-width: calc(750px); padding: 0px;"><ul class="blocks-gallery-grid" data-carousel-extra="{"blog_id":179402057,"permalink":"https:\/\/revistacumbuca.wordpress.com\/2021\/03\/31\/o-caos-imobiliario-de-ouro-preto\/"}" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; box-sizing: inherit; display: flex; flex-wrap: wrap; font-family: var(--font-headings,Poppins,sans-serif); list-style-type: none; margin: 0px; max-width: unset; padding: 0px;"><li class="blocks-gallery-item" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; align-self: inherit; box-sizing: inherit; display: flex; flex-direction: column; flex-grow: 1; justify-content: center; margin: 0px 1em 1em 0px; max-width: unset; padding: 0px; position: relative; width: calc(33.3333% - 0.66667em);"><figure style="-webkit-font-smoothing: antialiased; align-items: flex-end; box-sizing: inherit; display: flex; height: 315.562px; justify-content: flex-start; margin: 0px; max-width: none; padding: 0px;"><img alt="" class="wp-image-1085" data-attachment-id="1085" data-comments-opened="1" data-id="1085" data-image-description="" data-image-meta="{"aperture":"0","credit":"","camera":"","caption":"","created_timestamp":"0","copyright":"","focal_length":"0","iso":"0","shutter_speed":"0","title":"","orientation":"0"}" data-image-title="9b374963-714f-42b0-b8b9-74a6e894e426" data-large-file="https://revistacumbuca.files.wordpress.com/2021/03/9b374963-714f-42b0-b8b9-74a6e894e426.jpg?w=750" data-link="https://revistacumbuca.wordpress.com/9b374963-714f-42b0-b8b9-74a6e894e426/" data-medium-file="https://revistacumbuca.files.wordpress.com/2021/03/9b374963-714f-42b0-b8b9-74a6e894e426.jpg?w=225" data-orig-file="https://revistacumbuca.files.wordpress.com/2021/03/9b374963-714f-42b0-b8b9-74a6e894e426.jpg" data-orig-size="774,1032" data-permalink="https://revistacumbuca.wordpress.com/9b374963-714f-42b0-b8b9-74a6e894e426/" sizes="(max-width: 768px) 100vw, 768px" src="https://revistacumbuca.files.wordpress.com/2021/03/9b374963-714f-42b0-b8b9-74a6e894e426.jpg?w=768" srcset="https://revistacumbuca.files.wordpress.com/2021/03/9b374963-714f-42b0-b8b9-74a6e894e426.jpg?w=768 768w, https://revistacumbuca.files.wordpress.com/2021/03/9b374963-714f-42b0-b8b9-74a6e894e426.jpg?w=113 113w, https://revistacumbuca.files.wordpress.com/2021/03/9b374963-714f-42b0-b8b9-74a6e894e426.jpg?w=225 225w, https://revistacumbuca.files.wordpress.com/2021/03/9b374963-714f-42b0-b8b9-74a6e894e426.jpg 774w" style="border-style: none; box-sizing: inherit; display: block; flex: 1 1 0%; height: 315.562px; max-width: 100%; object-fit: cover; vertical-align: middle; width: 236.672px;" /></figure></li><li class="blocks-gallery-item" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; align-self: inherit; box-sizing: inherit; display: flex; flex-direction: column; flex-grow: 1; justify-content: center; margin: 0px 1em 1em 0px; max-width: unset; padding: 0px; position: relative; width: calc(33.3333% - 0.66667em);"><figure style="-webkit-font-smoothing: antialiased; align-items: flex-end; box-sizing: inherit; display: flex; height: 315.562px; justify-content: flex-start; margin: 0px; max-width: none; padding: 0px;"><img alt="" class="wp-image-1086" data-attachment-id="1086" data-comments-opened="1" data-id="1086" data-image-description="" data-image-meta="{"aperture":"0","credit":"","camera":"","caption":"","created_timestamp":"0","copyright":"","focal_length":"0","iso":"0","shutter_speed":"0","title":"","orientation":"0"}" data-image-title="15dc1baa-92b4-4437-ae2b-2d4a3b10e5d5" data-large-file="https://revistacumbuca.files.wordpress.com/2021/03/15dc1baa-92b4-4437-ae2b-2d4a3b10e5d5.jpg?w=750" data-link="https://revistacumbuca.wordpress.com/15dc1baa-92b4-4437-ae2b-2d4a3b10e5d5/" data-medium-file="https://revistacumbuca.files.wordpress.com/2021/03/15dc1baa-92b4-4437-ae2b-2d4a3b10e5d5.jpg?w=225" data-orig-file="https://revistacumbuca.files.wordpress.com/2021/03/15dc1baa-92b4-4437-ae2b-2d4a3b10e5d5.jpg" data-orig-size="774,1032" data-permalink="https://revistacumbuca.wordpress.com/15dc1baa-92b4-4437-ae2b-2d4a3b10e5d5/" sizes="(max-width: 768px) 100vw, 768px" src="https://revistacumbuca.files.wordpress.com/2021/03/15dc1baa-92b4-4437-ae2b-2d4a3b10e5d5.jpg?w=768" srcset="https://revistacumbuca.files.wordpress.com/2021/03/15dc1baa-92b4-4437-ae2b-2d4a3b10e5d5.jpg?w=768 768w, https://revistacumbuca.files.wordpress.com/2021/03/15dc1baa-92b4-4437-ae2b-2d4a3b10e5d5.jpg?w=113 113w, https://revistacumbuca.files.wordpress.com/2021/03/15dc1baa-92b4-4437-ae2b-2d4a3b10e5d5.jpg?w=225 225w, https://revistacumbuca.files.wordpress.com/2021/03/15dc1baa-92b4-4437-ae2b-2d4a3b10e5d5.jpg 774w" style="border-style: none; box-sizing: inherit; display: block; flex: 1 1 0%; height: 315.562px; max-width: 100%; object-fit: cover; vertical-align: middle; width: 236.672px;" /></figure></li><li class="blocks-gallery-item" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; align-self: inherit; box-sizing: inherit; display: flex; flex-direction: column; flex-grow: 1; justify-content: center; margin: 0px 0px 1em; max-width: unset; padding: 0px; position: relative; width: calc(33.3333% - 0.66667em);"><figure style="-webkit-font-smoothing: antialiased; align-items: flex-end; box-sizing: inherit; display: flex; height: 315.562px; justify-content: flex-start; margin: 0px; max-width: none; padding: 0px;"><img alt="" class="wp-image-1088" data-attachment-id="1088" data-comments-opened="1" data-id="1088" data-image-description="" data-image-meta="{"aperture":"0","credit":"","camera":"","caption":"","created_timestamp":"0","copyright":"","focal_length":"0","iso":"0","shutter_speed":"0","title":"","orientation":"0"}" data-image-title="2037e43f-809b-40f9-9b05-3a3a47fd9b71" data-large-file="https://revistacumbuca.files.wordpress.com/2021/03/2037e43f-809b-40f9-9b05-3a3a47fd9b71.jpg?w=750" data-link="https://revistacumbuca.wordpress.com/2037e43f-809b-40f9-9b05-3a3a47fd9b71/" data-medium-file="https://revistacumbuca.files.wordpress.com/2021/03/2037e43f-809b-40f9-9b05-3a3a47fd9b71.jpg?w=300" data-orig-file="https://revistacumbuca.files.wordpress.com/2021/03/2037e43f-809b-40f9-9b05-3a3a47fd9b71.jpg" data-orig-size="1032,774" data-permalink="https://revistacumbuca.wordpress.com/2037e43f-809b-40f9-9b05-3a3a47fd9b71/" sizes="(max-width: 1024px) 100vw, 1024px" src="https://revistacumbuca.files.wordpress.com/2021/03/2037e43f-809b-40f9-9b05-3a3a47fd9b71.jpg?w=1024" srcset="https://revistacumbuca.files.wordpress.com/2021/03/2037e43f-809b-40f9-9b05-3a3a47fd9b71.jpg?w=1024 