Eteviana

Ela nunca pensou na possibilidade de presenciar tais comportamentos, comportamentos que desafiam a lógica imposta pela sociedade durante o resto do ano. Eteviana já tinha se recuperado de sua última aventura, a sua pesquisa de campo obteve resultados cedo demais! Aquele rapaz na danceteria havia lhe deixado marcas inegáveis dentro da sua imatura alma! Por que ela não teve coragem de ir lá falar com ele, por que não continuou a compartilhar daquele entusiasmo natural que surge quando dois seres se encontram em um olhar, e se unem em um mesmo pensamento e sentimento? Ela não sabia responder, ou melhor, sabia sim: Teve medo.


O tal "Carnaval" estava chegando e ela não sabia bem o que era, tinha informações extraídas de relatos entusiásticos, cheios de excitação e também de fotos e arquivos encontrados nas mais variadas fontes.Ela não compreendia o que havia nesta festa que fazia com que a maioria das pessoas de um imenso país criassem tanta expectativa. O que havia de tão maravilhoso? Eteviana iria presenciar o ritual mais potente que acontece no Brasil.

As suas amigas, objetos de pesquisas, usavam shorts que haviam comprado exclusivamente para aquela ocasião, estavam maquiadas exageradamente, usavam alguns acessórios estranhos, como máscaras coloridas, chifres, penduricalhos e levavam bastante dinheiro para consumirem o maior número de bebidas alcoólicas possível. A euforia das meninas chegou a contagiar a etezinha, ela também se ornamentou como as amigas, mesmo não compreendendo e não se sentindo à vontade com a caracterização.

Eteviana nunca viu tanta gente pelas ruas! E era gente de todos os tipos, tamanhos, cores, fantasias, estilos e esquisitices, mas todos eufóricos e a maioria, bêbada.Era incrível como os rostos estavam transformados! Como podia acontecer aquilo? Pessoas tão sérias estavam com as feições irreconhecíveis! Todos falavam com todos, todos dançavam pela noite inteira e todos davam gargalhadas! O estranho é que o clima que ela sentiu na danceteria, estava centenas de vezes ampliado nas ruas! Os olhares, os lábios, as mãos, os corpos, não paravam de se comunicar. A liberdade que se tinha de se relacionar era incrível!

Eteviana queria apenas observar aquele ritual mágico, fazer as suas anotações costumeiras e respirar um pouco daquele clima, mas, nao conseguiu escapar! De repente, um rapaz fantasiado de vampiro lhe pegou pelas costas e ficou pulando com ela no meio da multidão, ela nao soube como reagir àquele assédio! Com custo, conseguiu se desvencilhar do ousado rapaz, mas ao se virar para as amigas, outro rapaz veio em sua direção tentando lhe roubar um beijo. As amigas, cientes da inexperiência da pobre alienígena, vieram logo em socorro e conseguiram salvá-la do abusado. A pesquisadora teve que se esquivar muitas e muitas vezes, e já estava ficando cansada de tanta agitação e extrapolação hormonal. Os seus olhos tiveram em uma noite tantas visões inacreditáveis que valeriam por uma eternidade! As pessoas pareciam loucas! Se beijavam, bebiam exageradamente, se tocavam, davam vexame, urinavam e defecavam em qualquer local,como se fossem animais. Ela estava muito confusa, não sabia dizer se aquilo tudo era bom ou ruim, era muito estanho! Era primitivo, instintivo, animal!

Depois do primeiro dia de Carnaval, Eteviana decidiu que já tinha provado o bastante daquela magia, se enterrou dentro de casa e ficou aguardando o fim do mundo.

Comentários

  1. Pois olha que nesse caso sou tão alienígena quanto a Eteviana. Provei por muitos anos a experiência primitiva dessas festas, mas me cansei rápido demais. Tranquei-me como ela até a festa passar! Kkkk...beijos! Adélia Carvalho

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