Pequenas lições

Um dia, eu não comemorei a compra de um fusquinha, porque não queria parecer tola aos que me cercavam, quando na verdade, a vontade era a de sair correndo com os meus irmãos, gritando e rindo com o meu pai. 

Outro dia, continuei deitada na cama, acordada, enquanto a família comia a gelatina preparada na véspera, revoltada por ninguém ter me chamado. 

Uma vez, depois de inúmeros ensaios para a festa junina, minha mãe queria sair com o meu pai para algum lugar, mas eu queria muito participar da festa. A minha mãe brigou comigo, mas acabou ficando, eu fui para a festa junina, não aproveitei nada, não comi nada, nem me lembro do que aconteceu, voltei correndo para ver se dava tempo, mas minha mãe já estava deitada.

Uma vez, uma das únicas, minha mãe bebeu e eu não gostei. Alterada pela pouca bebida, me chamou para ver um dos filmes de Bud Spencer e Terence Hill. Lu, está passando os olhos azuis, mas fui malcriada e disse, não quero ver nada, não. Meu coração doeu.

Aposto que ninguém mais se lembra desses momentos, mas eu me lembro. Isso me faz pensar sobre todos os pequenos  momentos em que magoamos a quem amamos, mesmo sem a intenção de magoar, especialmente os pequenos... Momentos como esses podem dizer como a pessoa irá se comportar no futuro, sobre as escolhas que tomará. Eu aprendi que não vou mais esconder minha alegria, embora tenha me tornado mais dura. Decidi também que não vou ficar deitada enquanto todo o mundo come a gelatina. Decidi que as ocasiões, mesmo que não desejadas, podem se tornar boas ocasiões, se formos com esse espírito. Decidi que vou sempre tentar dosar meu desapontamento e entender as fraquezas alheias, esforçando não ser rude quando as pessoas mais precisarem de mim. essa é uma das decisões mais difíceis de serem cumpridas. A lição mais importante é olhar o outro como gostaríamos de ser olhados. Essa eu tento aprender todos os dias.

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