1024w, https://revistacumbuca.files.wordpress.com/2021/03/2037e43f-809b-40f9-9b05-3a3a47fd9b71.jpg?w=150 150w, https://revistacumbuca.files.wordpress.com/2021/03/2037e43f-809b-40f9-9b05-3a3a47fd9b71.jpg?w=300 300w, https://revistacumbuca.files.wordpress.com/2021/03/2037e43f-809b-40f9-9b05-3a3a47fd9b71.jpg?w=768 768w, https://revistacumbuca.files.wordpress.com/2021/03/2037e43f-809b-40f9-9b05-3a3a47fd9b71.jpg 1032w" style="border-style: none; box-sizing: inherit; display: block; flex: 1 1 0%; height: 315.562px; max-width: 100%; object-fit: cover; vertical-align: middle; width: 236.672px;" /></figure></li><li class="blocks-gallery-item" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; align-self: inherit; box-sizing: inherit; display: flex; flex-direction: column; flex-grow: 1; justify-content: center; margin: 0px 0px 1em; max-width: unset; padding: 0px; position: relative; width: calc(33.3333% - 0.66667em);"><figure style="-webkit-font-smoothing: antialiased; align-items: flex-end; box-sizing: inherit; display: flex; height: 562.5px; justify-content: flex-start; margin: 0px; max-width: none; padding: 0px;"><img alt="" class="wp-image-1087" data-attachment-id="1087" data-comments-opened="1" data-id="1087" data-image-description="" data-image-meta="{"aperture":"0","credit":"","camera":"","caption":"","created_timestamp":"0","copyright":"","focal_length":"0","iso":"0","shutter_speed":"0","title":"","orientation":"0"}" data-image-title="83bf653b-74aa-4eb0-a335-31809eaeed79" data-large-file="https://revistacumbuca.files.wordpress.com/2021/03/83bf653b-74aa-4eb0-a335-31809eaeed79.jpg?w=750" data-link="https://revistacumbuca.wordpress.com/83bf653b-74aa-4eb0-a335-31809eaeed79/" data-medium-file="https://revistacumbuca.files.wordpress.com/2021/03/83bf653b-74aa-4eb0-a335-31809eaeed79.jpg?w=300" data-orig-file="https://revistacumbuca.files.wordpress.com/2021/03/83bf653b-74aa-4eb0-a335-31809eaeed79.jpg" data-orig-size="1032,774" data-permalink="https://revistacumbuca.wordpress.com/83bf653b-74aa-4eb0-a335-31809eaeed79/" sizes="(max-width: 1024px) 100vw, 1024px" src="https://revistacumbuca.files.wordpress.com/2021/03/83bf653b-74aa-4eb0-a335-31809eaeed79.jpg?w=1024" srcset="https://revistacumbuca.files.wordpress.com/2021/03/83bf653b-74aa-4eb0-a335-31809eaeed79.jpg?w=1024 1024w, https://revistacumbuca.files.wordpress.com/2021/03/83bf653b-74aa-4eb0-a335-31809eaeed79.jpg?w=150 150w, https://revistacumbuca.files.wordpress.com/2021/03/83bf653b-74aa-4eb0-a335-31809eaeed79.jpg?w=300 300w, https://revistacumbuca.files.wordpress.com/2021/03/83bf653b-74aa-4eb0-a335-31809eaeed79.jpg?w=768 768w, https://revistacumbuca.files.wordpress.com/2021/03/83bf653b-74aa-4eb0-a335-31809eaeed79.jpg 1032w" style="border-style: none; box-sizing: inherit; display: block; flex: 1 1 0%; height: 562.5px; max-width: 100%; object-fit: cover; vertical-align: middle; width: 750px;" /></figure></li></ul></figure><p style="-webkit-font-smoothing: antialiased; box-sizing: inherit; margin: 32px auto; max-width: calc(750px); overflow-wrap: break-word; padding: 0px;">Resumindo, é praticamente impossível que um cidadão comum tenha condições de comprar um imóvel na cidade de Ouro Preto, enquanto isso, imóveis ficam vazios ou caindo pelo chão e o centro da cidade vai se transformando em museu, vendo as pessoas sendo expulsas para um canto qualquer onde as caiba. Triste</p><p style="-webkit-font-smoothing: antialiased; box-sizing: inherit; margin: 32px auto; max-width: calc(750px); overflow-wrap: break-word; padding: 0px;">*<em style="box-sizing: inherit; max-width: unset;">Informações sobre os imóveis foram retiradas do site da <a href="https://www.imobiliariaitacolomi.com.br/" style="background-color: transparent; box-sizing: inherit; color: black; cursor: pointer; max-width: unset;">Imobiliária Itacolomi.</a></em></p></div>Luciana Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/17904001194241044606noreply@blogger.com0Ouro Preto, MG, 35400-000, Brasil-20.3855743 -43.5035777-48.69580813617884 -78.6598277 7.9246595361788472 -8.347327700000001tag:blogger.com,1999:blog-5007988281884718334.post-53556522823153415672021-06-13T16:42:00.004-03:002021-06-13T16:42:47.795-03:00Professor, você não é um super-herói, nem tem que salvar coisa nenhuma!<p> <img alt="" class="attachment-post-thumbnail size-post-thumbnail wp-post-image" data-attachment-id="1105" data-comments-opened="1" data-image-description="" data-image-meta="{"aperture":"0","credit":"","camera":"","caption":"","created_timestamp":"0","copyright":"","focal_length":"0","iso":"0","shutter_speed":"0","title":"","orientation":"0"}" data-image-title="teleaula" data-large-file="https://revistacumbuca.files.wordpress.com/2021/05/teleaula.jpg?w=640" data-medium-file="https://revistacumbuca.files.wordpress.com/2021/05/teleaula.jpg?w=300" data-orig-file="https://revistacumbuca.files.wordpress.com/2021/05/teleaula.jpg" data-orig-size="640,384" data-permalink="https://revistacumbuca.wordpress.com/2021/05/04/professor-voce-nao-e-um-super-heroi-se-liga/teleaula/" height="384" loading="lazy" sizes="(max-width: 640px) 100vw, 640px" src="https://revistacumbuca.files.wordpress.com/2021/05/teleaula.jpg?w=640" srcset="https://revistacumbuca.files.wordpress.com/2021/05/teleaula.jpg 640w, https://revistacumbuca.files.wordpress.com/2021/05/teleaula.jpg?w=150 150w, https://revistacumbuca.files.wordpress.com/2021/05/teleaula.jpg?w=300 300w" style="border-style: none; box-sizing: inherit; color: #010101; font-family: Poppins, serif; font-size: 20px; height: auto; margin-bottom: 0px; margin-top: 0px; max-width: 100%; text-align: center; vertical-align: middle;" width="640" /></p><div class="entry-content" style="background-color: white; box-sizing: inherit; color: #010101; font-family: Poppins, serif; font-size: 20px; margin: 32px auto; max-width: none;"><p style="-webkit-font-smoothing: antialiased; box-sizing: inherit; margin: 0px auto 32px; max-width: calc(750px); overflow-wrap: break-word; padding: 0px;">Estes tempos estão tirando a minha vontade de escrever e até a força das minhas indignações, não que não as viva e reviva intensamente e diariamente, mas a sensação de impotência tem me deixado cada vez mais mumificada diante de tantos absurdos que temos presenciado nos últimos tempos. Mas, embora pareça inútil, não posso deixar passar em branco a última matéria que vi no Jornal Nacional.