A era dos lindos selvagens

Mim, Tarzan

Durante toda a minha vida eu ouvi expressões como "cabelo ruim", "juba de leão", "vassoura de piaçava", "Bombril", e tantos sinônimos de carga ofensiva para os cabelos crespos e encaracolados, inclusive para os meus, que cheguei a sonhar em ter longos e lisos cabelos esvoaçantes, que não deixassem milhares de fiozinhos elétricos e indomáveis a vista, e que não dessem trabalho ao acordar. Sonhei também em ser Paquita, pintar os cabelos de amarelo e ficar famosa no Xou da Xuxa, como a maioria de minha geração. O estranho é que durante os anos 80 até ocorreu o modismo chamado cabelo permanente, que era a prática de fazer curvas no cabelo com a intenção de dar volume e deixá-lo mais crespo, porém, o que acontecia era encontrarmos um bando de cabelos danificados e sem vida; isso passou rapidinho e os cabelos lisos e nipônicos reinaram nas últimas décadas, o desejo de ter os cabelos da elite fez com que as brasileiras gastassem horas e o seu suado dinheiro em salões de beleza, escovando, pranchando, relaxando, alisando. Ter cabelo de origem afrodescendente significava fazer parte de um grupo marginal, dos pobres, dos escravos, dos feios; ter cabelo crespo era ser inferior.

Cabelos a moda dos anos 80

Nos últimos anos, a tecnologia de alisamento evoluiu tremendamente, diminuindo os riscos e melhorando os resultados. A tal da escova progressiva é o milagre de nossa geração, os seus cabelos saem totalmente lisos, você poderá lavar e fazer o que quiser, não precisará andar com um plástico na bolsa, nem usar sempre blusa com capuz, os fios ficam lisos para quase sempre. O problema acontece depois de três meses, quando os seus cabelos já cresceram o suficiente para denunciar suas origens e vão ficando cada dia mais bizarros. Neste momento, você tem duas escolhas, ou faz de novo a escova progressiva e fica com os cabelos lisos e maravilhosos por mais três meses, ou enfrenta o ridículo de ficar com um cabelo antinatural na cabeça. Você pode também cortar todo o cabelo que contem a química, mas não é fácil ter cabelos curtíssimos para quem não está habituado.

E viva os cachos!

Depois de todo este sofrimento, finalmente as mulheres estão resolvendo assumir suas origens e deixar a tortura, os cachos estão reinando! Isso fez bem para a diversidade, mas além de tudo, faz bem para a identidade desta mulher; ela não precisa ter medo de que todos vejam como ela realmente é, e como os seus cabelos são crespos; ela não precisa mais se olhar no espelho e se sentir em conflito com ela mesma, ela sabe o que é e ama! Ela tem orgulho do seus cabelos volumosos, de seus cachos, de seu poder natural. Longe de ser menos trabalhoso, os cachos chegaram com toda a força, evidenciando um novo tipo de beleza que foi obrigado a se esconder por muitos anos.


Masculinamente falando, o que está crescendo é a adesão pela barba. Apesar de ter saído a notícia na rede de que a barba é imunda e contaminadíssima, até por coliformes fecais (Sinceramente, eu não imagino por que a barba seria mais suja do que os outros  pelos do corpo, incluindo os pubianos, mas...), isso não afetou seu charme e poder. Barba é coisa de homem, de testosterona, por isso tem o seu atrativo. Talvez todos estejam se cansando do tipo que se preocupa mais com a depilação de seu peito do que com a sua parceira; talvez as mulheres estejam preferindo os shakes árabes aos shakes de academia, talvez todos estejam sentindo falta daquilo que temos e não podemos negar, nossos instintos




Apesar de termos a capacidade de pensar logicamente, fazendo escolhas que vão contra os nossos instintos selvagens, ainda somos animais e há coisas que estão além de nossa lógica de homem racional. Isso não é ruim ou errado, somos de carne, osso e hormônios, somos muito mais que queremos e gostaríamos, e muitas vezes, somos selvagens, seja lá qual carga lexical essa palavra possua atualmente. Ser selvagem é gostar do que é verdadeiro, normal e genuíno do ser humano, e não esconder isso. Ser selvagem é deixar os cabelos naturalmente lindos, é ter uma barba linda, e não ter vergonha disso. Viva a selvageria!

Não se esqueça, tudo tem limites!  :)

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