Os pesos que carregamos - como encontrar equilíbrio mental e espiritual?

Estamos sempre em busca do equilíbrio em nossas vidas, mas deixamos que algumas coisas vão nos tirando a paz de espírito ao longo de nossas jornadas.

A maioria das pessoas vão carregando consigo os pedaços que a vida lhes foi arrancando, colocam tudo dentro de uma sacola e vão remoendo e regurgitando tudo a todo o momento, e a cada passo, se tornam mais pesadas e sombrias. O passado não as deixa e elas não conseguem mais se abrir para o novo, sentem que já conheceram tudo e as conclusões negativas que tiraram sobre a vida, sobre as pessoas e sobre os acontecimentos, já são mais que suficientes para que não mais acreditem em um futuro melhor. Essas pessoas são facilmente reconhecidas pelos seus rostos desanimados e descrentes, pela falta de energia e de vontade, pela inexistência da vitalidade, pela incredulidade.

Outras pessoas não carregam consigo as feridas causadas pelos acontecimentos, estas são visivelmente mais leves e brilhantes, são joviais por que são como os jovens, não cultivam chagas e ainda acreditam em todas as possibilidades e todas as chances, são felizes e crêem na humanidade, são leves como plumas. Estas pessoas, que não se deixam enrugar-se pelas dores, sempre convivem melhor com os mais novos, por que ambos vêem a vida com esperança e entusiasmo; estes poucos ainda não se deixaram contaminar pelo peso do passado.

Não há nada que mude mais uma pessoa do que o sofrimento, sobretudo o causado por paixões arrebatadoras. Quando um indivíduo coloca toda a sua existência condicionada a um sentimento e espera ter a mesma correspondência, corre o grande perigo de se machucar de maneira a não conseguir se recuperar jamais. Com toda a sua ingenuidade, crê piamente que sua vida depende daquele sentimento e daquela pessoa, e a partir dali, não consegue enxergar a sua existência e o seu futuro de outra forma, porém, quando as coisas não acontecem como se havia sonhado, a dor pode ser insuportável. É quando pessoas maravilhosas, puras e inocentes se tornam sombrias e incapazes de dar alguma coisa, por que tudo o que tinham de melhor foi investido em algo que não existia. A partir deste momento, não é mais possível que haja a doação sem barreiras, sem fronteiras, por que esta pessoa se encontra irremediavelmente destroçada, incapaz de crer no que a havia motivado a se doar. Agora ela é apenas uma carregadora de passado, sombria e triste. Algumas vezes, a pessoa carregadora de seus fardos tenta ferir alguém da mesma forma  que foi ferida, outras vezes, abre mão de todo e qualquer prazer que possa vir a viver por medo de que sofra novamente; muitas vezes se fecham totalmente, não deixam nada nem ninguém entrar.

O erro destas pessoas não foi o de doar o que tinham de melhor; O erro não foi ter escolhido o momento ou a pessoa errada para se darem por inteiro; o erro foi pensar que exista apenas uma forma e uma maneira de viver, fazer planos sozinha, idealizar algo que sequer existia. Não foi o outro quem as destruiu, foram elas mesmas, deixando que os delírios tomassem suas vidas, fazendo destes delírios, suas vidas. A vida é muito mais que isto, e esse foi o erro. 

Depois que passamos a carregar nossos fardos, dificilmente nos acostumaremos a viver sem eles. Mas não é impossível que aprendamos a querer e a viver de outra forma, priorizando coisas que sabemos ser mais duradouras em nossas vidas, e principalmente, enxergando o que existe, não o que queremos. Talvez possamos ir jogando alguns pedaços fora, e criar uma nova maneira de sermos felizes. Talvez possamos ser jovens e leves de novo, nem que seja só um pouquinho.

Comentários