</p><p style="-webkit-font-smoothing: antialiased; box-sizing: inherit; margin: 32px auto; max-width: calc(750px); overflow-wrap: break-word; padding: 0px;">Todos os dias temos longas conversas em família sobre diversos assuntos, e um deles é sobre como as pessoas deixam-se levar por situações desfavoráveis por medo, ignorância, preguiça ou comodismo. Outro, é sobre como os professores no Brasil assumiram um papel quase que sacralizado na sociedade, como se a docência fosse um sacerdócio. Os dois assuntos estão intimamente ligados.</p><p style="-webkit-font-smoothing: antialiased; box-sizing: inherit; margin: 32px auto; max-width: calc(750px); overflow-wrap: break-word; padding: 0px;">Antes de mais nada, por favor, leiam o<a href="https://nepegeo.paginas.ufsc.br/files/2018/11/Paulo-Freire-Professora-sim-tia-n%C3%A3o-Cartas-a-quem-ousa-ensinar.pdf" rel="noreferrer noopener" style="background-color: transparent; box-sizing: inherit; color: black; cursor: pointer; max-width: unset;" target="_blank"> livro do Paulo Freire</a> que fala sobre as implicações de se assumir um papel de “tia”, ou seja, de assumir um papel de membro familiar no trabalho de docência. Resumindo, quando um professor assume esse papel de parentesco, ou maternal (que muitos professores, especialmente professoras, assumem em relação aos seus alunos), eles estão assumindo deveres que são atribuídos a esses familiares. Sabemos, por exemplo, que o papel da maternidade é considerado ainda como um dever sagrado em nossa sociedade, a mãe é vista como um ser que precisa estar sempre disponível, presente, amorosa e abrir mão de si própria pelos filhos; quando um professor assume para si esse papel em sua profissão, está assumindo também estas imposições sociais, o profissional veste-se de “santidade materna” que deve lutar com todas as garras pelas suas crias, ou melhor, seus alunos. Assim sendo, os professores são cobrados pela sociedade e por suas próprias consciências todo o tempo, como se nunca fizessem o suficiente, e não fazendo, sentem-se indignos, em falta, como se fossem pecadores.</p><p style="-webkit-font-smoothing: antialiased; box-sizing: inherit; margin: 32px auto; max-width: calc(750px); overflow-wrap: break-word; padding: 0px;">Educação é coisa séria demais, e complexa demais. A educação existe para instruir e consolidar valores, o que é tido como dever primário da família para com os seus jovens, e, muitas vezes, delegado às instituições públicas e privadas. O professor, neste papel de educador, também é um educando, pois precisa estar aberto para as possibilidades de aprendizagem que a interação com o diferente oferece. O professor precisa ser sensível às necessidades de seus alunos, às suas peculiaridades, precisa saber interagir com afeto e interesse genuíno de maneira que possa ajudar a construir o conhecimento e a capacidade de reflexão confiante e dialética. O professor precisa ter sabedoria suficiente para criar um clima agradável, amistoso e propício para que seus educandos sejam aptos a refletirem sem pressões desnecessárias. Um professor precisa ser um indivíduo confiante, confiável, sensível e comprometido com a educação, mas um professor não é um parente. Um professor NÃO tem que abrir mão se sua vida, sua privacidade, seu tempo pessoal para atender o tempo todo aos seus alunos. Um professor NÃO tem que fazer sacrifícios, NÃO tem que tirar do próprio bolso, NÃO tem que fazer loucuras, um professor NÃO é um santo. Um professor é um profissional que passou anos em uma faculdade estudando para ajudar pessoas a se tornarem pessoas. A profissão do professor é, provavelmente, a profissão mais importante da sociedade, pois é a profissão que influencia diretamente na construção e no desenvolvimento cognitivo e social dos indivíduos, e não há nada mais importante e capaz de mudar o mundo.</p><p style="-webkit-font-smoothing: antialiased; box-sizing: inherit; margin: 32px auto; max-width: calc(750px); overflow-wrap: break-word; padding: 0px;"><a href="https://www.multiatual.com.br/2021/01/imaginario-sociodiscursivo-no-cenario.html" style="background-color: transparent; box-sizing: inherit; color: black; cursor: pointer; max-width: unset;">Quando alguém assume esse papel de mártir</a>, de santo, está abrindo mão de direitos e de lutar por outra realidade. Quando um professor “dá um jeito”, abre mão de sua vida, de seu dinheiro, de sua privacidade, como se não fosse mais que sua obrigação, está dando permissão de ser tratado como capacho pela sociedade e pelos governos. A importância do papel do professor não pode ser barateada e transformada em peregrinação em rumo a beatificação.</p><figure class="wp-block-image size-large is-style-default" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; box-sizing: inherit; margin: 32px auto; max-width: calc(750px); padding: 0px; text-align: center;"><img alt="" class="wp-image-1106" data-attachment-id="1106" data-comments-opened="1" data-image-description="" data-image-meta="{"aperture":"0","credit":"","camera":"","caption":"","created_timestamp":"0","copyright":"","focal_length":"0","iso":"0","shutter_speed":"0","title":"","orientation":"0"}" data-image-title="image" data-large-file="https://revistacumbuca.files.wordpress.com/2021/05/image.png?w=528" data-medium-file="https://revistacumbuca.files.wordpress.com/2021/05/image.png?w=300" data-orig-file="https://revistacumbuca.files.wordpress.com/2021/05/image.png" data-orig-size="528,473" data-permalink="https://revistacumbuca.wordpress.com/image-4/" sizes="(max-width: 528px) 100vw, 528px" src="https://revistacumbuca.files.wordpress.com/2021/05/image.png?w=528" srcset="https://revistacumbuca.files.wordpress.com/2021/05/image.png 528w, https://revistacumbuca.files.wordpress.com/2021/05/image.png?w=150 150w, https://revistacumbuca.files.wordpress.com/2021/05/image.png?w=300 300w" style="border-radius: inherit; border-style: none; box-sizing: inherit; height: auto; max-width: 100%; vertical-align: middle;" /></figure><p style="-webkit-font-smoothing: antialiased; box-sizing: inherit; margin: 32px auto; max-width: calc(750px); overflow-wrap: break-word; padding: 0px;">Vamos à <a href="https://g1.globo.com/jornal-nacional/playlist/jornal-nacional-ultimos-videos.ghtml" style="background-color: transparent; box-sizing: inherit; color: black; cursor: pointer; max-width: unset;">reportagem</a>. Inicia-se com a volta parcial de alguns alunos da rede municipal do Rio para as escolas, em seguida, é dito que uma das preocupações de uma professora é fazer com que todos se sintam presentes:</p><p style="-webkit-font-smoothing: antialiased; box-sizing: inherit; margin: 32px auto; max-width: calc(750px); overflow-wrap: break-word; padding: 0px;">“_Eu gravo vídeo, eu mando áudio, eu escrevo, usando as ferramentas da prefeitura (…) e o WhatsApp, que está sendo uma das ferramentas mais importantes pra gente no momento”.