Seres humanos: Interesses individuais ou coletivos?


O homem, na concepção antiga de humanidade, nem sempre se viu da mesma forma, nem sempre se sentiu do mesmo modo.  se no período clássico ele se via como parte do cosmo, na idade moderna passou a se ver como centro do mundo, e isso significou grandes mudanças e desenrolares (não estou bem certa sobre a palavra "avanços") de teorias sobre os diversos aspectos sobre a humanidade e a sociedade. Quem sou eu para ficar aqui divagando sobre questões filosóficas? Apenas uma mulher que possui rudimentos de conhecimentos e uma mente a mil por hora.

Pois bem, o homem descobriu a subjetividade de seu mundo, e o colocou aos seus pés e disposição; ele (o homem) não era mais uma parte de um todo, de uma natureza divina, mas era o ser que poderia moldar seu próprio universo. Apesar de já ter criado Deus à sua imagem há milhares de anos atrás, ainda se via  como um ser totalmente impotente diante da incontestabilidade dos desígnios desse Deus e de sua divindade. Na modernidade, passou a ser o centro das discussões sociais, políticas e filosóficas.

Surgiram então as novas definições sobre justiça e liberdade, as concepções sobre Estado também sofreram modificações. O Estado, escolhido para representar e defender as necessidades do povo, deveria cuidar da segurança desse. O homem viveria então sob o intenso medo da morte, e por esse medo viveria em constante tensão. O indivíduo passa a ser visto como anterior a sociedade, e suas necessidades individuais, a auto realização e a experimentação pelos sentidos passam a ser a base do pensamento. Alguns pensadores, influenciados obviamente pelo seu tempo, colocavam seus argumentos sobre a convivência em sociedade, seja defendendo a propriedade, a manutenção da vida, a liberdade ou a igualdade. A individualidade é a base para esses pensamentos, o ser humano se volta para ele mesmo enquanto indivíduo pensante e desejante. 

Pois é, depois vem o tal do Marx, do qual muitos falam, mas poucos leram suas obras inteiramente, inclusive eu. Ele vem com uma nova visão sobre a vida em sociedade, sobre as estruturas sociais e seu funcionamento. As lutas de classes seriam responsáveis pelas mudanças históricas e dessas estruturas, a história se moveria através dessas lutas, ou seja, da insatisfação das classes massacradas, desfavorecidas e subjugadas que decidiriam mudar a ordem da bagaça.

Pois bem, dizer que as classes são diferentes, já significa individualizar. Eu não luto por outras classes, eu luto pela classe a que pertenço, com a qual me identifico, a classe que fornece as minhas estruturas dentro da sociedade. A classe que define a minha individualidade. A classe que me diz quem eu sou. 

O que interessa aqui, não é como as estruturas agem sobre, ou definem o indivíduo, o que interessa nessa breve reflexão, talvez rasa, é sobre  a individualidade, a subjetividade, e sobre como ela interfere nas estruturas.

Quando falamos de estruturas, nos vem à mente algo rígido. Eu imagino um armário, cheio de prateleiras e gavetas, onde as pessoas são colocadas e levam suas vidas com suas rotinas todas definidas e imutáveis. Em cada compartimento estaria uma classe, unida e separada das demais. As camadas de que se concentram na base seriam a estruturan( no sentido de construção civil) que sustentaria todo o resto. Uma hora, essa prateleira não suportaria mais o peso e se quebraria, dando início a uma nova estrutura. O grupo que ali estava assume, então, nova posição, levando o armário todo a se reformular e reconstruir seus compartimentos.  Nessa reformulação, teriam que ser chamados novos carpinteiros que tentariam rever o funcionamento e tratariam da manutenção.Talvez essa seja uma visão um tanto simplista, mas essa é a imagem que me vem.

Pois bem, os desejos do coletivo, digamos, de uma delimitada coletividade,  seriam a base das mudanças históricas, das evoluções e das revoluções, como se existisse algo inconsciente pairando no ar inalado pelos indivíduos de uma classe que a levasse a se unir e a agir em determinado momento; seria um descontentamento geral e unificado e um "nada mais a perder" que levaria a classe a se levantar em busca de uma situação melhor, para as classes em questão, obviamente.

Ninguém quer ser oprimido. Muitos são encabrestados para se sentirem bem na opressão, para não se revoltarem com seu pertencimento a castas inferiores. Mas, voltando à questão da natureza humana, se é que existe a tal essência, seria pertencente ao ser humano, ou natural, gostar de ser subjugado? Ou a maioria não possui capacidade de desenvolver reflexão sobre sua posição e sobre as tais estruturas que os colocam em seus lugares? Ou ainda, quem prefere o pior, o menos, o menor?

Penso que o sentimento de revolta pela repressão, deva ser, antes de tudo, um sentimento individual. Quando um individuo luta por sua classe, ele quer melhores condições para o seu pertencimento, ele luta por seus interesses. O interesse da classe não se sobrepõe ao individual, mas faz parte deste, pois trata-se da identidade do ser individual que é também coletivo. 

Podemos e, ao meu ver, deveríamos desejar uma sociedade justa para todos, com igualdade e paz. E, de acordo com o meu pensamento, a maneira de se conseguir isso, seria tentar oferecer as mesmas oportunidades a todos. Muitos devem pensar como eu, por que parece obvio que, onde há diferenças extremas, há violência, e isso representa um perigo constante para todos os indivíduos. Todos desejam viver em paz e em bonança. São desejos individuais, mas que parecem que só poderão ser concretizados se forem realizados coletivamente. Se vivemos em uma sociedade, com as tais estruturas, com oprimidos e opressores, a felicidade individual parece estar ameaçada pelas desigualdades, e os indivíduos compartilham de sua insatisfação com outros que pertencem ao mesmo lugar.

O que quero dizer com essa breve reflexão é que as classes existem, mas elas não são um ser que se move por si só. As classes são grupos formados por indivíduos com desejos e necessidades individuais equivalentes e fazem parte da identidade desses. Os indivíduos se movem por interesses próprios e das classes às quais pertencem em busca de satisfazer suas necessidades. Indivíduos é que tomam a voz, que insuflam, que convocam a coletividade. indivíduos é que manipulam, que usam da identidade compartilhada para realizar as movimentações, e não alguma força superior e quase sobrenatural. Indivíduos tomam decisões e se revoltam. Indivíduos desejam manter as estruturas e seus privilégios, assim como os privilégios dos que pertencem ao seu grupo.

Talvez eu esteja falando muitas besteiras, e, obviamente, preciso de muitas informações e reflexões. Mas na minha visão, indivíduos fazem a história através de seus interesses e dos interesses dos que fazem parte de seu grupo, de sua identidade, e não algo além ou aquém deles. Tanto, que as mudanças só acontecem através desses movimentos, o das classes, dos indivíduos que agem por seus interesses, interesses de uma determinada individualidade dentre outras.


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