Sobre o direito à preguiça e a sociedade do cansaço



"A moral capitalista, lamentavelmente paródia da moral cristã, fulmina com o anátema o corpo do trabalhador; toma como ideal reduzir o produtor ao mínimo mais restrito de necessidades, suprimir as suas alegrias e as suas paixões e condená-lo ao papel de máquina entregando trabalho sem trégua nem piedade." Já dizia Paul Lafargue, genro do tal do Marx em O direito à preguiça

Não me considero Marxista, socialista, ou comunista, na verdade ainda não compreendi totalmente e profundamente essas teorias que falam sobre a maneira que o capital deveria ser gerido e o papel do Estado em tudo isso. O que eu sei é que hoje, e desde há muito, nós estamos nos tornando escravos de nós mesmos, de nosso medo da imperfeição e da nossa vontade de ser sempre estimado e super-estimado. Temos medo de não sermos bons o bastante, de que a nossa reputação se destrua rapidamente, com a mesma velocidade que recebemos informações inúteis de todos os lados. 

Mesmo que, teoricamente, a igreja não interfira no Estado (apenas teoricamente, por que, aff, já sabemos), a ideologia cristã que nos impõe a culpa pelo ócio e trata a preguiça como um dos sete pecados capitais, é um discurso que está entranhado em nossa cultura, em nosso ser, em nossa maneira de viver. É um dizer que fala antes de nós e em nós, e que o tal do capitalismo se apropriou exultantemente para nos convencer de que o trabalho é o objetivo e o que dá sentido à vida. "Deus ajuda a quem cedo madruga".

Amigos, não digo que devemos ficar deitados na calçada a espera de esmolas de transeuntes ou do governo, o que eu digo é que não deveríamos nos sentir mal em apenas aproveitar os momentos, desligados dos trabalhos que se dizem produtivos, mas que não acrescentam nada além de stress. Jesus disse "Olhai os lírios do campo". Jesus destruiu o comércio no templo. Contemplemos os lírios! 

Imaginemos que agora, depois de ter lido isso, saiamos para comprar algo no mercado e nos aconteça algo que nos leve a morte, será que estaremos satisfeitos com a vida que vivemos? Será que o tempo foi suficiente e as atenções foram bem divididas? Será que valeu a pena todos os "nãos" que deixamos de falar? O que é desperdiçar tempo, afinal? 

Há um ensaio que fala sobre essa questão, A sociedade do cansaço. Vale a pena refletir sobre essas questões, pois são nelas que nossas vidas estão baseadas, são elas o que dizem o que é importante.

Vamos refletir!

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