</p><p style="-webkit-font-smoothing: antialiased; box-sizing: inherit; margin: 32px auto; max-width: calc(750px); overflow-wrap: break-word; padding: 0px;">Pensemos no que implica essa fala, resguardando as condições atuais que são de pandemia e tudo o mais: para a professora, é dever utilizar de todos os meios, além dos que são oficiais e criados para o trabalho, para fazer com que o aluno não se sinta desamparado, como se fosse o dever individual de cada profissional. O professor precisa ficar disponível todo o tempo (não apenas em seu tempo de trabalho), para amparar os seus filhos, digo, alunos, utilizando, muitas vezes, seu meio de comunicação individual e privado, o WhatsApp.</p><p style="-webkit-font-smoothing: antialiased; box-sizing: inherit; margin: 32px auto; max-width: calc(750px); overflow-wrap: break-word; padding: 0px;">O momento em que estamos vivendo é impar, e o acolhimento é necessário, pois há muito estresse e sofrimento. É preciso novas maneiras de pensar e de se trabalhar, mas como acolher sem ser invadido?</p><p style="-webkit-font-smoothing: antialiased; box-sizing: inherit; margin: 32px auto; max-width: calc(750px); overflow-wrap: break-word; padding: 0px;">Em seguida é dito que outra escola percebeu que os alunos estavam precisando de atenção, afeto e até de comida, foi quando os profissionais se mobilizaram para realizar uma campanha para arrecadar alimentos. A escola, como todos dentro da sociedade, precisam estar inseridos e atuantes nesta sociedade e não há nada de mais em se realizar campanhas para que o os alunos dessa escola tenham melhores condições de vida, mas de quem seria, prioritariamente, esse papel de fornecer ajuda emergencial em uma crise como essa?</p><p style="-webkit-font-smoothing: antialiased; box-sizing: inherit; margin: 32px auto; max-width: calc(750px); overflow-wrap: break-word; padding: 0px;">Temos ainda a fala de uma professora com 30 anos de serviço:</p><p style="-webkit-font-smoothing: antialiased; box-sizing: inherit; margin: 32px auto; max-width: calc(750px); overflow-wrap: break-word; padding: 0px;">_ “O celular passou a ser veículo de trabalho, eu atendo o celular o dia inteiro, e às vezes é, simplesmente para um bate-papo, por que o aluno sente falta disso.”</p><p style="-webkit-font-smoothing: antialiased; box-sizing: inherit; margin: 32px auto; max-width: calc(750px); overflow-wrap: break-word; padding: 0px;">Em seguida, outra professora, ligando para aluno:</p><p style="-webkit-font-smoothing: antialiased; box-sizing: inherit; margin: 32px auto; max-width: calc(750px); overflow-wrap: break-word; padding: 0px;">_ “Oi Joice, bom dia, tudo bem? E… já acordou, já está bem? Manda uma resposta aqui pra mim, que eu estou aguardando você. Beijo.”</p><p style="-webkit-font-smoothing: antialiased; box-sizing: inherit; margin: 32px auto; max-width: calc(750px); overflow-wrap: break-word; padding: 0px;">E outra:</p><p style="-webkit-font-smoothing: antialiased; box-sizing: inherit; margin: 32px auto; max-width: calc(750px); overflow-wrap: break-word; padding: 0px;">_”Oi pessoal, tudo bom? e aí, já fizeram a atividade de hoje?”</p><p style="-webkit-font-smoothing: antialiased; box-sizing: inherit; margin: 32px auto; max-width: calc(750px); overflow-wrap: break-word; padding: 0px;">A reportagem termina com outra professora dizendo que temos que estabelecer uma afetividade, uma humanidade, porque senão, nada resolverá. Como foi dito acima, sim, o professor precisa ter sensibilidade, afetividade e disponibilidade, mas não a cada segundo de sua vida, como se sua vida resumisse-se em trabalhar. Não levanto aqui o mérito de quem sente prazer em ajudar o próximo, em ser útil, ou tem o trabalho por ele mesmo como um valor grandioso, ou que não tenha coisa mais valiosa para preencher o tempo, essa não é a questão; a questão é a normalização da submissão indiscriminada e irreflexiva, a servidão rebaixada, transvestida de santidade, o que impede com que os profissionais vão em busca de melhores condições para eles, e, para esses alunos, os quais tentam ajudar individualmente ao invés de lutarem por uma realidade melhor para todos. Quando cada um assume para si esse papel de “melhorar a educação” ou “ajudar um aluno” (não que muitas vezes não precise realmente ser feito)o professor vai tapando buraco, sendo a bucha do canhão, dando o sangue e recebendo desprezo da sociedade. Para finalizar, as professoras aparecem vestidas com camisetas de Mulher Maravilha. Há coisa mais significativa que essa?</p><p style="-webkit-font-smoothing: antialiased; box-sizing: inherit; margin: 32px auto; max-width: calc(750px); overflow-wrap: break-word; padding: 0px;">Só para ser justa, acredito realmente no amor e na boa vontade dessas professoras, e não duvido que elas podem ter ajudado a muitos alunos, mas precisamos mudar a maneira como lidamos com a docência para que a sociedade mude a maneira como ela lida com o professor.</p></div>Luciana Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/17904001194241044606noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5007988281884718334.post-28600121998100861562020-10-15T18:40:00.004-03:002020-10-15T18:47:14.346-03:00Especialista em nada, obrigada, de nada.<p style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEijlKZ61utvyZKQ3Tq1qJgv3MEptrcoC9TLxYerXEn6QvUjm_0JwceVSvKc7l7ULDJhcyEucp7EsKYiuYC0kTDalBE4uL_Fkpte-0KoqbaLfa53aq16uOK6Mf1H5bKWjQnj3IpGMIqnYeI/s724/especialista.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="724" data-original-width="598" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEijlKZ61utvyZKQ3Tq1qJgv3MEptrcoC9TLxYerXEn6QvUjm_0JwceVSvKc7l7ULDJhcyEucp7EsKYiuYC0kTDalBE4uL_Fkpte-0KoqbaLfa53aq16uOK6Mf1H5bKWjQnj3IpGMIqnYeI/s320/especialista.jpg" /></a></div><br /><span style="font-family: arial;"><br /></span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Eu sou especialista em nada. Eu não me lembro de datas, não me lembro das narrativas completas, nem sequer lembro-me dos autores e os relaciono às suas teorias. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Eu tenho título de mestre, mestre dos magos, quisera eu, mas é mestre em linguística, mais especificamente, em Análise do Discurso; mas, não considero-me ainda uma analista do discurso, embora saiba analisar muito bem o que é dito e o que não é dito, e, por esse motivo, guardo fielmente palavras e elas me importam.