O meu Jesus - será possivel encontrar a paz com com a religião?

Quem é Jesus Cristo para cada um de nós?


Nasci em uma família católica, a minha avó era muito religiosa, tinha um pequeno oratório de madeira no quarto, uma casinha habitada por inúmeras imagens de santos e por terços; ela fazia o lindo presépio durante todos os natais, para o qual triturávamos pedra esmeril e colávamos no antigo papel de embrulho para fazer a gruta do menino Jesus. Usávamos um espelho quebrado para fazer o laguinho dos patos, rodeado por musgos verdes que iam se amarelando até o natal; em sua casa também existia o quadro de Santa Luzia, a sua xará, que carregava no pratos dois olhos. A minha avó rezava o terço todos os dias, de manhã e antes de dormir, e ficava beijando os santos fazendo um "tsc tsc" de longe. Sempre frequentava às missas e beijava a sagrada fita da imagem do corpo de Jesus, com bactérias e vírus seculares de milhares de fiéis beijoqueiros. Eu questionava o amor aos santos de argila e plástico e sua reza sem atenção. Ela me chamava de herege. Muitas vezes fui com ela à missa, por que não tinha permissão pra sair para outros lugares. Eu me apaixonei por um coroinha e sempre ia vê-lo. Ria-me quando as velas começavam a queimar os cabelos na procissão e quando a minha avó colocava notas do século passado nas cestas das oferendas, e por que era proibido rir, as risadas eram incontroláveis. Nunca me confessei, nunca comunguei, e nunca quero me confessar, já não basta o psicólogo.

Conheci a inquisição, o Concílio de Trento, as cruzadas; conheci o islamismo, o hinduísmo. Conheci o etnocentrismo, a misoginia e outros "ismos". Conheci Antônio Conselheiro, conheci Inri Christ, Hitler, Osama Bin laden, Gandhi, Mohamed.

Percebi que alguns homens precisam desesperadamente de um conforto, uma certeza, apenas disto. Outros homens precisam desesperadamente do poder, e fazem qualquer coisa por este. Um casamento perfeito. Criaram - se as religiões, mas a luz não se fez. Os tolos aceitaram todas as verdades, e aceitaram que estas seriam as únicas verdades inquestionáveis. Perfeito! Então, Alguém disse que Deus soprou em seu ouvido os milagres e as leis, ele era o único iluminado. Outros reuniram as partes que os interessavam para um livro sagrado. Através disso,todo o amor e tolerância pregada nos livros foram esquecidos e por estes mesmos livros bilhões de inocentes foram mortos, por que na verdade, os livros serviram apenas para legitimar atos que vão contra qualquer Deus que se possa existir.

Uns crêem que o homem é a imagem de Deus, mas na verdade, são tão vaidosos que a sua crença é a de que Deus só poderia ter a imagem de um homem. Um homem, um pai amoroso, mas severo, capaz de punir com o inferno os seus filhos que não obedecem ao livro. Conveniente.

Outros crêem em vários Deuses com diversidades de qualidades e poderes, e com histórias muito peculiares. Poucos supõem que tudo depende deles mesmos e que Deus é um todo conectado e incompreensível, mas que precisa ser harmonioso.


A imagem de Jesus que me apresentaram era a de um filme de terror, um homem todo ensanguentado, morrendo na cruz. Disseram que ele morreu para nos salvar, até hoje essa teoria não me entra na cabeça. Eu acho que a humanidade não está salva e a morte dele não faz sentido algum. Além do mais, que Deus é esse que manda um cara, que dizem ser seu filho, espírito santo, seja lá o que isso for, e também o próprio Deus, para ficar pregando aqui e depois ser torturado e brutalmente e morto? Isso é Deus? O que isto nos ensina? a morrer sem reclamar? A aceitar o destino e sermos miseráveis? Vai se catar!

Essa teoria também alimenta o antigo sistema de castas, o conformismo e o sofrimento como sendo necessários para uma purificação. O Islam não prega tal conformismo, mas para eles, a vida começa mesmo é depois da morte, onde vão para um paraíso maravilhoso. cheio de riquezas e virgens. Usando tais argumentos, muitos instruíram os seus discípulos a matarem, se matarem, destruírem em nome de seu Deus, por que a morte, ah, essa seria maravilhosa! Seriam recompensados e iriam direto para a bonança!

Não quero dizer com isso que todos os cristãos queimaram mulheres, ou que todos os muçulmanos são terroristas, de maneira nenhuma! Apenas é verdade que o radicalismo alimentou muitas tragédias usando a religião como escudo. A religião não é má, o que é mau é uso inadequado que fazem dela. A religião nos conforta e nos dá esperanças de que algo possa ser melhor nessa tormenta em que vivemos, mas o seu poder corrompe os que possuem o dom da lábia, ou estes, já corrompidos, corrompem as religiões.


Não sou católica, mas creio em Jesus. Creio que Jesus tenha existido. O que não creio é que ele seja uma espécie de filho de Deus; não creio que ele tenha aceitado morrer e não creio nas religiões que fizeram usando seu nome. Creio que ele era um homem iluminado e culto, e que tinha uma visão otimista e sonhadora sobre a humanidade. Talvez ele possa ter sido como um desses caras "malucões", cheio de amor e uma excelente retórica. Assim como Gandhi, tinha qualidades excepcionais, mas tinha muitas fraquezas em sua vida pessoal. Eles eram homens iluminados, mas eram homens.





Creio que Jesus não iria gostar do que fizeram em seu nome. Creio que suas palavras foram totalmente distorcidas. Creio que ele tenha dito coisas maravilhosas.

Há uma teoria sobre sobre Jesus ter vivido na Índia, super interessante. Segundo esta teoria, estes anos de sua infância e adolescencia, sobre os quais, nada se sabe, ele teria passado na Índia e arredores, se instruindo com budistas. Faz algum sentido se analisarmos suas mensagens de paz, amor e igualdade. Se é verdade ou não, difícil sabermos. Mas prefiro crer neste Jesus, homem da paz e do amor, do que neste filho/Deus/espírito santo, quebrado e ensanguentado, com o rosto de sofrimento e dor.


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