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Não considero-me atriz, embora tenha feito cursos, atuado e sido considerada uma atriz satisfatória, mas não, não sou atriz.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Eu também não digo que sou desenhista, mesmo que meus desenhos tenham chamado atenção desde criança e mesmo que ainda hoje teime em traçar coisas.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Quem me dera ser escritora, não sou, mesmo que alguns tenham me dito que a minha escrita é boa, que sou boa com as palavras. Há anos escrevo uma história sem fim.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Não sou, também, fotógrafa, mesmo que veja sempre o novo nas mesmas paisagens e que meus retratos às vezes surpreendam a mim mesma.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Escrevo poemas, mas nem por isso teria a audácia de denominar-me poeta, ou poetiza. Apenas gosto de expressar-me indiretamente e intensamente.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Atrevo-me a cantar e leigos já se admiraram do meu canto, mas desafino, não entendo nada de regras musicais e nem eu mesma aguento me ouvir.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Até que eu dançava, mas nunca me dediquei a nenhum ritmo nem eduquei meu corpo, que com a idade só decaiu. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Esforcei-me durante toda a vida a entender os padrões sociais, a comportar-me de maneira adequada nas situações, mas isso cansa. Não sou uma pessoa boa para se prolongar relacionamentos, a não ser que o outro goste realmente e entenda o meu ser ausente.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Não sou uma mãe como gostaria de ser, e por muito tempo não conseguia me ver em papel tão solene e sério; mas cá estou.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">E aqui estou. Não sou especialista em nada, não sou grande em nada, não sou melhor em nada. Sou uma mulher. E digo que é um título bem difícil de carregar.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></p>Luciana Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/17904001194241044606noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-5007988281884718334.post-11487219458880593682020-06-04T20:24:00.000-03:002020-06-29T14:54:07.635-03:00A palavra é viva<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-gvceUgbrN7k/XtmCilVM6EI/AAAAAAAAN4g/HI-QSs-jZFMJw-eoNw47j92mc8vft68mACLcBGAsYHQ/s1600/vandalos.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="419" data-original-width="495" src="https://1.bp.blogspot.com/-gvceUgbrN7k/XtmCilVM6EI/AAAAAAAAN4g/HI-QSs-jZFMJw-eoNw47j92mc8vft68mACLcBGAsYHQ/s1600/vandalos.jpg" /></a></div>
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Querem moldar e emoldurar a palavra,</span><br />
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Fazer com que fique parada.</span><br />
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">A palavra corre, pula, escapole,</span><br />
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">A palavra só para se não for invadida.</span><br />
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Querem salvar a memória brava</span><br />
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Dos invadidos, maltratados, da mal amada,</span><br />
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">De todos que fugiram da megalópole.</span><br />
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Mas a palavra se torna uma fugida.</span><br />
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Clamam dos túmulos os vândalos, os bárbaros, os judiados e os denegridos</span><br />
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Por justiça, por terem de volta o sentido de seus nomes.</span><br />
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Mas a palavra toma seu próprio rumo, esquecendo-se dos feridos</span><br />
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Elas são apropriadas, resignificadas, ficam insones.</span><br />
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><i>Carpe diem a priori </i>e <i>a posteriori</i></span><br />
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Justice os injustiçados e limpe suas memórias,</span><br />
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Porém, jamais ignore</span><br />
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Que a palavra depende do tempo e da história.</span><br />
<br /></div>
Luciana Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/17904001194241044606noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5007988281884718334.post-67892864625160399232020-05-28T16:33:00.003-03:002020-05-28T16:33:29.102-03:00A "re-volta" das escolas estaduais mineiras<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjfi8nnWaVEEgPDY5FeehHYOBY6F2Tbq52hekfKXoPLhMLiSx8Rfbs6R_Cjs7GqJoobZM4kgNAq73LfxaF0kb6gC5SCBqedjmhJ8L-bkKOiZ8zvtsK2l-ordQFlDkZsfTs_-yBUeBy-Lzg/s1600/zema.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="856" data-original-width="1200" height="456" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjfi8nnWaVEEgPDY5FeehHYOBY6F2Tbq52hekfKXoPLhMLiSx8Rfbs6R_Cjs7GqJoobZM4kgNAq73LfxaF0kb6gC5SCBqedjmhJ8L-bkKOiZ8zvtsK2l-ordQFlDkZsfTs_-yBUeBy-Lzg/s640/zema.jpg" width="640" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Ninguém foi enganado quanto aos representantes políticos que elegeram, pois todos sempre deixaram escancarados os seus objetivos, dentre os quais estavam a privatização da educação e a retirada de direitos trabalhistas. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Os professores da rede estadual já vinham sofrendo com atrasos de salários, que já são baixíssimos e não chegam ao teto estabelecido, além de toda a precariedade no trabalho da qual se fala diariamente há décadas no Brasil. O que também passou a fazer parte de todos os discursos é o ódio irracional que foi plantado para a classe docente, de todos os níveis, especialmente aos das universidades, que de indivíduos que detinham conhecimento passaram para vagabundos. A campanha de desmoralização dos educadores e das instituições educacionais servem muito ao propósito de grupos empresariais que acabaram perdendo muito com a possibilidade gerada pelos investimentos na educação pública, que lhes tiraram grande parte de "consumidores". </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Transformaram a imagem das universidades tornando-as espaços de depravação e desperdício de recurso público, transformando os profissionais da educação em pervertidos, elitistas e privilegiados; adjetivos que foram abraçados por grande parte que não faz ideia da importância das universidades publicas e por aqueles que não possuem a capacidade de entrar em uma delas, além daqueles que atribuem à todas as universidades públicas um viés político que desagrade, como se a universidade fosse uma coisa homogenia e andasse por ela mesma.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Então, vivemos em um mundo onde os valores foram invertidos e as pessoas passaram a adotar frases como "menos direitos e mais empregos". Os ignorantes, de todos os níveis, clamam por serem explorados, por terem uma educação que lhes proporcione apenas a capacidade de apertar botões, como se tivessem nascido em uma casta e não pudessem almejar ser outra coisa além de operários que trabalham fabricando coisas e ideias, pelas quais poucos empresários receberão fortunas e estes, os operários, receberão apenas um mínimo salário que não permite que ele consuma o que produz. E viva a reprodução de empregos para comprar o pão de milhões que sustentam o caviar de poucos!</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">O que esses poucos não vêem é que a educação é uma espécie de objeto ou espaço onde quem tem poder, quem é rico e manda em tudo, pode controlar as ideias, as pessoas, os discursos, o que as pessoas almejam; a educação pode fornecer valores aos indivíduos, e os valores são a base das formações sociais. Os valores que prevalecem hoje são os capitalistas, ou seja, valorizamos possuir coisas, sonhamos em ter as mansões dos jogadores de Free fire, do Felipe Neto, ter colares de ouro, fazer viagens luxuosas, comprar um Iphone, como se tudo isso fosse essencial para a vida. Esses são os nossos valores, e é por isso que todos nós adotamos os discursos que nos colocam onde estamos, na base da pirâmide do capitalismo, sonhando em passar para o topo.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Nossos governos estão sendo conduzidos por esses que estão no topo e que querem que o sistemas continue como está. Através de suas redes de comparsas políticos, almejam transformar as bases educacionais, formatando indivíduos incapazes de questionar, de ter pensamento crítico, mas prontos para trabalharem para o capital. Só estamos nos esquecendo de que as formas de trabalho também estão mudando, talvez não haja espaço para indivíduos incapazes de questionar e de pensar criativamente.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Pois bem, o plano de governo do tal Zema era claro. Vamos analisar alguns pontos:</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> ● É necessário trazer soluções do sistema de ensino privado às escolas estatais; </span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">De que tipo de soluções estamos falando? Como a escola privada se equipara às escolas públicas? </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> ●Conferir maior liberdade às escolas e aos indivíduos, priorizando apenas conteúdos
básicos essenciais, como português e matemática; </span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">O que acontece é o inverso, pois o governo implantou um sistema unilateral, onde não há conversa com a entidade escolar. Quando ele diz que a escola e os indivíduos precisam de liberdade, ele quer relegar a responsabilidade e a maturidade para realizar escolhas na educação à crianças e adolescentes. Quando ele diz "priorizar" português e matemática, propõe uma estrutura de ensino que forma operários capazes de ler, escrever e somar, não de pensar criticamente e tomar escolhas conscientes de seus direitos e de seu papel social;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">● Quanto menor a interferência estatal, melhor é o desempenho das escolas; </span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Está claro! privatização escolar!</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">● Realocar de forma inteligente os recursos, a fim de aumentar o resultado médio do
estado no desempenho educacional; </span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Podemos entender aqui, depois de tudo o que foi dito, que a intenção é a de realocar investimentos para o domínio privado, ou seja, privatização!</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> ● Os alunos devem ter maior liberdade no aprendizado; </span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Aqui sugere que o aluno não precisa estar no espaço escolar e deve ser o seu agente da aprendizagem, ou seja, ensino a distância para crianças e adolescentes;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">● A carreira dos professores deve ser pautada por indicadores de desempenho e
satisfação dos pais; </span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Agora serão os pais "profundos conhecedores das teorias educacionais" que avaliarão os professores, se não gostarem do que acham que deveria ser o ensino, podem dar nota zero para a escola e para o professor;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">● Os diretores devem ser escolhidos tecnicamente; </span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Eleições indiretas e indicadas pelo governo;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">● Ensino rural personalizado e de qualidade com a utilização da expertise e da
capilaridade de entidades públicas e privadas;</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Dinheiro público para a esfera privada.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Portanto, se você é professor de escola pública e votou nesse indivíduo, é no mínimo desinformado.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Pois bem, as coisas iam vindo de mal a pior, professores sem receber, sem direitos, muitos em greve e outros também caminhavam para a greve, quando no dia da paralisação, dia 18 de março, entramos todos em quarentena por causa do Covid-19. Depois de dois meses, sem que houvesse uma conversa com as escolas, os professores, os pais, ninguém que interessasse, o governo de Minas determinou a volta às aulas. Nem mesmo os diretores estavam cientes de tal decisão, vindo saber através da imprensa. Então, na segunda feira, botaram aulas na internet, na televisão, fizeram apostilas terríveis e mandaram que os alunos imprimissem, e recomeçaram as aulas. Mandaram que alunos e professores acessassem um aplicativo que não tem nada e pronto. Teoricamente, os alunos da rede estadual estão tendo aulas. Os professores não possuem um canal de comunicação, não receberam informações, só foi escrito que o aplicativo teria uma nova funcionalidade para essa comunicação com os alunos, o que não aconteceu. Resumindo, o professor e a escola são desnecessários nesse sistema de educação online, embora tenham que fazer relatórios de suas atividades inexistentes por falta de orientação e estrutura.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">O problema é que os profissionais da educação são obrigados a criarem alternativas para entrarem em contato com os alunos e tentarem oferecer o mínimo de auxilio possível, mas muitos também não dominam as ferramentas da internet e nem tampouco possuem os contatos de seus diversos alunos de diversas classes. Alguns disponibilizaram seus números pessoais para entrarem em contato com os alunos. O que isso quer dizer?</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Primeiramente, o professor está sendo obrigado a criar recursos, gastar sua internet, e principalmente, perder sua privacidade e doar todo o seu tempo para o trabalho, ou seja, o professor passou a pertencer ao trabalho, não mais apenas aquelas horas que foram designadas. O problema é que, a partir do momento que o professor cria essa prática, ela torna-se regra. Mas, além de tudo isso, é clara a impossibilidade de que a maioria dos alunos tenham acesso a internet, às informações, e administrarem seus próprios estudos, como querem. O IBGE diz que 30% dos domicílios não tem internet no Brasil. A realidade é ignorada.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Os poucos que possam ter essa possibilidade e essa capacidade serão beneficiados, enquanto que os outros continuarão onde estão.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">E, conspirando, imagine se daqui a algum tempo eles "comprovem" que esse sistema foi efetivo, o que será que acontecerá com a educação? Qual será o motivo para continuar gastando dinheiro com prédios e funcionários se a educação pode ser feita em casa, pelos pais, enquanto que os fundos vão para organizações privadas que ficarão a cargo de gerir a educação?</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">O governo comemora mais de um milhão de visualizações nas videoaulas. Parabéns.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Enquanto os professores, que outrora foram chamados de sábios e mestres, perdem a dignidade, a privacidade e o tempo de vida, ganhando uns míseros reais, a educação de nossos filhos caminha por uma estrada escura, igual aos tempos em que vivemos. Está na hora de se ligar!</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
Luciana Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/17904001194241044606noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5007988281884718334.post-68661825508628498282020-04-30T19:29:00.000-03:002020-04-30T19:29:30.569-03:00Sou uma velha caquética e cansada<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiM7ftROMrSUbyQVK16EdCeE6dMhLSRJ20a_H83MEGFIw_A5MgK88QQcAIWa75mB4Yij_nHcgKfCERtlEd34QEfJRAFINwptkOhsRw-n_rr0GqCM6cNVVPEV4G5jBTDOTnh-PORgGzcyto/s1600/dona+neves.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1343" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiM7ftROMrSUbyQVK16EdCeE6dMhLSRJ20a_H83MEGFIw_A5MgK88QQcAIWa75mB4Yij_nHcgKfCERtlEd34QEfJRAFINwptkOhsRw-n_rr0GqCM6cNVVPEV4G5jBTDOTnh-PORgGzcyto/s320/dona+neves.jpg" width="267" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Os velhos sempre temem o presente pelo futuro e idolatram o passado,</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Dormem no travesseiro da juventude e descansam na cadeira da infância.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Os velhos temem as novidades e os novos modos de vida,</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">que sempre são novos depois que crescemos.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Os velhos e os jovens, insatisfeitos, sonham com uma realidade que os agrida menos,</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">que os conforte, uma realidade mais sabida.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Sinto-me velha. Sinto-me exausta.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Não é por causa da quarentena que nos confinou, não é por causa da ignorância que nos assola;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">não é por causa do número de coisas e gentes,</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">não é de hoje que estou velha.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Aterrorizam-me o presente e o futuro. Sinto muito ódio. Ódio do que vivemos.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Tenho vontade de pegar uma carroça e ir para um tempo em que a internet era uma ferramenta,</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">não matéria mais importante que água. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Não suporto mais ver todos acoplados a seus celulares, incapazes de defecarem ou lavarem um prato sem segurá-los ao mesmo tempo; parece que ninguém tem paz na vida, todos estão em constante busca,</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">todos estão drogados, e procurando mais e mais pela droga.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Por que ninguém consegue mais sentar-se consigo mesmo, ou com o outro, sem pensar em recorrer ao aparelho?</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Por que a memória ou as suposições tem que ser o tempo todo interrompidas e reafirmadas por mídias cibernéticas? Tudo é desculpa para um naco de droga.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Sou velha porque também já fui drogada. Já perdi no mínimo uns cinco anos da minha vida dependendo da internet para levar o meu dia. Fui encantada com as possibilidades de comunicação, entretenimento e de conhecimento, mas fui inundada pelo lixo. Há anos em minha vida dos quais não tenho lembranças; estava viciada na frente de uma tela.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Preciso de cuidado. É muito fácil, mesmo sendo velha, sucumbir a uma droga tão poderosa, que traz e dá tudo, ao menos é o que pensamos. Quando vemos, já estamos deixando os "fatos pelos acontecimentos".</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Profundidade e intimidade carecem de tempo, atenção e ócio. Estamos cada vez mais distantes do mundo real, o "de pegar", e gostamos disso.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Sou uma velha e tenho ódio. Ódio porque não posso controlar e temo ser obrigada a sucumbir ao vicio por causa da luta solitária. Ou viro uma velha ermitã que quando morrer, não deixará nada escrito, a não ser essas tolas e "inlidas" palavras nesse tolo e ultrapassado blog.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">E, mesmo longe de nossos trabalhos e das ruas, a mudança é pouca, porque não estávamos lá. E não sei se algum dia voltaremos.</span></div>
<br />
<br />
<br /></div>
Luciana Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/17904001194241044606noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-5007988281884718334.post-17844362192682526392020-04-09T14:31:00.001-03:002020-04-10T20:41:48.877-03:00A memória é que salva<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: justify;">
<img alt="Desfile de Moda - Incêndio Hotel Pilão MG | Kickante" src="https://www.kickante.com.br/sites/default/files/styles/campaign_pitch_image/public/financiamento-coletivo/pitch/desfile_de_moda_-_incendio_hotel_pilao_mg-544060.jpg?itok=BT_-bHld" /></div>
<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><b>A memória</b> tornou-se assunto favorito, especialmente nos meios acadêmicos, sendo atribuídos a ela diversos objetivos e funções individuais e coletivos. As experiências que vivenciamos são responsáveis por "formatar" a espécie de ser humano que somos e seremos, assim como também fazem as <b>memórias coletivas</b>, ou seja, as histórias que ouvimos contar, os discursos existentes em nossa sociedade são responsáveis por criar identidades individuais e também coletivas, nos oferecem motivos de engajamento, sentimento de pertencimento, sentido de vida. A preservação ou a manutenção das memórias coletivas, são, então, importantes para a composição de valores, para o reforçamento ou fortalecimento das identidades grupais, e para o direcionamento de condutas individuais.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Pelos motivos citados,<a href="https://www.youtube.com/watch?v=Zkn9Ce1yfXA&t=88s" target="_blank"> vídeos como o criado pelo IFMG de Ouro Preto</a> são capazes de nos emocionar por trazerem a tona imagens, as quais jamais vimos, mas que sabemos pertencerem à nossa história, à história de nossos antepassados, nos fazendo, assim, viajar no tempo e nos possibilitando pisar no mesmo solo que "nossa gente" pisou há mais ou menos 300 anos. Esse sentimento, o de pertencer à cidade e de ter a cidade pertencente a nós próprios, é um sentimento muito forte entre <b>ouropretanos,</b> o que pode ser evidenciado pela revolta geral que sempre é causada quando, geralmente alguém que não é da cidade, pixa uma igreja ou um prédio centenário. Eu experimentei esse sentimento quando vi as labaredas consumirem o casarão do antigo hotel Pilão na Praça Tiradentes; sentimos uma dor tão profunda, como se um pedaço de nós estivesse se incendiando também, assistimos, junto aos pedaços que caiam, as lágrimas de dezenas de pessoas que correram para a praça a fim de ver com os próprios olhos a morte de uma parte deles mesmos. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Há acontecimentos que são marcantes, e as imagens que são formadas e reconstruídas a cada momento, quando rememoramos os acontecimentos trazem sempre alguma forma das emoções que experienciamos no momento em que tais fatos ocorreram. São essas imagens reinvocadas que a todo momento reconstruímos, resignificamos, é que nos ajudam a nos manter unidos socialmente, nos possibilitam projetar novas imagens para o futuro, com a intenção de evitar ou de reviver as mesmas emoções, ou emoções que essas imagens introduzidas em nosso repertório imagético e identitário sobre determinadas questões, acontecimentos, lugares e pessoas são capazes de possibilitar.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">A memória nos diz quem fomos e nos impele também para um futuro ideal, baseado em reminiscencias do passado. Embora saiba do papel da memória em minha vida, eu não sou uma pessoa saudosista, como a maioria se torna com o passar do tempo. Na experiência individual, prefiro entender que todos os acontecimentos tem o seu momento, e se consideramos que algum tempo foi ou será melhor, não passa, ao meu ver, da supervalorização de uma memória resignificada de imagens idealizadamente projetadas para o futuro, reconfiguradas por situações do passado, com a finalidade inconsciente de dar significado à uma existência que momentaneamente possa estar sem sentido, ou seja, é a busca do tempo perdido, a busca de uma construção de uma máquina do tempo que nos leve para um tempo alternativo e sem lugar. A memória individual tem tempos diferentes da memória coletiva; a memória coletiva parece ser como uma lenda sobre a origem de tudo, ao mesmo tempo que é o sagrado, a verdade existencial; a memória individual, ou seja, a experienciada e não a aprendida pelos discursos presentes, nos guiam sobre escolhas mais pontuais e nos dizem sobre a identidade construída durante as fases da vida.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Valorizar a memória não quer significar viver de memória. Idealizar um namorico do passado quando tudo parece caótico, teimar em viver as mesmas experiências as quais geraram sensações extremas na adolescência, mas que o corpo atual não suporta, buscar o mesmo padrão de beleza do passado, não aceitar rugas, não aceitar que não há mais tempo para alguns antigos projetos, pensar sempre nas travessuras da infância, chorar pelo tempo maravilhoso nos bailes da vida e se recusar a dançar hoje é viver de memória, é se guiar não através dos aprendizados, mas das sensações geradas pela memória e desejadas como se fossem objetos a serem resgatados.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Não significa, também, e porém, que devamos nos esquecer dos lugares e das pessoas que lá estavam, ou que não tenhamos o direito de revisitar de vez em quando sentimentos nostálgicos e que nos fizeram bem; tudo o que vivemos, nossas memórias, é parte do que nos tornamos, é o que somos. Algumas situações e pessoas continuam em nossos caminhos, talvez para sempre, mas, tudo o mais sai do lugar e tem sua própria estrada e rede de memórias. Talvez esses sejam os principais papeis da memória, o de nos situar em algum lugar e o de nos possibilitar escolher os lugares para onde queremos ir (ou ficar). E assim, rememorando, resignificando as memórias, ocultando-as, preservando-as ou colocando-as em locais especiais, vamos salvando (ou destruindo) a sociedade humana.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
Luciana Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/17904001194241044606noreply@blogger.com1